2130 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 112
Em primeiro lugar, há que referir o ritmo acelerado e cada vez mais rápido dos progressos técnicos.
Com efeito, no decorrer dos últimos 30 anos, especialmente durante e após a segunda guerra mundial, a técnica sofreu impulsos prodigiosos em todos os sectores da actividade humana. Recordamos os múltiplos materiais plásticos e sintéticos, os novos processos de fabrico adoptados pela indústria, as máquinas de calcular electrónicas, que efectuam operações alucinantes, para não citar mais do que alguns exemplos ao acaso.
A segunda explicação diz respeito a uma das preocupações fundamentais; do nosso tempo - a do crescimento económico.
Nos países fortemente evoluídos, tal como nos países em vias, de desenvolvimento, existe uma preocupação dominante para os primeiros, a de manter em nível elevado o ritmo de crescimento económico; para os segundos, a de encaminhar as suas economias para esse crescimento, levando-os a ultrapassar o ponto a partir do qual a uma economia de subsistência se substituirá uma economia de concorrência. Isso exige, em primeiro lugar, um estudo atento de todas as possibilidades de que dispõe o país e a pesquisa dos seus pontos fracos e das respectivas causas; em seguida, a elaboração de um plano racional de expansão que congregue todos os esforços, quer públicos, quer privados, II fim de se assegurar a realização desse plano.
Podemos explicar ainda o desenvolvimento dos serviços de estudos e de investigação pela evolução das empresas, pela sua concentração cada vez mais intensa e pelo aumento das suas dimensões médias. Esta evolução exige uma repartição mais racional das funções directivas. O dirigente de uma empresa industrial ou comercial que ocupa centenas ou milhares de trabalhadores tem hoje de rodear-se de um estado-maior de colaboradores cada vez mais competentes, aos quais confia responsabilidades mais amplas.
Por outro lado, a dissociação da propriedade e da administração nas empresas de certa envergadura dá origem a uma nova classe de dirigentes, que se consideram como profissionais da direcção: engenheiros, homens de formação científica, economistas, juristas.
Assim, o chefe de uma grande empresa industrial moderna, não é mais o empresário que arrisca o seu próprio capital, fiando-se no seu próprio critério, mas sim um presidente ou um coordenador ao serviço dos accionistas, capaz de sintetizar os pontos de vista, dos seus chefes do serviços e dos diversos especialistas que o rodeiam e do tomar as decisões mais apropriadas, tendo em conta todos os factores em jogo o todos os argumentos que lhe são submetidos.
Tais são, rapidamente esboçados, os factores que explicam o aumento do número de quadros superiores, de serviços de estudos e de investigação, ao nível da empresa, da profissão organizada, e mesmo da economia, nacional.
Na realidade, os candidatos a estes postos não são suficientemente numerosos o por toda a parte surgem verificações amargas quanto à penúria dos seus efectivos. Receamos mesmo que a maior dificuldade que a execução do III Plano de Fomento venha, a encontrar resida precisamente, na falta do técnicos a todos os níveis, mas especial mento ao nível médio o superior.
O exame da evolução dos quadros de alguns graus de ensino nos últimos anos mostra que à ampliação quantitativa dos quadros árida ligado o risco de uma diminuição do qualidade dos elementos recrutados. K o que se nota, por exemplo, no ensino liceal, que em 1953 dispunha de 948 professores, dos quais 86 por cento tinham preparação pedagógica plena, e que em 1965, dos 2053 só 44 por
cento tinha conveniente formação. Isto quer dizer que ao aumento do número de professores correspondeu uma diminuição, em razão inversa, da sua qualidade.
Esta questão liga-se, em grande parto, à, situação material do professor, assunto que deve ser revisto quanto antes, pois com maus professores não pode haver bons alunos, nem boas escolas, nem equipamento bastante, nem reformas com êxito. Há precisamente um ano, referi-me, nesta mesma tribuna, aos resultados catastróficos dos exames de Matemáticas Gerais da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. A situação mantêm-se, com prejuízo incalculável para a Nação, que continua a lutar com falta de técnicos e investigadores, tanto nos quadros do Estado, como nos das empresas privadas.
Nos dois primeiros períodos de exame, na cadeira de Matemáticas Gerais do curso do Engenharia, de 169 alunos que tinham requerido o sou exame apenas foram à prova oral 13, dos quais ainda reprovaram alguns.
O número de reprovações, cerca de 95 por cento, é altamente alarmante e denuncia que alguma coisa está mal no nosso ensino universitário.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Costuma dizer-se que quando o número de reprovações é superior a 30 por cento é o professor o culpado pelo mau «aproveitamento.
De facto, é difícil compreender que haja tantos alunos incapazes e menos inteligentes. As razões destas reprovações maciças devem ir buscar-se mais fundo. Alguns estudantes queixam-se de que os professores passam o ano inteiro a dar matéria em grande velocidade para cumprirem o preceito do dar todo o programa; outros lamentam-se de que os professores exigem mais nos exames do que exigiam nas aulas, outros, ainda, acusam os professores de falta de preparação pedagógica e de pouca clareza na exposição das matérias; outros, finalmente, afirmam que determinados professores, dos mais novos, pretendem desprestigiar ainda mais o ensino, com o intuito de que as culpas deste estado de coisas sejam atribuídas ao Governo, se qualquer forma, não está bem, embora não queiramos atribuir as culpas destas reprovações a este ou àquele defeito, mas perguntamos como se pode compreender que as reprovações ultrapassem 90 por cento, o que equivale a dizer que só menos de 10 por cento dos alunos foram capazes de vencer a cadeira. E o que se verifica nas Matemáticas Gerais verifica-se também, embora em menor escala, noutras cadeiras das nossas Universidades. Onde está em erro: nos professores ou nos alunos? Na exposição deficiente das matérias ou na enorme exigência nos exames? As perguntas ficam formuladas e esperamos que alguém nos saiba responder.
Se voltei a esto assunto - o faço votos para que seja a última vez -, é porque tenho a certeza de ir ao encontro dos anseios do grande parte, se não da totalidade, dos estudantes universitários, e porque o reputo da maior importância para a Nação, que precisa de ser mentalizada para a expansão económica e social em que todos estamos empenhados. E essa mentalização tem de começar pelos mais responsáveis.
Sr. Presidente: Das considerações que acabo de fazer sobre alguns aspectos da proposta em discussão destaco, em resumo, os seguintes pontos:
1) Necessidade da diminuir o deficit da nossa balança comercial pela contracção das importações e expansão das exportações:
2) Máximo aproveitamento das regalias expressas no Anexo G da Convenção de Estocolmo: