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20 DE JANEIRO DE 1967 1073

Sem esta simples e não onerosa medida, o mérito continua a Ter como único prémio um dobrado lote de canseiras. Mas se já seria justo destacar a autêntica e sacrificada vocação do trabalho rotineiro pelas distinções honoríficas e prémios, porque não elevar mais longe certos casos especiais e chegar à concessão de bolsas de estudo e aperfeiçoamento para os melhores?
Em Hamburgo existe um instituto onde de cinco em cinco anos, os professores de escolas primárias e liceus buo chamados para aperfeiçoamento e afundo da adaptação psicopedagógica às exigências mutáveis e crescentes.
Sem esquecer as valiosas instituições existentes, esperamos que a, investigação científica e a pesquisa técnica, que são os motores dos países da, vanguarda, ocupem também o lugar que lhes compete na promoção económico-social do País.
Que as camadas jovens, em cujas mãos esta o futuro, sejam chamadas à carreira do magistério pelo estabelecimento da simplicidade de acosso e garantias de vida compensadora.
Que surja um plano geral de organização e ensino verdadeiramente coordenador, com reformas de base, e não com mais sobrecarga para professores e alunos, e feita de sucessivas medidas fragmentárias e insubsistentes que o presente já não consente.
Para uma campanha de educação nacional, porque não aproveitar a maturidade dos jovens desmobilizados, durante o período de possível desemprego, com os seus riscos de inadaptação social e emigração, para constituir com eles núcleos regionais para prolongar como uma milícia de paz, o esplendido exemplo de preparação artesanal o agrícola que o Exército tem desenvolvido no ultramar?
Assim lhes prestaríamos uma homenagem e uma ajuda psicologicamente útil para o seu inevitável desenraizamento e um apoio na transição da vida, mas que revestiria plenamente em benefício na Nação.
Auxiliar o ensino particular nas zonas pobres e difíceis do País, compensando a sua não rentabilidade, de modo a estimular a sua multiplicação. Em tudo caminhar modesta, mas francamente, para o critério não sumptuário das construções, que deveriam ser simples, alegres e funcionais.
Criar bibliotecas públicas anexas às escolas e como prolongamento da sua função.
Finalmente, desenvolver uma ampla política social de promoção do acesso da juventude à cultura, único modo de valorizar as potencialidades humanas e elevar o nível do bem-estar social comum.
E esta política deveria começar na primeira infância, com o recomeço do ensino infantil oficial (entre os 4 e os 7 anos), que prepara as faculdades das crianças para o ensino primário, enquanto as protege dos inumeráveis perigos da rua numa idade essencial par a formação da personalidade da criança.
Somente poderei aludir à obra notável dos Jardins-Escolas de João de Deus, obra que se perde como rebento de árvore na vastidão da torrente. A escolaridade gratuita, obrigatória e prolongada impõe-se como realidade existente em todos os países de vanguarda.
Há ainda o grave problema da criança inadaptada e psìquicamente diminuída, cuja protecção entre nós está em incremento, com algumas instituições médico-psicodagógicas oficiais em Lisboa, e no Porto com uma clínica psicopedagógica em desenvolvimento e fortemente apoiada pelo Ministério da Saúde e Assistência e instituições várias, entre as quais se destaca a Fundação Gulbenkian mas que nada representam em relação ao volume do problema.
Tendo já tratado deste assunto candente em intervenção anterior, direi agora somente que, por inferência estatística, é de presumir existirem entre nós cerca de 100 000 crianças carecidas de assistência médico-psicopedagógica, cujos resultados uma experiência de sete anos me diz ser notavelmente compensadora.
É de desejar que se multipliquem todas as medidas já existentes de protecção à juventude, como são as residências, lares, cantinas, associações, clubes, convívios e múltiplas actividades culturais e desportivas, tudo com a finalidade de tornar a escola apetecível e removedora e proteger a juventude, cujo dinamismo não ordenado se desencadeará de outros modos. Porque o jovem é sempre um potencial dinâmico e se desorbita e entra em conflito, é porque a falta de ideal do adulto, os seus conformismos burgueses, o desgostam e afastam como desencadeadas energias turbilhonares.
Daí a imensa responsabilidade do adulto que deve ser o arquétipo que permita a identificação do jovem ávido de indecisos ideais.
Se as exclusões de alunos podem chegar a 60 e mesmo 80 por cento, é por carências do meio perturbador e do ensino em série, e não por degenerescência de uma mocidade que nos exalta e honra quando dela precisamos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Porque não uma censura de espectáculos e livros que a proteja da inundação de corrupção com ouropéis de modernidade, mas que não oferece achados para além das novas cambiantes do escândalo?
E, pelo contrário, porque não se galardoam oficialmente as editoras que pugnem pela difusão do livro formador de almas nobres e úteis cidadãos?
Se soubéssemos e quiséssemos erguer uma barreira de alegria saudável em volta da nossa juventude, poderíamos encaminhar os seus impulsos generosos para fins superiores de interesse humano.
Porque não retomar a Mocidade Portuguesa, como felizmente foi anunciado e reanimá-la de modo a reforçar a sua finalidade de órgão capaz de impulsionar uma mais forte consciência cívica ao serviço dos valores cristãos e melhorar, assim, uma mocidade abandonada a si própria?
E como as suas mãos sustém a matriz da história e a sua tensão dinâmica é a flecha que parte, a nós pertence imprimir a boa direcção ao clan criador que irá prolongar, no tempo, as fronteiras da Pátria.
Sobre a juventude pesa a terrível responsabilidade de se preparar para viver num mundo que o poder da técnica e a desorientação dos homens tornou terrivelmente complexo e perigoso. Um dia terá de o defrontar para o dominar ou por ele ser subvertida. Mas hoje essa responsabilidade antes de lhe ser entregue é facho que está em nossas - talvez distraídas - mãos.
Todo o esforço já realizado de promoção do ensino tem de continuar infatigavelmente para os manter no ritmo da nossa existência histórica.
E assim deverá ser por pressões de convívio internacional, e por sermos herdeiros de uma epopeia de séculos mas também para nos mantermos dignos dessa magnifica juventude que se bate e morre pelo futuro de uma pátria comum que, trabalhando ou morrendo, todos somos chamados a servir generosamente.
É alentador assistir ao esforço que o Governo está a realizar e que as despesas com a educação e assistência têm sido revigoradas sucessivamente. Isso dá-nos a certeza de que a solução virá, mas quanto mais rápida e realística melhor, por se tornar mais económica e rentável.