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1072 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 59

Só na metrópole se despenderam 3 500 000 contos em construções escolares e no ultramar não é menor o ritmo (Dr. Leite Pinto, Da Instrução Pública a Educação Nacional, p 26), trabalho em que conclui, finalmente

Só construiremos o futuro dignamente dando a todos os portugueses uma larga educação de base e tomando possível, por selecções sucessivas em todo D povo educado a escolha do lugar que a cada um deve competir com vista ao bem comum - ao bem comum da Pátria Portuguesa, de aquém e de além-mar

É preciso que o ensino inverta os sinais e, em lugar de por exemplo, o 2.º ciclo constituir, como alguém disse uma «secção de empacotamento de cultura»
sobrecarregado com matérias que não passam de impecilhos que desgastam energia e tempo, se determine no sentido das realidades úteis e capazes de melhor valorizar os jovens e servir o bem concreto e os homens situados num mundo doloroso a dominar.
O liceu deveria preparar somente para as carreiras especializadas de nível universitário e a cultura geral surgiria mais facilmente se o aluno libertado encontrasse na escola um apoio cultural humanístico em que colaborasse activamente com os professores em sessões culturais envolvendo palestras, projecções, etc , versando as insondáveis riquezas do pensamento humano, da vida o do Mundo.
Mas mais ainda e também preciso que exista uma preparação gradativa, o que nem sempre parece existir se virmos, por exemplo, o que se passa com as Matemáticas na Universidade do Porto onde, entre Julho e Agosto do ano anterior, foram obtidas 18 por cento de aprovações ou seja 82 por cento de reprovações.
Ora não creio que os alunos perdessem bruscamente capacidades. Qual é, pois, o significado deste sintoma?
Julgo que se desvirtuou na mente de alguns o sentido da missão social da escola, que é de preparar homens para a vida, e para tarefas sociais e profissionais que interessam mas ao rumo da Pátria que o julgamento abstracto do saber em termos de ciência pura. A escola destina-se essencialmente a realizar e promover valores humanos e o juízo eliminatório deve possuir uma feição prudentemente confiada e incentivante, porque onde se revelam os valores positivos é no diálogo com as exigências da vida, e não no artificioso e precário condicionalismo dos exames.
E não esqueçamos este facto permanente e sério como o ensino é oneroso, muitos jovens são eliminados do nível para que tinham capacidade quando poderiam vir a constituir mais sólido alicerce do edifício social.
Era preciso gravar em todos os frontões escolares que o ensino só tem a finalidade de fazer que cada homem, dentro das suas virtualidades, seja eficazmente ajudado a realizar-se o mais generosamente possível.
Sr. Presidente: O curso da nossa gloriosa tradição histórica colocou-nos diante de uma falésia que é preciso transpor.
Como montanhistas que cavam mais fundo na rocha os degraus de suporte, utilizemos tudo o que existe e é bom e sólido.
De mãos dadas, em espírito de profunda coesão e fraterno entendimento, arranquemos cada dia melhor e com renovado e mais veemente entusiasmo.
Deixemos para trás o pó da rotina, pior que o dos cemitérios, porque esse foi sagrado pelos mortos.
Comecemos por reanimar o esplendido corpo que já existe. Para além do que é preciso ainda fazer, impõe-se como medida de economia humana e administrativa, utilizar a fundo tudo o que já é realidade promissora.
Esqueçamos as piscinas sem água, os pavilhões gimno-desportivos sem bulício, porque, enquanto estes estão silenciosos e tranquilos, se enchem os café e os filmes duvidosos são avidamente absorvidos.
Com o seu lapidar espírito de síntese, o Sr. Presidente do Conselho lançou um dia esta alternativa profundamente séria

Ou refazemos a vida, refazendo a educação ou não fazemos nada de verdadeiramente útil.

Mais que nunca esta frase é actual no momento da história em que estamos empenhados a fundo, simultaneamente numa frente externa militar e numa frente interna de progresso económico e técnico impossível sem a potencialização do elemento humano.
Não podemos optar senão pela segunda alternativa, mas temos de o fazer
urgentemente, sem delongas e sofísticas burocráticas, sem demissão de sacrifícios e esforços, mas com o espírito sempre novo e sempre fecundo que é o de uma verídica devoção ao próximo e ao bem comum postos acima de quaisquer outras razões ou motivos.
Nesta geratriz dinâmica pensamos que algumas soluções de arranque vão ser necessárias e desejamos que surjam impostas pelo Estatuto da Educação Nacional, em preparação.
E se o problema inicial é o da carência de professores de todos os ramos, porque não repetir a válida experiência da Inglaterra?
Compelida pelos seus problemas, criou escolas normais de urgência, que permitiram formar, durante um ano de trabalho intenso, professores de nível normal. Recrutou, assim, 30 000 professores com tão bons resultados que se mantém o sistema como processo normal de prospecção.
Os liceus normais, com a sua frequência sempre a diminuir, apenas preparam cerca de um quarto dos professores necessários, as escolas de magistério um terço e as de ensino técnico cerca de um sexto das necessidades sempre crescentes.
Ora, não podendo nós continuai dependentes das reduzidas escolas que possuímos - de magistério primário, liceus normais e escolas técnicas - , não seria possível constituir um núcleo do mesmo tipo e função?
Como não funcionaria sem candidatos, impunha-se simultaneamente rever a situação do professor no aspecto económico, social e psicológico.
Supomos que seria possível incentivar o interesse e melhorar o rendimento escolar se, como acontece no Ministério do Exército, os professores e mestres ou auxiliares que dessem provas de maior capacidade e dedicação ao ensino fossem destacados por ocasionais prémios e louvores.
Se tudo os bons professores fazem para estimular os alunos e se os melhores recebem louvores e prémios, e podem, mesmo, conseguir bolsas de estudo, porque não tornar esse benefício extensivo ao corpo docente se não com a oferta de bolsas de estudo, ao menos com a atribuição pública de prémios e louvores?
No ensino primário já a ideia está em marcha, e nos instituto franceses em Portugal são oferecidas bolsas aos alunos mais classificados para nem a França realizar cursos de férias.
Chegar ao fim de um ano esforçado e sentir, assim, o prazer espiritual de um reconhecimento seria um estímulo fácil e construtivo