1066 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 59
dos adolescentes impõe, pois os cega a tudo o que não constitua parcela da sua geração), e que os ensine a querer e a pensar por si próprios permitindo-lhes e facilitando-lhes o desabrochar da sua personalidade. Protege-los contra o prestígio dos conformismos de geração, lutar contra o mimetismo e a intoxicação das massas, eis o que nos parece a profilaxia mais adequada.
Porém para combater com eficácia os falsos mitos que a sociedade moderna lhes proporciona há que despertar nos jovens um ideal elevado baseado na reabilitação autêntica dos valores humanos.
Cabe à educação sanitária alicerce da saúde pública, o papel específico de conferir à juventude as noções de higiene e biologia que constituam a base da sua consciência sanitária.
Evidente se torna sei totalmente impossível e ultrapassa o nosso intento, traçar, ainda que em simples resumo o conjunto dos problemas que a educação sanitária suscita no campo vastíssimo da sua planificação. Constituindo ela um dos mais activos meios de prevenção ao nosso alcance muitas vezes se confunde exclusivamente com a informação e a propaganda. Porém porque estabelece a acção determinante de um comportamento em harmonia com os dados da protecção de saúde e ainda porque implica a integração e a aplicação espontânea desses princípios de higiene na vida quotidiana, ela não poderá cingir-se a essas embora importantes, coordenadas.
Se bem que a influencia da informação e da propaganda nus lindos dias em virtude do desenvolvimento e da eficácia dos seus meios de difusão tais como revistas rádio, televisão, sejam factores valiosos não podem, contudo, restringir unicamente a si toda a acção educativa que ela comporta. Para a educação sanitária ser eficaz necessita da acção indirecta constituída pela propaganda e informação actuando em larga escala no plano da colectividade e por meio de pessoal e material especializados. Mas, além disso, exige também uma acção directa que actue em pequenos grupos admitindo o espírito crítico individual e se exerca através dos que, mercê das suas ocupações profissionais e sociais podem ter influência no comportamento daqueles com quem contactam. Esta última acção manifesta se de longe, a mais eficiente. Mas para que a saúde pública atinja aquele grau que lhe compete e um bom nível social exige, torna-se ainda necessário aproveitar o despertar da criança e na sua receptividade verter os princípios basilares da higiene e da epidemiologia.
Não compete apenas ao médico seus colaboradores e auxiliares a ministração da educação sanitária. Ela deverá sei iniciada não só no próprio lar, mas, muito especialmente, na escola onde a inteligência é matéria dúctil o maleável e absorve com avidez os ensinamentos que iniciam a sua preparação cultural.
Sendo o professor primário artífice especializado na modelagem dos espíritos nas suas múltiplas facetas, ele poderá ter um papel preponderante neste campo, tornando acessíveis e agradáveis aos seus alunos não só as noções de uma eficaz higiene individual, de uma alimentação equilibrada de uma regularização da sua actividade e descanso mas também demonstrando-lhes o alto significado e as vantagens que lhes podem advir de uma eficiente profilaxia. Assim, criará no seu espírito a necessidade de se protegerem contra as doenças infecto-contagiosas e predispô-los-á para bem receberem as imunizações necessárias. Todavia para cabalmente poderem desempenhar esta missão de verdadeiro interesse nacional deveria o programa do curso do magistério possuir uma disciplina sobre esta matéria a cargo do médico escolar ou do médico da saúde pública. Desta forma se estreitaram mais e mais os laços que unem a acção educativa à acção preventiva.
Compete-nos confessar que grande tem sido já o auxílio prestado pelos professores primários no plano nacional de vacinação. De um âmbito mais lato, porém seria ainda a sua valiosa colaboração se, a par do interesse e boa vontade manifestados, tivessem a ajudá-los a preparação sanitária que atrás preconizamos.
Acrescentaremos que a administração da educação sanitária não deve parar ao nível da instrução primária. Ela terá de acompanhar o desenvolvimento intelectual e físico do aluno, mesmo nos cursos secundários, técnicos e superiores, já que uma maior abertura à problemática da vida comporta uma exigência maior da respectiva acção curativa. Sòmente as características deste ensino, no decurso da adolescência, terão de modificar-se e, sem deixar de manter a sua acuidade, deverão substituir o carácter de monólogo paternalista pelo de informação e diálogo, acompanhado de uma documentação tanto escrita como áudio-visual apropriadas. É nessa altura que se torna mais complexa a patologia do estudante, em virtude de o seu estado físico e mental se encontrar ameaçado por um maior número de agentes nocivos.
E a idade não só das várias doenças transmissíveis mas também das afecções rinofaríngeas (com as suas perigosas repercussões cardíacas, renais e articulares), das doenças venéreas, de possíveis alterações endócrinas, dos sofrimentos gastroduodenais, da cárie dentária e do terrível flagelo social - a tuberculose -, ao combate da qual o nosso Governo vem dedicando aturado e dispendioso esforço.
Não mencionámos ainda entre outras afecções em voga hoje no campo estudantil, o doping, ou seja, o uso e abuso de drogas, quer estimulantes, quer de acção sedativa. Há que fomentar nos estabelecimentos de ensino secundários e superiores a repulsa por tão prejudicial medicação, que constitui uma terapêutica abusiva, de consequências francamente nocivas para o organismo.
Todo este cortejo patológico, que exige uma despistagem precoce e uma cura oportuna, veria diminuídos os seus efeitos e limitada a sua incidência se a juventude, convenientemente alertada, fosse consciencializada da maneira como deve opor resistência a tão nefasta agressividade.
Fácil se torna justificar a urgência destes ensinamentos essência pura de uma verdadeira política sanitária, se apreciarmos, por exemplo, o que se passa mesmo nas escolas superiores, onde a relutância dos alunos em colaborar espontaneamente com os serviços da luta antiberculosa é manifesta, apesar de o Ministério da Saúde e Assistência, por intermédio do Instituto de assistência Nacional aos Tuberculosos, lhes proporcionar, gratuitamente assistência técnica, exames microrradiológicos, provas tuberculíneas e vacinações pelo B.C.G. conjunto este que se manifesta arma eficiente contra a tuberculose, cujo índice de morbilidade ainda se encontra elevado no nosso país. Pois apesar de todas as facilidades que lhes são oferecidas, verifica-se que uma percentagem considerável dos alunos só comparece nos serviços de rastreio, por lhes ser exigida a ficha de presença para a regularização das suas inscrições universitárias.
Para fazer face a tão patente incompreensão, negligência ou comodismo, impõem-se a criação de centros médico-sanitários polivalentes, destinados não só a alunos universitários, mas também a alunos dos ensinos técnicos e secundários.