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15 DE DEZEMBRO DE 1967 2123

aplicava-se aos deveres escolares. Duas eram costureiras, uma de 19 anos e outra de 34 anos! E ambas saíram do exame com aprovação de 15 valores! E uma aluna do 1.º ano era empregada doméstica de 17 anos de idade. Trabalhava de manhã e, de tarde, graças à compreensão da entidade patronal (a F. N. A. T.), dava-se às obrigações da telescola, deitando-se, por vezes, às 2 horas da madrugada. E obteve a classificação de 15 valores!
No ano lectivo de 1966-1967, o posto de Serrazes matriculou, além dos do 2.º ano, mais dez alunos do 1.º, três dos quais com mais de 18 anos. Uma aluna de 14 anos, cujos pais são privados dos mais elementares meios de vida, e até de saúde, mas têm a riqueza de uma filha a que não falta o precioso capital da inteligência, obteve no exame de ciclo a classificação de 17 valores!
Estes resultados dos primeiros postos de telescola e a subjacente problemática sociológica, que é semelhante nas várias províncias de Portugal, sugerem-me a evocação daquele dito, denso de filosofia social: «Vi uns homens a subir e outros a descer. Os que subiam levavam tamancos, os que desciam traziam sapatos de verniz ...»
Sr. Presidente: E preciso ajudar cada vez mais quem quer subir pelo seu valor e pelo seu trabalho ..., embora se não abandonem as zorras, que só se mexem aos empurrões. E uma conclusão se impõe desde já: são manifestas as largas possibilidades da telescola como instrumento de promoção social dos meios rurais e da efectivação do seu direito à cultura.
Para as populações rurais econòmicamente menos favorecidas, a telescola pode ser órgão auxiliar de justiça social e também de fixação no próprio meio, deixando muitos jovens de sentir a necessidade de abandoná-lo para se valorizarem, tornando-se capazes de aproveitar os recursos locais, de tomar iniciativas de interesse pessoal e colectivo, obreiros da autopromoção em plano regional integrada no desenvolvimento de todo o espaço português visado pelo III Plano de Fomento. E este seria assim uma «tarefa comum», como propõe o Governo, em que participariam, mais activa e eficientemente, vastos contingentes da população portuguesa.
Mesmo que não contribuísse de forma muito sensível para atenuar o êxodo rural, a telescola prestaria sempre o inestimável serviço de preparar melhor vastas camadas de juventude, de tornar muitos portugueses mais capazes de servir e de prestigiar o País, dentro ou fora das fronteiras. As vantagens económicas, sociais, pedagógicas, e até de ordem moral, de a juventude não sair do seu meio para ambientes urbanos, distanciada e desacompanhada das famílias numa idade tão pobre de experiência humana e cheia de riscos, nem se discutem.
Atenuada ficaria a crescente concentração escolar, perigoso congestionamento que pode degenerar em crises de graves consequências. Aliviado ficaria ainda o Estado dos encargos que tal concentração acarreta no plano das construções destinadas ao ensino, do apetrechamento dos edifícios, do pessoal administrativo e do professorado. E quantas inteligências verdadeiramente privilegiadas deixariam de perder-se, aproveitando-se para a Nação! Os talentos são património não apenas dos ricos, mas também dos pobres, que são mais e, às vezes, mais ricos de vontade. Américo Marques Rajão, vencedor do concurso de construções na areia realizado na França, não é o primeiro nem será o último, porque há muitas asas que esperam a sua hora de voar ... Subiria, assim, o nosso património de valores e acelerar-se-ia o movimento de promoção nacional em curso.
Sr. Presidente: Estou a falar no condicional: «subiria», «acelerar-se-ia», porque toda esta perspectiva de esperanças depende de uma condição para se converter em realidades. Que se removam algumas dificuldades. Os resultados verificados mostram quanto foi eficiente a organização, o trabalho e a dedicação dos encarregados de posto e dos monitores. Muitos sacrifícios, porém, se escondem atrás daqueles resultados. Sacrifícios, e até compromissos económicos, espontâneos e sem cobertura, para não deixar descoberto ou sem tecto o grupo de um dos postos. Releve-se-me a parcelar indiscrição ... Não ignoro que as juntas de freguesia têm revelado compreensão, de aplaudir, dentro da notória limitação dos seus recursos. Gesto nobre o daquela entidade colectiva de S. Pedro do Sul brindando uma aluna que passou no exame com 17 valores com uma bolsa de estudo que lhe permita prosseguir. E não seria justo deixar sem uma referência o espírito de iniciativa, o dinamismo, a perseverança e até a discreta audácia dos encarregados de posto, cujos trabalhos e sacrifícios bem merecem de Deus e da Pátria.
A falta de casa apropriada constitui sério embaraço em muitos casos.
Não poderiam as Casas do Povo, nas freguesias onde existem, facultar as suas salas para esta actividade tão benemérita, tipicamente rural e popular?
Quando há boa vontade, as dificuldades evoluem, em muitos casos, para facilidades. E, se os dois Ministérios - da Educação e das Corporações - acentuassem as medidas de colaboração convergente, seriam mais facilmente superadas as dificuldades na base. Lucrariam as populações e as Casas do Povo encontrariam melhor compreensão e mais aceitação.
Outra solução seria utilizar as salas das escolas primárias. Mas, frequentemente, não é de aconselhar nem possível, dada a distância dos edifícios escolares, cujo local não raro foi escolhido por critérios mais paisagísticos que funcionais, e por obrigar a desdobramentos algo perturbadores.
Sr. Presidente: Em Santa Cruz da Trapa foi necessário que aparecesse um benemérito que, sem olhar à magreza da bolsa nem a orçamentos, levantou uma sala improvisada. O Estado concede algumas bolsas de estudo, subsídios para material didáctico e vai-se contando com descontos nos aparelhos de televisão. Mas estes, no fim do ano, carecem de reparação dispendiosa, se não de substituição. Com todos os prodígios ou milagres de economia, duas modestas salas de um posto não se apetrecham de mobiliário e material pedagógico com menos de trinta e cinco ou de quarenta contos.
E preciso pagar a três ou quatro monitores cerca de 200$ mensais a cada um. Bagatela que põe em relevo a dedicação de jovens professores primários, estudantes de ideal? Sem dúvida. Mas aonde se vai buscar essa bagatela, quando os alunos ou famílias são do nível - ou desnível - económico que se viu? O problema não se resolverá com subsídios de dois ou três contos por ano. Às vezes, até calçado e a própria alimentação, além de livros, tem o posto de oferecer aos alunos.
Requer-se, pois, mais substancial apoio económico. E parece razoável e não incomportável que os monitores sejam pagos pelo Estado e os encarregados do posto suportem apenas as despesas de montagem e manutenção.
Alguns reparos se fazem ao facto de o ensino dos postos ser oficial na origem, e não na recepção, sugerindo-se a sua oficialização total.
Também a muitos não parece razoável que, sendo o ensino essencialmente oral, se exija muito menos oralidade