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6 DE DEZEMBRO DE 1967 1983

rádio, da televisão, do telex, dos satélites de ligação, dos computadores, dos autocomputadores, dos cérebros electrónicos ou «máquinas de processar a informação». Os filósofos debruçar-se-ão mais tarde sobre esta febre de trocar informações, este novo teor de relações entre os homens - numa era em que mais do que nunca os povos são vítimas da contrafacção das ideias e da mentira organizada em grandes empresas estaduais ou para estaduais.
Nós, que estamos no Mundo e participamos das vicissitudes do Mundo, não podemos deixar de sofrer consequências de tudo isto - mas nas coisas, na vida, ao modo de ser e de pensar da nossa gente -, pelos motivos que referimos. E havemos de ser ágeis, procurar não perder o pé nas encapeladas águas do progresso em que a bóia de salvação, o farol e a luz condutora terão de apontar continuamente para os valores morais, à sombra dos quais nascemos e nos afirmámos como povo, sem deixar de levar às criaturas, com prioridade para as mais débeis economicamente, como para as regiões menos favorecidas pelo progresso, os benefícios do crescimento da riqueza nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por isso, os objectivos e medidas da política de rendimentos definidos no Plano (vol. I, pp. 380 e seguintes), bem como os objectivos e medidas de política salarial (vol. i, pp. 438 e seguintes), merecem o nosso apoio. É fácil falar em redistribuição de rendimentos, mas difícil definir a quem se pretende atingir com ela. O objectivo dessa redistribuição, tal como decorre do Plano e das leis, não é o de fazer desaparecer esta ou aquela categoria sócio-económica em benefício de outra, mas sim reduzir aqueles que auferem grandes margens de lucro em benefício daqueles que auferem pequenos ou insuficientes rendimentos.
O turismo é outra das razões, irreversíveis de momento, que enquadram e limitam aquela orientação ética já referida noutro passo destas considerações. A sua problemática não é tão simples como à primeira vista poderá parecer. A nós sempre se nos afigurou que, não devendo ser apriorìsticamente inimigos do turismo, nem por isso deveríamos embarcar na barca de loas, engrinaldada em arco de mesquita cordovesa. Certo, certo: as divisas; a valorização do património artístico e monumental; o Secretário de Estado do Comércio desoprimido quando o Subsecretário de Estado da Presidência do Conselho, graças ao turismo, lhe consegue política compensatória para a balança comercial; o Ministro das Finanças exultando ao verificar os resultados da balança de pagamentos. Certo, certíssimo ...
Mas esta coisa do turismo, como solução para problemas económicos e financeiros, sempre nos fará lembrar, melancolicamente, aqueles nobres ingleses que vendem bilhetes à porta dos solares para poderem pagar o ordenado aos criados no fim do mês. Parece que estamos a ouvir o saudoso Prof. Armindo Monteiro, numa das suas aulas magistrais da Faculdade de Direito, em impiedosa invectiva contra o turismo pelo turismo. Lembrava, a propósito, a confidência de uma individualidade helvética; a qual havia ocupado a mais alta magistratura do seu país. Segredava que o turismo, enquanto enchia a Suíça de divisas e de bem-estar, lhe ia insensivelmente corroendo a alma, e os costumes, e a intimidade saudável e patriarcal dos velhos cantões.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O turismo massificou-se, como quase tudo no mundo ocidental. Deixou de ser a busca requintada de espíritos superiores, a curiosidade de cultura e de estudo, o carinhoso espírito de compreensão e de simpatia, que sempre deverá existir no conhecimento de duas almas, ou de dois povos, ou de duas civilizações. O turismo é espectáculo, de que as fronteiras não passam de bilheteiras, tal como nos solares dos ingleses arruinados. Aliás, hoje, o turismo de massas nem carece de monumentos, de obras de arte ou de paisagem. Uns bons jantares, com pepsi-cola a acompanhar, no fim de uma corrida estafante de autocarro, fazem o milagre da satisfação e de transformar tudo em alegria prodigiosa. Se, no fim, houver um bom dancing & outras coisas - será o maravilhoso, em baile e jazz: cessem Jerónimos, Janelas Verdes, S. Vicente de Fora ou triângulos propagandísticos!
Pelo que nos é dado ler em jornais espanhóis, já ali se vão erguendo as vozes de real apreensão quanto às incidências do fenómeno turístico na vida espanhola. E que se trata de uma arma de dois gumes: as divisas sobem, mas o custo de vida também sobe. A moralidade e o resto é que podem correr o risco de baixar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O turismo é boa moeda, com sólida cobertura. Mas saibamos neutralizar os seus inconvenientes, e não deixemos nunca tiranizar-nos pela sua incerta sedução. Por isso nos parece acertada a orientação do Plano quando aponta razões para defender, como defende, «a qualidade do turismo internacional que nos procura» (vol. II, p. 433).
Claro que as reservas incidentais, quanto ao turismo, em nada invalidam, nem alteram, a circunstância de ele ser espantoso fenómeno do nosso tempo, assumindo proporções imprevisíveis. A corrida aos mercados internacionais de turistas é das mais disputadas lutas comerciais do nosso tempo, e bom será que andem lestos os que ousadamente queiram conquistar mercados, assumir posição na Bolsa - neste negócio de sol, de mar, de paisagem, de monumentos, de belezas naturais. Dir-se-ia que a tradicional doutrina jurídica está ultrapassada, quando teima em dizer que estes bens, como o sol, o ar e a luz, não podem ser objecto de contrato, por serem coisas fora do comércio ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se bem nos parece, andámos durante muitos anos arredios da pugna turística, ou melhor, criámos a falsa ideia de que o turismo era folclore, e que se resolvia tudo à base de bonitinhos, de pétalas, ou de cantigas no terreiro. Esquecia-se que, na base da exploração turística, tem de estar uma infra-estrutura metódica e planificada, a começar pela da rede hoteleira, sem a qual não há sol que possa convencer, nem cantigas que não se percam no vento da inutilidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O turismo é, em nossos dias, problema económico - o qual tem na sua base a exploração comercial de bens culturais, artísticos, paisagísticos e outros. As divisas são o resultado dessa exploração.
Vai longe o tempo em que Ramalho Ortigão, ao desagravar-se em carta a Alberto de Oliveira, nos deixa estes diapositivos do seu «turismo»:

Não há monte, nem vale, nem rio, nem ribeira, por esse Portugal todo, que eu não percorresse, por