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20 DE JANEIRO DE 1967 1069

Como disse Leonardo Coimbra, já em 1910

A educação deve dar o homem a si mesmo, à família, à humanidade, ao universo

E o filósofo Lavelle,, a propósito das relações com o outro (observação que constitui raiz dinâmica da verdadeira educação), observa

O maior bem que podemos fazer aos outros não é o de lhes comunicar a nossa, riqueza, mas o de lhes revelar a sua

E toda a orientação educacional que não utiliza linha de dinâmica interior criadora, ou qualquer programação geral que a desconheça, representa um prejuízo humano e social incalculável, por ser contrário à verdadeira natureza psicológica do homem.
Na «Declaração sobre a educação cristã», de Paulo VI, promulgada pelo Concílio, é afumado que todos os homens têm direito à educação que responda à vocação própria e à necessidade intrínseca que o homem sente de se valorizar e, realizar. Assim

Os homens com uma consciência mais aguda da sua dignidade e da sua responsabilidade desejam, com efeito, participar cada dia mais activamente, na vida social, sobretudo na vida social e política (Preâmbulo)

Por isso se verifica o duplo fenómeno de explosão escolar (dependente, é certo, da explosão demográfica) e o prolongamento da escolaridade obrigatória nas nações mais evoluídas.
As novas gerações através de perigos cada vez maiores, procuram cada vez mais esforçadamente dominar o seu destino.
E a educação é o caminho para essa indispensável maturação espiritual no promover o desenvolvimento harmonioso da humanidade com todas as suas aptidões físicas, intelectuais e morais.
O dilema entre a morte e a vida no plano planetário impõe-se dramaticamente, e só a educação de raiz cristã, sobrelevando o homem acima do todos os valores criados, pode ser a resposta ao surdo rumor de morte do vulcânico mundo que nos cerca.
É, pois, de gravidade insuperável e emergente para o futuro da Pátria a estruturação de um válido programa pedagógico como o projecto do estatuto da educação, que foi anunciado pelo respectivo Ministério e cuja publicação é uma esperança.
Mas de nada servirá se mantiver o tradicional sistema de improvisações, adaptações e soluções de emergência. Desse modo, manter-se-á a inextricável teia de aranha e o enredamento de efeitos precários resultantes de causas distorcidas e ineficientes.
É fundamental parte de uma reforma de base que requer uma administração com verbas suficientes para resolver os problemas humanos e as exigências de equipamento técnico requerido por um programa educacional verdadeiramente eficiente.
Esses problemas envolvem a emergente necessidade de se tornar possível um recrutamento selectivo, uma preparação psicopedagógica adequada e a satisfação e promoção dos justos interesses e direitos inerentes à nobilíssima, quando autêntica vocação de professor.
Nas suas mãos de estatuários está em grande parte o futuro das raças e nações, porque a juventude plástica e moldável é a grande matriz da história.
Desse facto emerge a eminente dignidade do professor e a necessidade de assegurar e promover a viabilidade de uma carreira essencial à vida e progresso das nações.
A educação constitui«um direito sagrado», que exige os maiores esforços e sacrifícios dos governos e dos povos para promover a integração activa, harmoniosa e fecunda da juventude nos grupos que constituem a comunidade humana, de modo a elevar o nível geral das pátrias e da humanidade, unificada pelos laços da paz, que só elevado nível de educação pode assegurar.
De pouco servirá elaborar programas se os professores, por carência de número, de preparação e de condições materiais de exercício, os não puderem executar.
A preparação psicopedagógica do professor é indispensável. O seu objectivo não é difundir o saber abstracto, mas a formação dos jovens com as suas tensões psicológicas e potencialidades humanas, a despertar ordenadamente para a acção e integração social conveniente e criadora.
O professor que sòmente se interessa por transmitir conhecimentos é como um injector mecânico.
Ele é imensamente mais que isso, mas precisa de ser preparado e promovido profissional e socialmente. É preciso substituir um ultrapassado «conceito judicial» da pedagogia por um conceito criador e dinâmico.
Mas o autêntico professor, além da vocação (e aqui surge o problema da escolha selectiva), precisa de uma formação segura. E o que se revela capaz de despertar vocações, iluminar inteligências e forjar caracteres é um artista criador, não de telas ou obras de arte, perecíveis, mas de pessoas vivas, infinitamente mais promissoras e válidas.
Nenhum técnico se pode improvisar, e menos ainda o professor.
E entretanto, é o que sucede. Nas escolas secundárias existem numerosas vagas a preencher e parece manter-se o êxodo dos elementos mais valiosos, com mais fácil colocação em actividades mais bem remuneradas e oferecendo mais garantias familiares e sociais.
E a actividade docente vai-se processando entretanto, com elementos improvisados e destituídos da formação psicopedagógica indispensável para o exercício sério e válido de missão de tão alto significado, por recrutamento realizado ao acaso das circunstâncias.
Como afirmou o Prof Mário de Vasconcelos e Sá (Primeiro de Janeiro de 18 de Dezembro de 1963), com a sua reconhecida experiência e autoridade pensa que

Não é com 50 por cento de professores sem formação (òbviamente psicopedagógica) no nosso ensino secundário que se pode obter um bom aproveitamento e um bom ensino. Por melhores que sejam os planos de estudo e os programas, os resultados serão nulos se não houver bons professores.

Esse é, pois, o problema essencial.
Também uma reforma do ensino deveria acabar com a especialização excessiva antes do nível universitário.
O ensino primário e secundário deveria Ter em vista sòmente a formação da vontade e a abertura da inteligência à indagação, possibilitadas por uma diminuição da sobrecarga erudita, inerte e estéril, e pela intensificação da alegria de conhecer e encontrar.
Como disse Leonardo Coimbra, seria

Em vez de muito saber carregando a memória a inquietação da inteligência indagadora repetindo em síntese o trabalho de pesquisa criadora