1398 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 78
A maneira como fumos recebidos em Berlim e em Paris, os diálogos em que tornámos parte, os depoimentos que, por mais de uma vez, fomos chamados a prestar, são, sem dúvida de pôr em destaque e de ter em devida conta pela sua manifesta utilidade.
Há ainda um aspecto externo da actividade da comissão que merece não ser esquecido, embora constitua um trabalho cujos resultados práticos não são imediatamente tão visíveis. É o caso que as comissões nacionais têm, já hoje, uma larga projecção nos respectivos países e os próprios meios internacionais nelas se apoiam muitas vezes. Daí que todos os nacionais que desejam esclarecimentos sobre um outro país da NATO ou o vão visitar a título particular sejam aconselhados a entrar em contacto com a respectiva comissão nacional para todas as informações de carácter político. Exerce-se assim uma acção de esclarecimento muito útil que aliás, vem já sendo até utilizada por alguns diplomatas que são colocados em Lisboa e por personalidades importantes que se deslocam a Portugal em missão oficial e desejam obter opiniões não oficiais sobre os diversos problemas portugueses e o sentir da opinião pública.
Além do que acima já houve ocasião de ser dito relativamente aos jovens dirigentes políticos, há que não esquecer as actividades da comissão em matéria de educação e juventude. A presença de delegados portugueses em todas as reuniões internacionais dessas especialidades e as relações pessoas estabelecidas com meios correspondentes dos restantes países da NATO tem permitido um melhor esclarecimento de meios dificilmente penetráveis de outra forma e que são dos mais importantes na formação das opiniões públicas.
Julgo, pois, que todos os portugueses devem tributar o seu reconhecimento ao grupo de individualidades que constituem a comissão portuguesa do Atlântico pelo muito que a sua acção tem contribuído para que a posição de Portugal seja reforçada e compreendida dentro dos países que constituem a aliança a que temos dado todo o nosso apoio, com[...]entes dos nossos deveres de solidariedade internacional, que gostaríamos, por certo, de ver plenamente correspondidos.
A comissão portuguesa do Atlântico, ao mesmo tempo que tem trabalho para melhor compreensão das vantagens da Aliança do Atlântico, em que livremente Portugal entrou e vigorosamente tem sabido honrar, tem por outro lado, esforçadamente contribuído para que se quebre o arame farpado que uma conspiração tem mantido em volta da nossa verdade, que, cada vez mais, temos de divulgar e fazer impor.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Nunes Barata: - Sr. Presidente, Srs. Deputados. Vai a nação portuguesa comemorar o cinquentenário das aparições de Fátima. Eis um acontecimento extraordinário não só pela relevância que tem no plano religioso, mas ainda por suas repercussões nos campos político e social. Fátima não vale apenas como afirmação do sobrenatural e de fé. Garante e testemunha a unidade espiritual dos Portugueses. Projecta-se no mundo, como apelo à paz e à concórdia Fátima é, como tão expressivamente se tem acentuado, altar do mundo.
Não será deste modo despropositado que me ocupe nesta tribuna de tão importante ocorrência. Portugal foi sempre cristão. Portugal foi sempre mariano. Fátima insere-se na história de Portugal como «coisa séria». A fé ateada na Cova da Iria renovou espiritualmente a nação e daqui irradiou para os mais distantes cantos da Terra.
O Sr. Cardeal-Patriarca afirmou, no 25.º aniversário das aparições, que «não foi a Igreja que impôs Fátima, foi Fátima que se impôs à Igreja». Decorridos outros 25 anos, não só se confirma, como extraordinário vigor, tão luminosa síntese, como é possível, parafraseando-a acrescentar não foi Portugal que impôs Fátima, mas Fátima que levou a todo o mundo o nome de Portugal.
Sr. Presidente: A unidade religiosa do povo português tem sido a constante mais expressiva e operante ao longo de muitos séculos da nossa história. Portugal nasceu à sombra da Igreja e a maravilhosa lenda de Ourique é, um seu simbolismo, a benção de Deus a um povo inteiramente devotado ao seu serviço. Surgiram posteriormente disputas entre os governantes de Portugal e Roma, por motivos de ordem temporal, mas a nossa magnífica unidade religiosa manteve-se a alentar a gesta da Expansão, a resistir aos estragos da Renascença e da Reforma, a superar o galicanismo de Pombal!
Este Portugal cristão foi sempre mariano Santa Maria de Guimarães recorda a fidelidade do conde D. Henrique nas vésperas do nascimento do reino. Terras de Santa Maria se chamaram os seus primeiros territórios e logo a nobre cidade do Porto passou à posteridade como cidade da Virgem. A gesta de Afonso Henriques semeou santuários marianos por todo o território e Santa Maria de Alcobaça foi uma das suas mais belas glórias e da cultura do Ocidente.
O culto de Imaculada Conceição, cujo dogma a Igreja só viria a definir no século XIX, encontrava já em 1320, no bispo de Coimbra, D. Raimundo, um egrégio defensor Corria o reinado de D. Dinis, o rei-poeta que compôs um cancioneiro em honra de Nossa Senhora.
A Universidade de Coimbra, ainda nesse século XIV, tomou, por deliberação própria o encargo de participar anualmente nas festividades da Senhora da Conceição.
Foi uma prática que el-rei D. Manuel louvou e confirmou-nos estatutos que deu à Universidade.
Com o Mestre de Avis, na hora decisiva do Aljubarrota, a Virgem é invocada formalmente como defensora do reino de Portugal. Na vigília da Assunção, os portugueses entregaram-se confiadamente a Nossa Senhora e o Condestável garantia que Ela «seria avogada por eles». Nossa Senhora da Vitória, na Batalha, é o cântico reconhecido, «ali cerca donde ela foi», pela consolidação da independência nacional.
Foi ainda D. João I quem compôs um livro de Horas de Santa Maria e toda a Ínclita Geração, tal como o Condestável, que viria a ser frei Nuno de santa Maria, foram exemplos vivos de fidelidade à Mãe de Deus. Zurara dá particularmente conta da devoção do infante D. Henrique e da casa de oração que mandou erguer «uma légua de Lisboa, a cerca do mar, onde se chama Restelo, cuja invocação se diz de Santa Maria de Belém». Foi aqui que oraram, os Cabras, os Gamas e os Albuquerques.
O sonho do primeiro império, o império do Norte de África, construiu-se sob a invocação de Nossa Senhora de África. Volvidos séculos, um poeta de fina sensibilidade e arreigado patriotismo, António Sardinhas, evocaria Nossa Senhora, a Conquistadora.
Santa Maria de África, morena,
Nossa Senhora épica da Raça,
Olhando o azul do Estreito, com que pena
Por ver que é outra gente que lá passa.
No eterno exílio a que se condena
Tem sempre a mesma lusitana graça!
Recorda em seu altar uma açucena,
Armada de bastão e do couraça!