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1872 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 99

objectivos turísticos, mas ainda os objectivos económicos e os de humanidade. E no projecto do III Plano de Fomento em apreciação -honra lhe seja-, no capítulo do turismo, nada se diz em contrário. Todavia, na parte referente ao planeamento regional elaborada sob a lamentável influência de outras fontes, aventa-se que o turismo nos Açores «não tem grandes possibilidades de evolução, devido à irregularidade climática que caracteriza o arquipélago». Esta nota, mesmo que fosse produzida de passagem, nem por isso deixaria de chocar. Mas o pior é que foi lançada como aspecto negativo, a ter em conta na estratégia do desenvolvimento dos Açores, e serviu para se chegar à conclusão de que o turismo naquelas ilhas, embora tenha algumas potencialidades, terá de ser «estudado e incrementado de modo a poder desempenhar um papel complementar de relativa importância».
Ora, não posso aceitar, de modo nenhum, estes pontos de vista, por estarem fora das realidades. Se é certo que no arquipélago dos Açores a época de Inverno não é propícia as actividades turísticas, o Verão e o Outono, à parte uma ou outra mudança, mais própria para marcar contrastes do que para justificar desânimos, podem ser turisticamente aproveitados de maneira a influir consideràvelmente no desenvolvimento da região, através de um plano elaborado, como se impõe.
Tenho já bastantes vezes - julgava que as suficientes - aludido nesta Assembleia às belezas naturais dos Açores e às suas extraordinárias possibilidades turísticas. Justamente, a propósito de turismo -na discussão do aviso prévio acerca do turismo nacional -, depois de ter demonstrado o que valiam os Açores no quadro turístico português, cheguei a exclamar: «Vão aos Açores e vejam! Vejam os Açores e acreditem!» Não obstante, para efeitos de planeamento regional, não foram ainda aos Açores, ao que parece, com a demora que se requeria. Assim, daqui lanço o meu reparo e o meu apelo, fazendo os- mais ardorosos votos para que o plano de desenvolvimento da região dos Açores seja digno do que o arquipélago merece. Bem sei que a matéria figura pela primeira vez nos nossos planos de fomento, o que justifica, de início, a falta de certos ajustamentos. Entretanto, impõe-se-nos o dever de colaborar com a melhor boa vontade. E é com esse espírito que chamo a atenção para mais alguns pontos:
Diz-se - e diz-se acertadamente, na parte já citada referente ao planeamento regional - que «no campo agrícola, aproveitando-se as condições altamente favoráveis dos Açores para a produção de forragens e criação de bovinos leiteiros, deverá alcançar-se alto grau de especialização neste aspecto». Mas esquece-se que nos Açores, designadamente na ilha de S. Miguel, estão já em curso largas e custosas experiências de produção intencional de gado bovino para abate e que essas experiências têm de ser encorajadas e tratadas pelos sectores públicos da especialidade com a devida atenção e com o devido carinho, para que não se verifique o desespero o a fuga dos criadores de gado empenhados em desenvolver intensamente a pecuária nas ilhas que tantas e tão excelentes condições têm para o efeito. Não é inquietando o futuro de tais empreendimentos, as mais das vezes por meio de frequentes e imprevistas proibições de exportação, que se pode incrementar o fomento pecuário, especialmente o destinado à saída de carne para consumo a preços remuneradores. É esta uma simples observação, feita a propósito, mas uma observação que deve levar os serviços competentes a chamarem quanto antes a si, nos Açores, um problema de tão premente magnitude.
Outra questão de muito interesse é a de saber como s u vai efectuar a integração dos Açores no espaço económico português.
Nos Açores temos barreiras alfandegárias até de ilha para ilha. Essas barreiras - como disse nesta Assembleia há alguns anos já, servindo-me de dados impressionantes- têm de desaparecer, pois a sua permanência só agravaria as assimetrias regionais existentes. No entanto, há que pensar muito nas consequências imediatas para a economia local, de modo a atenuar e a prevenir os reflexos inevitáveis. Temos de reconhecer que o problema da integração dos Açores no espaço económico português é um problema bastante delicado e complexo.
Este assunto do planeamento regional daria, só por si, para uma longa intervenção. Limito-me, por agora, a acrescentar, no que respeita ainda aos Açores e à escolha da respectiva capital regional, que deverão ser observadas as premissas estabelecidas para a escolha das outras capitais regionais.
Sr. Presidente: Disse que todo o plano de fomento constitui uma esperança e que a esperança não é alvoroço nem acaso, 13 um dom do homem - o dom de saber esperar.
Deixo hoje esta tribuna arrimado à mais viva esperança. Saberei esperar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vou encerrar a sessão.
Amanhã haverá sessão, cuja ordem do dia vem marcada no Regimento: eleição dos três vice-presidentes e dos dois secretários da Mesa.
Está encerrada a sessão.

E mm 19 horas e 20 minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

Agostinho Gabriel de Jesus Cardoso.
Arlindo Gonçalves Soares.
Armando José Perdigão.
Fernando Afonso de Melo Giraldes,
Francisco José Roseta Fino.
Henrique Ernesto Serra dos Santos Tenreiro.
James Pinto Bull.
João Duarte de Oliveira.
João Mendes da Costa Amaral.
José Alberto de Carvalho.
José Coelho Jordão.
José Dias de Araújo Correia.
José Gonçalves de Araújo Novo.
José Guilherme Bato de Melo e Castro.
José de Mira Nunes Mexia.
José Vicente de Abreu.
Júlio Alberto da Costa Evangelista.
Leonardo Augusto Coimbra.
Manuel José de Almeida Braamcamp Sobral.
Martinho Cândido Vaz Pires.
Rogério Noel Peres Claro.
Tito de Castelo Branco Arantes.

Srs. Deputados que faltaram à sessão:

Albino Soares Pinto dos Reis Júnior.
André da Silva Campos Neves.
António Augusto Ferreira da Cruz.
António Magro Borges de Araújo.