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16 DE JANEIRO DE 1969 2937

mais susceptíveis de se deixarem explorar e seduzir por uma propaganda habilmente dirigida, a qual aproveitando-se da boa fé e ignorância dessa pobre gente e da sua ânsia de aprender e subir na escala social, com mentirosas insinuações e promessas tentadoras, lança nos seus espíritos A semente de ódio contra o homem branco, a revolta e a subversão. Constitui, por outro lado, essa camada da população a mais rica fonte de energia para o desenvolvimento económico do ultramar. Necessitamos do trabalho do português de cor em todos os sectores de actividade ultramarina: na agricultura, na indústria, nos serviços: mas para isso necessitamos de, "rapidamente e em força", os preparar, e na base dessa preparação terá de estar a aprendizagem da língua. Se a não fizermos, pode acontecer que o desenvolvimento económico desta ou daquela província se veja seriamente ameaçado, ou mesmo prejudicado, por não se ter sabido preparar a tempo mão-de-obra qualificada.

Não comungo da opinião daqueles que afirmam ser o desenvolvimento económico a determinante da promoção social dos povos. A mim parece-me que este tem de preceder aquele, se o desenvolvimento pretende ser verdadeiramente nacional. É impossível haver progresso se não se começa por valorizar o homem.

Sobretudo, ao empenharmo-nos na valorização humana e espiritual do negro português, de que a aprendizagem da língua é factor importante, não nos podemos esquecer que no centro do problema está o homem. Tem de ser dirigido para ele, e por causa dele, todo o nosso esforço. Ele é a, forca centrípeta que há-de atrair a si todo um conjunto de boas vontades, de sacrifícios, de fazenda e, sobretudo, de amor, para que a luz da civilização o subtraia às trevas da ignorância e do primitivismo.

Essa tem de ser obra de todos os portugueses que têm a honra de falar a língua de Camões: brancos ou pretos, homens ou mulheres, militares ou civis, todos, dentro das suas possibilidades, são chamados a dar o seu contributo a esta campanha de difusão da língua.

No meu entender, e pelas razões que tive a oportunidade de apontar, a campanha do ensino da língua portuguesa, falada e escrita, deverá iniciar-se pelos adultos mais jovens, atingindo progressivamente todas as camadas da população adulta: o ensino da população em idade escolar parece-me que deveria continuar nos moldes actuais, sem necessidade de alteração das estruturas já existentes; simplesmente, os Governos das províncias procurariam acelerar o plano vigente de escolaridade total.

Penso, também, que a campanha deve ser estudada e dirigida pelo Governo, que congregará todas as boas vontades daqueles que nela queiram comparticipar, quer activamente, quer por qualquer outro meio. Aos técnicos deixaremos o encargo do estudo e programação da campanha, e temos a certeza que eles saberão transpor todas as dificuldades que, se lhes depararem e que prevemos sejam muitas: contudo, não pude haver dificuldades intransponíveis quando está em causa o bem inestimável da cultura e do progresso social de milhões de portugueses e o próprio prestígio da nossa capacidade civilizadora.

E vou terminar dando o meu apoio no aviso prévio do Sr. Deputado Henriques Nazaré sobre a expansão da língua portuguesa, e servindo-me dos versos de António Ferreira formulo o voto de que muito em breve, do Minho a Timor.

Floresça, fale, cante, ouça-se e viva
A portuguesa língua (...)

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Gabriel Teixeira: - Sr. Presidente. Aproveito a oportunidade de subir a esta tribuna para saudar V. Ex.ª, por quem outro uma amizade fundamentada no conhecimento das suas qualidades de carácter e inteligência, amizade que não é Velha porque a mocidade de V. Ex.ª o não permita. A alegria com que o vejo a presidir aos trabalhos da Assembleia é ensombrado pela doença do Sr. Prof. Doutor Mário de Figueiredo, a quem peço que transmita os meus muito sinceros e respeitosamente amigos votos de completo e rápido restabelecimento.

Srs. Deputados: Se o ilustre colega Dr. Manuel Nazaré nos habituara, nos seus anteriores avisos prévios, a exposições claras, argumentos honestos e desassombrados, profundidade na análise dos temas versados, no actual aviso, sem fugir a estas "linhas mestras", eleva-se a excepcional altitude.

E, a lisonja não tem o mínimo cabimento nesta afirmação.

O problema agora versado, pela sua natureza, suas múltiplas facetas e delicadeza de algumas, destas, imbricando-se em tantos outros problemas, só admitia uma apresentação de "alto nível", como a que lhe deu o ilustre Deputado apresentante.

E tão completa foi a exposição, que, salvo repetições, só terão cabimento alguns apontamentos e exemplos comprovativos das afirmações feitas.

É o que me proponho fazer com base nos longos anos de estudo dos problemas de Moçambique.

Assim, quanto à tese de que a língua é o elemento mais importante de, compreensão, e portanto de amizade e colaboração dos povos, venho oferecer o testemunho dos factos, que passo a descrever.

A poucos meses da minha chegada a África, apanhei o intérprete da capitania a falsear um julgamento, "fabricando" perguntas e respostas para favorecer a parte culpada, que o tinha peitado.

Expulsei-o indignado, e, para pôr-me a coberto de casos semelhantes resolvi aprender a língua indígena, tanto mais que na zona costeira todos falavam o "swahili", a língua deixada pelos navegadores árabes na costa oriental da África.

A gratidão que hoje tenho àquele intérprete desonesto!

Falando-nos na mesma língua, o mundo novo que se abriu para mim! A sua concepção da vida, os seus usos, até as histórias sobre animais e pessoas mostraram-me a "alma" do indígena.

Permitiram-me compreender a inteligência dos seus usos e costumes, código perfeitamente conforme com a sua concepção da vida e com o meio.

Quantas vezes têm razão quando opõem uma resistência insuperável a certas inovações, mesmo bem intencionadas, de utópicos civilizadores?

E, por acréscimo, ainda conquistamos a sua amizade. Sentindo o nosso interesse por eles, abrem-se connosco, ficam felizes quando mostramos que os compreendemos e estimam-nos por isso.

Anos depois, em Macau, uma companhia indígena ali destacada completou os dois anos de tempo de comissão quando rebentou a guerra no Extremo Oriente, e não pôde ser rendida.

A certa altura o comandante, oficial distinto, começou a sentir um mal-estar geral entre os soldados. Apáticos, mal comiam, dois morreram, sem que os médicos encontrassem qualquer doença.

Por acaso era uma companhia recrutada em Porto Amélia. Fui visitar a companhia, comecei a conversar com os homens em "swahili" o apurei que o seu mal era a nostalgia da, terra, da qual já estavam afastados havia perto do cinco anos.