20 DE JANEIRO DE 1967 1065
José Maria Escrivá apresenta-nos no seu maravilhoso livrinho de meditação - Caminho - este pensamento que muitas vezes nos ocorre «Paradoxo é mais acessível ser santo que sábio mas é mais fácil ser sábio que santo». A instrução pode fazer um sábio, mas só a educação pode fazer um santo.
Tenhamos fé na nossa juventude pois a lição que está aprendendo na guerra injusta que nos movem os inimigos da civilização cristã de que fomos os apóstolos por todo o mundo que descobrimos há-de conduzi-la, com a ajuda de Deus para aqueles mesmos caminhos que fizeram da nossa pátria o berço sagrado de tantos heróis mártires e santos.
A essa mocidade que está por sua vez a dar ao mundo a melhor Lição diremos nós como Maurice Tiéche na sua exortação aos jovens da Segunda metade deste século «Edificar os vossos conhecimentos e aperfeiçoar as vossas técnicas, mas sempre conforme as instruções divinas. É assim, e só assim que vos tornareis os felizes colaboradores d Aquele que edifica a cidade futura hoje sonho, mas realidade amanhã».
O que importa não é tanto Ter diante de si um futuro maravilhoso quando se é jovem, é o manter através das vicissitudes da vida a visão muito clara do ideal e dirigir todas as suas forças para a sua realização.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Pais Ribeiro: - Sr. Presidente da Assembleia Nacional. Ao ser-me novamente concedida a honra de subir a esta tribuna permita-me V. Ex.ª que lhe apresente as minhas mais respeitosas saudações e interfere as afirmações com que há aproximadamente um ano pretendi expressar as nobres qualidades da personalidade invulgar de V. Ex.ª.
A VV. Ex.ªs, Srs. Deputados apresento também as minhas afectuosas homenagens.
A imprensa à Emissora nacional e à Radiotelevisão Portuguesa renovo os meus melhores cumprimentos já que arautos dos nossos esforços e boa vontade comparticipam no nosso desejo de bem-servir.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Depois da profundidade com que o palpitante assunto do aviso prévio do Sr. Deputado Braamcamp Sobral tem sido tratado por ele e por todos os que nos antecederam nos seus variados aspectos científicos moral, religioso e social, julgamos ser nosso dever como médico de saúde pública trazer o nosso contributo a tão debatido problema focando-o ainda que modestamente sob o ângulo não menos importante, da educação sanitária da juventude.
Tem constituído sempre a educação dos jovens - através do longo caminhar dos séculos - fulcro de inquietação e cuidados de todos os seus responsáveis. Nos nossos dias porém o âmbito da preparação da juventude adquiriu novas dimensões. Importa assisti-la em todas as facetas de que se reveste a sua personalidade - biológica, psicológica e social - já que além da sua complexa constituição orgânica ela é dotada também de inteligência e alma.
Dada a complexidade dos problemas que constituem a educação dos jovens impõe-se uma actuação de equipa em que tem o seu papel específico não só o psicólogo e o pedagogo mas também o médico e o psicotécnico, a enfermeira de saúde pública e a assistente social cabendo ainda neste conjunto o urbanista cuja colaboração se reveste de um carácter decisivo.
No mundo contemporâneo torna-se indispensável ministrar à juventude uma esclarecida educação sanitária de modo a consciencializá-la dos direitos e deveres que a legislação vigente respectivamente lhe concede e impõe adentro da esfera médico-sanitária com a finalidade de conservar a saúde e prevenir a doença. Urge esclarecê-la acerca dos múltiplos agentes que permanentemente ameaçam a sua integridade física e mental elucida-la quanto à salubridade do ambiente que lhe é devida quer na escola quer na oficina, na fábrica como nos escritórios, onde a cada momento a espreitam factores físicos, químicos ou biológicos possíveis determinantes de uma diminuição física, despertá-la para os cuidados que lhe cabem tanto na esfera da sua saúde como na conduta a seguir para o seu semelhante, aconselhá-la no que respeita ao uso vantajoso e regrado do desporto, etc, já que a mens sana precisa para se realizar em todas as suas virtualidades de se alcançar num corpo são. Em suma, importa criar-lhe a noção fundamental do benefício que lhe advirá da preferência da medicina preventiva sobre a medicina curativa como já pretendia Salazar há cerca de três décadas quando na X conferência Antituberculosa dizia «O que mais importa não é que nos ensineis a curar o mal seria que nos ensinásseis a evitá-lo».
Uma vez que constitui manancial económico de um país a sua população expressa não só em quantidade mas em qualidade imprescindível se torna fornecer-lhe as infra-estruturas necessárias para que possa conservar a saúde e desenvolver as suas possibilidades quer no campo do trabalho quer no da instrução no plano físico e mental. Tendo em perspectiva tal finalidade não basta construir-lhe hospitais dispensários e centros sociais mas também e sobretudo proporcionar-lhe uma boa estrutura social uma habitação higienizada um nível familiar exemplar e uma educação adequada. É em função de tais princípios que se deve apreciar aquele aspecto importantíssimo da inadaptação social dos jovens que aqui já tão bem foi focado e do qual já múltiplos estudos tentaram processar as causas o que tem como base fundamental a atmosfera da vida social em que o jovem vive um lar frequentemente desorganizado alojamentos deficientes em salubridade e compartimentação a rua com todas as suas tentações. A acrescentar existe ainda segundo cremos a influência nociva de alguns programas de cinema e televisão a exagerada programação escolar os anúncios aliciantes de certos filmes e certas leituras onde a sexualidade e a violência se dão as mãos. A inadaptação crescente e alarmante da juventude segundo Berthet não é mais do que a inadaptação do meio as necessidades da criança.
Em presença de tais factos urgente se torna fomentar realizações que neutralizem as deficiências apontadas e que se enquadrem nos sectores familiar, escolar, profissional e médico-social.
Desde sempre o conflito de gerações se verificou, reacção traduzindo as alterações fisiológicas e intelectuais dos jovens que no desejo de se afirmarem como pessoa autónoma (tomada a consciência de si próprios) se manifestam exuberante e agressivamente até quando qualquer contrariedade se lhes opõe. Tal reacção na nossa época porém, reveste-se de aspectos mais preocupantes baseados não só no desinteresse dos adultos que pecam por emissão voluntária ou involuntária activa ou passiva mas ainda pela rapidez e violência das mutações técnicas e sociais a que assistimos.
No sentido de uma orientação positiva, têm os educadores responsáveis de tomar sobre si a tarefa de uma compreensão constante e carinhosa (que o egocentrismo