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1984 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 105

simples namoro, sem nenhum outro fim de interesse ou de curiosidade, à minha custa, em caminho de ferro, em diligência, embarcado, a cavalo e a pé. Por amor palmilhei repetidas vezes as serras de Ossa, da Arrábida, de Monchique, subi o Marão e subi a serra da Estrela. Por amor dormi ao relento na lezíria do Ribatejo. Por amor andei a monte na serra da Talhada e no rego de Chaves, e pernoitei deitado nas manjedoiras, sobre o retraço dos machos, em Albergaria das Cabras, na Trapa e na Farrapa. Por amor me banhei no Douro, no Minho, no Avo, no Vouga, no Homem, no Cávado, no Mondego e no Guadiana. Vai surpreendê-lo decerto esta nota: não há foi III franca no reino em que não tenha estado este seu criado, o qual noutro tempo comprou, vendeu ou trocou besta em Famalicão, em Penafiel e em Viseu [in A Evolução Espiritual de Ramalho, de Rodrigues Cavalheiro, Lisboa. 1962, pp. 27 e 28].

Vai longe esse tempo, longe vai esse tempo!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O turismo é hoje para nós outro volfrâmio, a que é preciso deitar mão, explorar inteligentemente. Há-de ter a sua contrapartida de risco, mas isso é, como dissemos, o reverso de todas as medalhas. Estamos a sangrar financeiramente, e a tal sangria haverá de corresponder equivalente transfusão de divisas. O turismo é para nós um processo de transfusão financeira. De 890 000 contos em 1961, o valor absoluto do turismo atingiu 7 476 000 contos em 1966, o que, a preços correntes, corresponde à elevadíssima taxa média de acréscimo anual de 48 por cento (vol. II, p. 423).
As previsões para o sexénio do Plano, constantes do mapa da p. 430, elevam as receitas provenientes da exportação de serviço de turismo para 10 500 000 conto? em 1970 e de quase 18 milhões de contos em 1973. Isto nos dará ideia do valor económico do turismo.
Mas não devemos esquecer que ele comporta considerações de ordem política. por ser hoje dos mais importantes e mais sólidos meios de informação. Algures o fez notar o Subsecretário de Estado da Presciência do Conselho, Dr. Paulo Rodrigues, nosso querido colega nesta Câmara e excelente camarada. Vou citar as suas palavras:

Acontece hoje que a guerra psicológica dirigida do exterior contra a liberdade e II integridade da Nação Portuguesa é comandada por forças às quais não interessa, em nada, a verdade dos factos. Mas o seu poder de penetração resulta, em grande parte, da receptividade: que a mentira só encontra, entre homens de boa vontade, quando não lhes é dado conhecer a realidade das coisas.

Daqui partiu lùcidamente para a conclusão:

Dar a quantos nos visitem, clara e aberta, a verdadeira face de Portugal - do Minho a Angola, das Berlengas a Timor - é, para além de todo o benefício económico, a missão mais alta em que todos quantos servem o turismo servem, ao mesmo tempo, o interesse nacional.

Está focada, nestas observações, uma face extraordinária do valor das correntes turísticas para o nosso país. Não andamos empenhados em desfazer a monstruosa campanha de mentiras que. no plano internacional, &e desencadeou contra nós? Não temos posto ao serviço de informação, para reposição da verdade sobre Portugal, somas gigantescas e meios poderosos? Não estamos apostados em esclarecer o Mundo, em mostrar a verdade à opinião internacional e aos homens de- boa vontade?
Pois as centenas de milhares de turistas que analmente percorrerem o nosso país podem ser os melhores portadores dessa verdade. Viajando livremente, percorrendo a terra portuguesa de lês a lês, observando, anotando, ajuizando, eles são os que podem testemunhar de visa a verdade sobre Portugal, sobre a sua vida cívica e social, sobre o próprio carácter do regime político em que vivemos, ou os progressos materiais que, por todo o lado, só notam entre nós. Esses são soldados da batalha da informação, em que estamos empenhados. Com uma vantagem extraordinária: enquanto gastamos rios de dinheiro, para proclamar a verdade por esse Mundo - pois, hoje, a própria verdade tem de pagar, para obter lugar ao sol -, os turistas deixam aqui o seu dinheiro e podem ser ao mesmo tempo testemunhos fiéis dessa verdade, que viram com os seus olhos. Trata-se de informação que. em vez de custar dinheiro, rende divisas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Em matéria de turismo, bem podemos, pois, dizer que nele reside uma das importantes opções que o Plano levanta; e, face aos condicionalismos citados e às exigências da vida nacional, temos de optar decisivamente pelo seu incremento e pelo seu desenvolvimento. Feita a escolha, não devem regatear-se os meios. Estão previstos investimentos da ordem dos 9500 contos para o hexénio, dos quais 2750 contos no primeiro triénio e 6820 contos no segundo triénio. Fazemos votos por que essa previsão de investimentos tenha melhor sorte, na execução, do que os investimentos previstos, para o efeito, no Plano Intercalar que agora finda.
Temos de concluir que, em matéria de turismo, se galgou definitivamente a fase do mero folclore e dos rodriguinhos, se bem que venham a ser cada vez mais necessárias as Agonias e as Meadelas. Não podemos exportar a frescura dos nossos vinhedos e das nossas matas; não dispõem de rodas os Jerónimos ou a Batalha ou a Sé de Braga, para serem passeados por esse mundo; não podemos enlatar o azulino das nossas águas ou a suavidade tépida que os nervos colhem ao banhar-se. Mas nas fronteiras deste «país das uvas», tal como à porta dos grandes espectáculos, o cartaz está erguido e representa divisas ao contado: «Vende-se mar e sol! Vende-se clima admirável! Há romarias e sonhos e bailes e despiques! Alugam-se paisagens e monumentos sem par! Dá-se de bónus a ordem, a tranquilidade e o sossego de um país de boa gente e bem governado ...»

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O tema do turismo conduz-nos, por associação de ideias e derivante sistemática, ao distrito de Viana do Castelo, círculo eleitoral que tenho a honra de representar nesta Assembleia.
A política turística definida no Plano aponta para a qualidade e considera «como regiões prioritárias aquelas onde é possível fazer turismo durante todo o ano ou em que a estação alta se estende por largo período: o Algarve, a Madeira e a região de Lisboa». Acrescenta-se, todavia, que se procederá «ao estudo do fomento turístico de outras regiões», dado que «interessa promover o aproveitamento turístico de todo o resto do território, procedendo para tal os serviços de turismo à fixação de itinerários de circuitos por onde se poderá desenvolver o turismo do passagem, a partir, não só das regiões prioritárias, como dos diversos pontos de fronteira, e indicando nos referidos