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1062 DÁRIO DAS SESSÕES N.º 59

Cremos que todos estarão de acordo com o que deveríamos fazer neste magno campo da educação.
Educar a criança em todas as suas dimensões, facultando-lhe uma abertura harmoniosa para o mundo e para Deus, pois, como diz Maurice Tièche.

A educação é a arte de conduzir para fora da ignorância, de preservar as crianças dos erros aos quais o ser humano está sempre exposto, e de as orientar para a verdade, a justiça e o bem.

Só assim poderemos pensar em construir o futuro
Precisamos, pois, de educar com desvelo com amor, mas também com perfeito conhecimento da forma de agir. Assim, teremos de atender particularmente.
Ao seu desenvolvimento físico, muscular e sensorial, ao seu equilíbrio interior (domínio corporal, distensão nervosa, actuação silenciosa, etc), ao desenvolvimento estético criando-lhe beleza no meio ambiente, mas beleza harmoniosa e simples, isenta de luxo, facultando-lhe meios de expressão e de observação das maravilhas que o Criador pôs entre nós, ao desenvolvimento moral, procurando desinibi-la para que se abra e mostre como é, promovendo a gestação da consciência e a formação da vontade para que saiba aprender a escolher e a persistir, ao seu desenvolvimento social pela criação de hábitos estruturantes, pela facilitação da comunicação com os outros e aos outros, favorecendo-lhe ainda a mesma abertura nos outros meios sociais, à sua formação cristã, que terá de ser realizada na vida a cada momento e por quem viva a presença de Deus em todas as coisas.
Este o grande, o difícil, o esgotante papel da educadora, que é também tarefa de todos nós.
Para assim a podermos educar, e à juventude que há-de suceder-lhe, e remediar enquanto é tempo muitos dos males passados torna-se imperioso.
Mentalizar todos, em todos os lugares, por todos os meios e em todas oportunidades,
Fomentar, quanto possível, repetimos a criação de jardins-escolas infantis modelos.
Insistir junto das direcções dos colégios para a manutenção dos mesmos jardins, com educadoras devidamente preparadas,
Insistir no mesmo sentido junto dos directores de empresas que empreguem pessoal feminino para que nos seus jardins a orientação seja dada a autênticas educadoras,
Coordenar esforços e canalizar como já dissemos, para este fim comum os subsídios e fundos de assistência dos organismos particulares e oficiais, interessando os párocos e as entidades oficiais responsáveis pela criação daqueles jardins.
Apraz-nos aqui registar que naquele I Congresso Nacional de Prevenção, a que já aludimos foi apresentada uma comunicação pelo Centro de Prevenção de Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais em que se propugnava pela urgente necessidade da criação em larga escala de lares e creches para tomarem conta dos filhos dos operários enquanto estes trabalham, em seguimento a um apelo que havia sido feito em Setembro de 1959 no Boletim do mesmo Centro para que os empresários, o Estado, os organismos corporativos e as Câmaras municipais colaborassem na obra tão essencial de se criarem aqueles lares ou creches para receberem, alimentarem e educarem os filhos das operárias ou de operários viúvos durante o tempo do trabalho, com vista à prevenção de sinistros daquelas mães e pais preocupados com o abandono a que necessariamente têm de deixar os filhos.
Sejam embora diferentes as razões invocadas, não queremos deixar de dar aqui o nosso inteiro aplauso à ideia, que mereceu a melhor atenção dos congressistas e foi posta em devido relevo nas conclusões do mesmo Congresso. Oxalá ela frutifique, como é de esperar, pelo menos da parte daqueles empresários, e muitos são já felizmente, esclarecidos e adeptos dos ensinamentos da doutrina social da igreja.
Se é demasiado carregado o panorama educacional da segunda infância e, como veremos também na terceira infância no que respeita às crianças física e intelectualmente normais, o que poderá dizer-se dos deficientes mentais ou sensoriais da mesma idade?
O espectáculo é necessariamente mais triste pela crueldade e abandono a que são votados geralmente estes pobres seres humanos. Que o diga o nosso ilustre colega Dr. Leonardo Coimbra com a autoridade que lhe sobeja, adquirida na experiência a que se votou a sua alma de verdadeiro apóstolo da caridade, caridade com C grande, que é sinónimo de amor, na sua mais alta expressão ao erigir uma obra, o seu Centro de Recuperação de Crianças, que deveria merecer o carinho e a veneração de todos nós e à qual tem dado o melhor da sua robusta inteligência, do seu magnânimo coração e até as parcas economias cerceadas com sacrifício aos proventos saídos do suor do seu esgotante trabalho profissional. Que nos perdoe o querido confrade esta alusão à sua obra, pois sabemos que ferimos a sua sensibilidade e a sua conhecida modéstia mas que não podemos deixar de citar aqui para que os Poderes Públicos e as almas generosas dela se lembrem com a ajuda material de que tanto necessita já que de outro apoio não carece quem como o Dr. Leonardo Coimbra possui o talento e todas as virtudes para edificar, estruturar e pôr em movimento uma obra-prima a que nos atrevemos a chamar divina porque tocada inegavelmente pelo dedo do Criador

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Analisemos agora a traço largo, o que se passa no campo da educação da chamada terceira infância. Aqui também não são melhores as perspectivas que se nos apresentam. Na sua grande maioria, as crianças dos 7 aos 11 anos, a frequentar o ensino primário elementar, são hoje bem diferentes do que eram num passado não muito distante. Fruto da nossa época, com o dessoramento de costumes filiado nas causas que atrás mal esboçámos, não podiam deixar de ressentir-se dos males de que enferma a sociedade actual e dos quais são culpados a Família, a Escola e a Igreja. Já pelas aldeias, que foram durante muito tempo o reduto em que se mantinham intactas ou menos atingidas as virtudes ancestrais da grei, campera infrene o mesmo dessoramento e uma onda de imoralidade destrói a muralha que lhe opunha a clássica honestidade do homem do campo criado à moda antiga, menos culto, mas mais educado do que o citadino da mesma classe social, sujeito a maiores tentações, perigos e vícios de que se deixava ser presa. É certo que em todos os tempos e em todos os lugares houve bom e mau e que, se a esperteza saloia não era epíteto que desse qualidade ao provinciano, as excepções não confirmavam, neste caso, a regra geral. No meio rural aquele em que temos vivido por inata vocação, vão-se perdendo a pouco e pouco - e com que desgosto o dizemos - hábitos sadios, física, espiritual e moralmente, que eram o orgulho da nossa gente e faziam do agrado populacional uma autêntica comunidade, quando não uma autêntica e estreita