O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 175 3132

Com a língua se difundia a fé cristã, e de tal maneira interdependentes que em algumas regiões do Oriente, como em Malaca, onde se formou um específico crioulo, "papiá cristão" veio a significar "falar português".

Mas não só com a expansão da língua se preocuparam os homens desses tempos. O desejo de que o ersismo da lingua Portuguesa se fizesse através do próprio idioma nacional, e não um línguas estranha levou Fernão de Oliveira, autor da primeira gramática portuguesa, a escrever:

Apliquemos nosso trabalho a nossa língua e gente e ficará com maior eternidade a memória dele: e nam trabalhemos em língua estrangeira, mas apuremos tanto a nossa em boas doutrinas que a possamos ensinar a muitas outras gentes e sempre seremos delas louvados e amados porque a semelhança é causa do amor e mais em línguas.

Também António Ferreira se insurge contra o predomínio do castelhano, considerado como língua da corte e da cultura. em desfavor da língua Portuguesa. Diz o poeta, numa carta escrita a Péro Andrade de Caminha, pedindo-lhe que deixe de escrever em castelhano:

Do que se antigamente mais prezavam todos os que escreveram foi honrar a própria lingua e nossa trabalhavam.

O culto pela língua o a preocupação de defendê-la surge-nos através dos séculos, em muitos poetas e prosadores, como podemos observar numa curiosa obra de Agostinho do Campos, a que deu o nome de Paladinos da Línguagem sendo ele próprio um verdadeiro paladino.

Assim, este escritor e Pedagogo. referindo-se ao culto que os antigos poetas e prosadores dedicavam ao idioma, pátrio escreve:

Aprendamos com eles a amar a venerar e a defender a fala que herdamos dos maiores e que nos cumpre transmitir aos vindouros rejuvenescida, sim, mas não desraizada - capaz de acompanhar o desenvolvimento e avanço as ideias, dos factos ou das artes. mas sem perder o norte da sua origem e da sua tradição, da sua autonomia c da sua individualidade.

É bom isto na verdade, o que se pretende com a defesa do idioma que não põe em causa a evolução natural da língua portuguesa. dinamizada na sua projecção universal e enriquecida com novos vocábulos. O que se pretende, porém é que ela preserve a sua identidade, ou o que possui o autêntico e de vernâculo na sua formação vocabular e sintáctica.

Não só os Portugueses se têm preocupado com a defesa da língua. A língua Portuguesa, comum a Português e Brasileiro levou Olavo Bilae num discurso Pronunciado em Lisboa em l946 a dizer:

... e prezai a vossa língua, respeitando-a e libertando-a de feios aleijões do calão pesado que a desonra e dos estrangeirismos inúteis que a sobrecarregam
quanto aos estrangeirismos que a avassalam cada vez mais e a desnacionalizam, já aqui foi acentuada pelos ilustres oradores que me antecederam a necessidade de se criar uma fiscalização que evite a introdução desregrada, de estrangeirismos, que só deverão ser adoptados quando indispensáveis mas adaptados, tanto quanto possível, à índole da língua nacional.

Para conhecimento da Câmara, apraz-me dizer que em Moçambique existe, desde 1940, sendo então governador-geral o general Bettes court uma comissão oficialmente designada com o fim de zelar pela pureza da língua, comissão que é constituída por professores de Português dos liceu, a quem são dirigido todos os instrumentos de carácter público escritos em língua portuguesa para serem revisto?

Só depois de analisadas e aprovadas pela Comissão da Pureza, da Língua essas inscrições poderão vir oficialmente a público. Diz expressamente o Diploma Legislativo n.º 724, do 11 de Setembro de 1940 no artigo 1.°, que é obrigatório:
O uso da língua portuguesa em nomes de edifícios, tabuletas cartazes marcas de fábrica e de comércio nacionais, listas de mesa de hotéis o restaurantes e, bem assim, em todos os letreiros de carácter mais ou menos fixo e de leitura instintivamente forçada para quem passa.

Este diploma é aplicado nos anúncios e de uma maneira geral, em todos os dizeres que com qualquer fim e sob qualquer pretexto sejam postos à leitura do público, e manda que se cumpram outras disposições relativamente ao que exigem o culto, a pureza e o prestígio da língua portuguesa.

Foi uma medida prática e realista do Governo da província no sentido não ,só de se abster as frequentes incorrecções ortográficas e sintácticas na língua nacional, mas também para se evitar o uso de estrangeirismos, sobretudo anglicismos que se manifestaram, durante largo tempo, nessa província de uma maneira assustadoramente desnacionalizante.

Embora ainda hoje persistam palavras como flat introduzida em Moçambique na linguagem corrente portuguesa para designar andar ou apartamento e haja quem continue a dizer Polana Hotel a maneira inglesa, em vez de Hotel Polana a verdade e que com a vigilância obrigatória da Comissão de Pureza da Língua se notou uma melhoria no emprego do idioma nacional na vida pública e uma maior consciencialização das populações para o uso mais perfeito da língua pátria.

Aproveito para desta tribuna dirigir um apelo a todos quantos convivem com as populações autóctones do ultramar para que na difusão da língua, haja também a preocupação do seu ensino correcto evitando-se o que vulgarmente sucede, que é falar-se um mau português ao nativo por se julgar, erradamente que deste modo ele nos compreenderá melhor.

Vozes : - Muito bem!

A Oradora: - A verdade é que o autóctone, desconhecendo completamente a língua, aprendê-la-á como lha ensinam, de uma maneira incorrecta, distorcida, deturpada de tal modo que chega por vezes a ser caricata.

Que na difusão da língua, no seu ensino ocasional a quem não a tem como língua materna, se empreguem vocábulos simples, frases curtas, em resumo, uma linguagem acessível, isso sim, mas não deturpações fonéticas, morfológicas e sintácticas, erros crassos de gramática, que são verdadeiros atentados contra o idioma nacional que queremos difundido largamente, mas na sua forma correcta e precisa.

Vozes: - Muito bem!