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20 DE JANEIRO DE 1967 1059

O Orador: - Aqui fica expressa a nossa concordância, que muito nos agrada expressar em mais oportunidades e em relação a outros departamentos. (Risos)
Sr. Presidente Brilhou, por instantes, um raio de esperança na nossa vida política.
Mais uma razão para o nosso louvor e para o nosso agradecimento.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado

O Sr. Presidente: - Vai passar-se a

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Continua o debate do aviso prévio do Sr. Deputado Braamcamp Sobral sobre a educação da juventude.
Tem a palavra o Sr. Deputado Arlindo Soares

O Sr. Arlindo Soares: - Sr. Presidente: Ao subirmos pela primeira vez a esta tribuna reiteramos a V. Ex.ª Sr. Presidente, as nossas homenagens de profundo respeito e altíssima consideração pelas nobres virtudes e méritos que exornam a vossa prestigiosa figura, pedindo-vos desde já e a VV. Ex.ªs, Srs. Deputados, a quem renovamos igualmente as saudações de muito respeito, simpatia e consideração, a maior indulgência para as descoloridas palavras que vamos proferir e às quais procuramos certamente sem o conseguir dar um cunho essencialmente prático.
Sr. Presidente: Numa modesta comunicação que apresentámos ao I Congresso Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais iniciávamos as nossas considerações com as seguintes palavras

A chamada sabedoria popular é um manancial inesgotável de preciosos ensinamentos. Nas quadras admiráveis que andam na boca da nossa gente encontramos quase sempre, comprimidos nas apertadas malhas da redondilha conceitos magníficos de filosofia, e verdades incontroversas que não escaparam à sagacidade do desconhecido autor. Os provérbios populares de que é tão rica a nossa etnografia, muitos dos quais não deslustrariam a pena do velho Salomão, contêm, sempre, sínteses maravilhosas, sentenças e juízos que não oferecem discussão, porque exprimem a realidade que o senso do nosso povo apurou à custa de uma experiência intensamente vivida. Os nossos adágios e anexins são, na general idade, indiscutíveis axiomas que pena é não andarem sempre presentes na nossa memória, para que saibamos cumprir a toda a hora as suas proveitosas asserções. As bases de toda a segurança estão contidas num rifão que todos nós conhecemos mas que escapa por vezes à nossa lembrança. "Vale mais prevenir que remediar". É sou corolário exacto estontio também já velho e relho "Homem prevenido vale por dois". Na verdade, toda a segurança assenta na prevenção, e aquela sábia máxima aplica-se a todos os domínios da actividade humana. Não é sòmente à segurança no trabalho que o velho provérbio se ajusta. Ele adapta-se perfeitamente a todas as regras de vida quer somática, quer anímica, e deveria ser tomado como norma a seguir no nosso procedimento, seja qual foi o labor a que nos dediquemos. Prevenir é na verdade melhor que remediar.
Mas como é manifestamente impossível tudo prevenir, porque há factores imprevisíveis e imponderáveis e nem sempre a cautela anda a par connosco, é também necessário saber remediar. Remediar bem é ainda em múltiplas situações, uma arma de prevenção.

Vozes: -Muito bem!

O Orador:-Estas considerações julgamo-las válidas para justificar a nossa intervenção no debate do aviso prévio do nosso ilustre colega Dr. Braamcamp
Sobral, a quem felicitamos sinceramente pelo brilho, elevação e proficiência com que o apresentou e cuja relevância e oportunidade nos furtamos de encarecer, dada a premência do problema que está à vista de todos nós, pois é por de mais manifesta, a crise de educação da juventude que não nos atinge somente a nós mas é, por toda a parte, triste estendal de desvarios misérias e vergonhas e motivo de séria inquietação para governantes e governados. Em nosso modesto, entender, os vícios da educação tem vindo, em grande parte a acumular-se por ter sido esquecida aquela outra máxima popular que diz "De pequenino é que se torce o pepino" reforçada por outra velha sentença que afirma "O que o berço dá a tumba o tira". Na verdade, não poderá falar-se na educação da juventude sem se falar na educação da infância, magno problema que infelizmente se tem entre nós minimizado, descurando-se as fatais consequências.
Somos dos que acreditam na categórica afirmação de Eve Seligman "A educação do homem começa no primeiro dia da sua vida"
Não vamos embrenharmo-nos em considerações sobre a divina arte da puericultura ciência e arte que estão fora do nosso limitado âmbito profissional, e de que nesta Câmara temos um proficiente cultor na pessoa do nosso prestigioso colega Dr. Santos Bessa, a quem muito jubilosamente felicitamos pela sua escolha para regente da cadeira de Pediatria da velha e gloriosa Universidade de Coimbra como insto prémio do seu incontestável mérito como clínico abalizado e homem de ciência que à protecção da criança tem dado o melhor labor da sua robusta inteligência e o acrisolado amor do seu magnífico coração. Queremos apenas deixar aqui consignada a nossa inteira adesão às sábias considerações que daquela ilustre psicóloga e pedagoga nos atrevemos a transcrever.

Uma boa conselheira médico-pedagógica poderá responder exactamente à maior parte das questões relativas à alimentação e aos cuidados materiais a ter com a criança. Mas os cuidados materiais não são tudo, como o prova o exemplo das crianças postas numa creche dentro das primeiras semanas de vida, onde embora recebam excelentes cuidados estiolam e não se desenvolvem senão quando a mãe ou uma ama de leite se ocupam inteiramente delas. A mãe, ou quem a substitua -está provado que a consanguinidade não é essencial -, é a primeira intermediária entre a criança e o exterior. A sua natureza, a sua atitude, não só para o bebé, mas para quem o rodeia, contribuem para dar à criança o sentimento de segurança de protecção, sentimento que será a primeira condição para que tenha mais tarde confiança no mundo dos adultos. A mãe que grita e ralha aos filhinhos mais velhos enquanto dá de mamar ao bebé, que, sempre agitada e atormentada não esta em sossego na altura da mamada nem dá à criança a paz e protecção que ela reclama, transmite-lhe com o leite a sua agitação e a própria insegurança.