6 DE MARÇO DE 1968 2609
Como se vê dos extractos indicados, são muito vultosos os encargos que oneram as mercadorias entradas nas ilhas, mas se a eles acrescermos as despesas do despacho efectuadas nos portos por onde suo remetidas, encontraremos totais verdadeiramente asfixiantes para a débil economia de cada ilha.
E assim bem se pode compreender a ansiedade com que os Açorianos esperam ver estirpado um dos inconvenientes que mais acerbamente os impedem de progredir e de que hoje nos fazemos eco nesta Assembleia.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Henriques Mouta: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: "O sistema de comunicações apresenta estrangulamentos a incidir nas possibilidades de desenvolvimento do Centro, em, consequência, nomeadamente, das barreiras montanhosas que dificultam a penetração no interior da Beira em condições de trânsito rápido, principalmente ao que se refere às ligações directas da Covilhã e da Guarda com o litoral."
Estas palavras não são minhas, transcrevo-as do relatório do III Plano de Fomento. Transcrevo-as e, desde já declaro e desejo sublinhar, concordo com elas, porque traduzem urna realidade. Acentuarei, porém, que a Covilhã e a Guarda muda dispõem do uma ligação por via larga. Viseu . . . nem com essa válvula de escape, para o seu tráfico, pode coutar.
Mas a cidade de Viriato - sem que ao facto atribua desatenção aquela zona de interesses, não deixo de apontá-lo -, a cidade de Viriato não é mencionada naquele passo do relatório, que foca a situação da Beira, no aspecto das suas comunicações e infra-estruturas económicas. Não obstante, Viseu fica bem no coração da Beira e constitui um. caso velho, mesmo muito remoto, na história das comunicações do País.
Já um 1854, quando na Câmara dos Deputados estava em discussão um projecto de lei sobre vias de comunicação, as Câmaras Municipais de Visou, Tondela, S. Pedro do Sul e Mangualde sugeriram o aproveitamento das antigas estradas de Aveiro, rumo ao litoral, e de Coimbra e da Guarda, em direcção à capital e à fronteira. O anseio e necessidade de comunicações com o litoral eram tão sentidos que chegou a preconizar-se o aproveitamento do Vouga, como via fluvial paru Aveiro, paralela à do Douro, rumo ao Porto. Mas a asfixia continuou. E em 1864 fazem-se representações ao Governo sobre o traçado das estradas Viseu-Albergaria e Viseu-Mangualde. Porém, o nó estrangulante era mais resistente que o górdio, que só a espada do grande Alexandre pôde cortar. E em 1866 representa, mais uma vez, a Câmara Municipal de Viseu ao Governo, agora no sentido de o caminho de ferro da Beira se aproximai- o mais possível da cidade. Mas o erário municipal não podia com os encargos do respectivo estudo e teve de limitar-se a confiar no Governo. E, talvez por ter pressa de chegar à nossa bela capital, não pôde fazer um ligeiro desvio, que não chegaria a curva da sua nascente e passou ao lado, deixando Viseu não a ver, mas a ouvir, as locomotivas a silvar, arrastando as composições . . . Já alguém observou, e foi recentemente, que Portugal não tem recursos bastantes para suportar os encargos de más estradas. Em posição paralela, todavia, naqueles tempos, sem dúvida árduos pura o erário público, não terá faltado quem pensasse que n economia da cidade e do distrito de Viseu não valeria uma ponte sobre o Dão, nem o ligeiro acréscimo de alguns minutos de percurso e de algumas libras de cavalinhos na verba orçamental destinada no caminho do ferro da Beira Alta.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Há erros que se pagam caro. Sobretudo em economia. E com o mapa da província e da metrópole nas mãos ninguém duvidará de ter sido erro crasso, de muito pesadas consequências para a economia de todas as terras do distrito de Viseu, e até para a economia nacional, ler-se consentido que a Beira Alta voltasse as costas, a pequena distância, à capital regional e ao principal centro populacional da zona. A situação actual e longe de satisfatória. Convimos todos em que as infra-estruturas do distrito de Viseu, no sector das comunicações, são gravemente deficientes ou inexistentes, retardando o processo de desenvolvimento, estrangulando iniciativas o tornando-as mesmo impensáveis. Julgo que foi para remediar o erro, que acima apontei, que em 1878 o padre Gaudêncio de Almeida Pereira, futuro bispo de Portalegre, apresentou nesta Câmara um projecto de lei para a construção de uni caminho de ferro que ligasse Viseu à linha da Beira Alta, por Mangualde. Porém, Tomás Ribeiro estava no apogeu da sua influência e opôs-se-lhe, contrapondo-lhe a ligação de Viseu com Santa Comba Dão, para- servir Parada de Comba. Saiu um ramal de via estreito, que parece moribundo. E Viseu tem hoje apenas débeis lios de ferro, em que deslizam composições de caixas de fósforos, que mais parecem brinquedo infantil que uin comboio a sério.
A vintena de quilómetros de via larga, a ligar Visou a Mangualde, não era, positivamente, solução ideal para o distrito, porque directamente serviria apenas a cidade que o encabeça. Mas era bem melhor que nada.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Nunca esquecerei c aplauso e alvoroço com que as populações do distrito e da cidade de Viseu acolheram as palavras de apelo que em Março de 1966, em seu nome foram daqui dirigidas às entidades competentes, no sentido de a Viseu se tornar possível comunicar, eficiente e rapidamente, com a capital. Sugeriu-se um estudo, com esse objectivo, A propósito da possível linha Pocinho-Vila Franca, que poderia ser Pocinho-Viseu.
E as forças vivas da cidade e distrito do Viseu vieram a Lisboa recordar tal sugestão, que o Sr. Ministro das Comunicações acolheu para estudo. E prometeu S. Ex.ª, como primeiro passo para a melhoria das comunicações de Viseu com o resto do País, e nomeadamente com o Porto, que seriam actualizados brevemente os serviços da linha do Vale do Vouga. As populações aguardam, com ansiedade, esse passo, como o primeiro, e confiam, um que seja uma das mais prontas medidas postas em execução, ao abrigo ou não do III Plano de Fomento.
Mas as comunicações com Lisboa são a grande artéria, indispensável à circulação económica de todo o corpo da cidade e distrito de Viseu. A transformação do ramal do Dão em via larga representaria grande melhoria, embora também se não considere remédio radical, por deixar por servir cerca de uma dúzia de concelhos do distrito. Melhoria seria também, apesar de tudo, uma auto-estrada, autêntica, dupla de sentido c de faixa de rodagem, de Viseu a Mangualde, a servir o tráfico da cabeça do distrito para a capital. Viseu fica perto da linha da Beira Alta, quer por Mangualde, quer por Nelas. Mas não obstante as grandes transformações da estrada Viseu-Nelas e o bom estado da de Viseu-Mangualde, Viseu sente-se mal servido,- demasiado distante para chegar a Lisboa e demasiado perto da via larga para renunciar a ela.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Ser ingrato é muito feio. E não reconhecer as dificuldades é falta de luz ou de honestidade. Não esqueço que o distrito de Viseu recebeu recentemente, consideráveis beneficiações que