25 DE NOVEMBRO DE 1967 1871
visão do crescimento turístico nos próximos seis anos, a qual já tem sido alcunhada de audaciosa ou fantasista. Nem a verba global de 2,1 milhões de contos se mostrará demasiada se tivermos em conta o ânimo da acesa competição travada entre os países que lutam aguerridamente pela sua expansão turística.
No Plano Intercalar de Fomento não foi atribuída qualquer verba à promoção turística. No entanto, e sob a premência da necessidade, Portugal, em 1967, orçamentou para promoção turística 734 000 dólares, enquanto, a Grécia prevê gastar no mesmo ano 4 700 000 dólares, as França 3 340 000, a Itália 3 023 000, a Turquia 2 278 000, a Bulgária 2 milhões de dólares e Israel 1 662 000 dólares.
Por outro lado, torna-se imprescindível acelerar a construção de infra-estruturas, dotando alguns serviços, como a Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e a Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Agrícolas, de verbas expressamente consagradas a melhoramentos ligados a fins turísticos. E essa lógica e instante necessidade foi atendida no projecto do Plano, dando-se assim mais um notável passo no caminho para a colaboração estreita e ordenada entre os diversos departamentos do Estado em matéria de preparação do ambiente turístico.
Na verdade, quando no projecto do Plano se admite que o movimento turístico externo deverá evoluir à taxa média anual de 20 por cento, é porque se confia nestes meios de intensificação, designadamente os estimados para a promoção turística.
Dir-se-á que falta aos projectos elaborados - a todos - a precisão das estatísticas. Sem negar fundamento ao comentário no que respeita ao facto de os elementos estatísticos sobre o movimento turístico serem ainda insuficientes e tardios, deverá reconhecer-se, todavia, que na elaboração do capítulo sobre o turismo os serviços já puderam dispor de uma vasta soma de elementos resultantes dos enormes progressos verificados nos trabalhos do Instituto Nacional de Estatística, o que permitiu um melhor e mais seguro delineamento dos programas anuais de execução. Sucede até que o sector do turismo foi o que conseguiu obter elementos mais completos.
O problema do turismo é feito de muitos e delicados problemas. Um dos mais difíceis é, por exemplo, o da flutuação estacionai ocasionada pela concentração de turistas em épocas de ponta. Os estabelecimentos hoteleiros não podem sobreviver sem uma equilibrada distribuição estacionai. Todos os esforços devem ser feitos - e estão já a desenvolver-se - no sentido de se obter uma taxa de ocupação média anual que permita o indispensável desafogo à indústria hoteleira. Outra grande dificuldade é a que emerge da conveniência de aumentar o turismo interno, de forma a evitar o consequente abatimento no afluxo de divisas proporcionado pelo turismo externo. Alguns países estão pondo em execução importantes medidas tendentes a estimular nos seus nacionais a preferência pelos centros turísticos internos. A Espanha - para nos referirmos ao país mais próximo - na vizinhança da nossa praia de Monte Gordo está aproveitando a praia de Canelas, cuja urbanização prossegue activamente, através de facilidades de toda a ordem, traduzidas no baixo preço dos talhões destinados à construção, em isenções fiscais e em moratórias no pagamento dos terrenos adquiridos.
As questões relacionadas com a preferência ou as preferências a dar ao turismo de qualidade, ao turismo de grupo ou ao turismo de massa também não são fáceis de resolver. Diz-se que o turismo de qualidade é um turismo exigente e volúvel. Mas é, sem dúvida, o turismo que mais contribui para o afluxo de divisas, ao contrário do turismo de massa, que nada ou pouco deixa, a não ser a alteração dos nossos costumes através da larga e inevitável convivência, com as populações. Haverá, ainda, a considerar o turismo de grupo, susceptível de ser bem orientado o criteriosamente admitido como corrente turística de interesso. Seja como for, a distância a que nos encontramos dos mercados turísticos europeus, que torna mais onerosas as deslocações, a selecção feita naturalmente e denunciada na procura das instalações hoteleiras de superior categoria, definiram e fixaram a corrente de turismo que teremos de estimular fortemente, ou seja a do turismo de qualidade.
Como nota que me parece de acentuada relevância, direi que na Associação Internacional dos Peritos de Turismo se chegou à conclusão de que para mercados do tipo português a política do turismo de qualidade é, sem dúvida, a que mais convém.
No que toca si problemas de difícil resolução, poderá ainda referir-se o da, conveniência, até ao presente em quase nada satisfeita, das construções destinadas ao turismo em geral - ao menos essas - obedecerem ao tipo arquitectónico de fundo português. E não é à falta de terem sido dadas instruções superiores em tal sentido. Cito a que me parece mais directa:
As novas construções devem procurar tirar partido dos materiais de construção, das colorações e das contexturas, por forma que permitam realizar uma expressão actual da arquitectura tradicional da região.
Mas os nossos arquitectos persistem, salvo raras excepções, em projectar como se projecta em toda a parte, e esse é um mal que importa combater por meios porventura mais convincentes, tanto mais que seriam dirigidos a pessoas dotadas de capacidade para os entender e servir.
Não estou a ocupar-me a fundo de nenhum destes problemas. Tracei, quando muito, a propósito de cada qual esboços de apreciação. Mas há ainda, no domínio do turismo, um assunto de vivo interesse, que é o das zonas prioritárias. E não é porque tencione discutir o critério do estabelecimento de zonas prioritárias. Compreendo que seja e tenha de ser assim. Há que concentrar os esforços, designadamente os iniciais, no aproveitamento das zonas que mais garantias de rentabilidade ofereçam, quer peia excelência das belezas naturais, quer pela excelência do clima. E só para observar - para observar com verdade e ansiedade - que existe ainda uma grave lacuna na definição e escolha dessas zonas, pela falta de inclusão dos Açores no seu número, até agora reduzido ao Algarve e ao arquipélago da Madeira.
Na sua já citada comunicação feita ao Conselho Nacional de Turismo em 29 de Novembro de 1965, o Subsecretário de Estado da Presidência do Conselho, Dr. Paulo Rodrigues - a quem tributo a maior e a mais sincera consideração-, pronunciou estas palavras, que gostosamente reproduzo:
Praza a Deus que a frequência das ligações com os Açores nos permita erguer um dia igual padrão de turismo nas terras de encantamento que são as do outro arquipélago português do Atlântico.
Fiquei, assim, no pleno convencimento de que a demora na classificação dos Açores como zona prioritária de turismo dependia da melhoria das comunicações com o arquipélago. Nesse sentido e porque a aspiração é, em si mesma, justíssima, sempre tenho advogado aqui, e por todos os meios ao meu alcance, a construção de portos e de aeroportos nas ilhas dos Açores à altura do que lhes é devido e tomando em linha de conta não só os