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8 DE FEVEREIRO DE 1969 3135

e estreita correspondência e generalizarão de já efectuado pelo Sr. Deputado Nazaré que focou, particularmente, sector ultramarino e também deu lugar a tão útil apreciação desta Assembleia.

Não pude assistir ao discurso do Sr. Deputado Elísio Pimenta na efectivação, em 30 de Janeiro passado, do aviso em discussão. Pela leitura nos jornais das suas linhas mestras, só tenho de aplaudir a orientado nele definida.

Ao falar-se da defeca da língua, podem levantar-se dúvidas sobre a concepção que da língua se faça: só a correspondente a uma fixidez que se pretende dogmaticamente impor a todo o transe, como que de férula em punho; se, antes, correspondesse a uma entidade social viva e orgânica com elasticidade suficiente para se adaptar a circunstanciais temporais, contudo salvaguardando sempre o essencial da sua estrutura, da sua fisionomia específica e do seu espírito próprio.

Como a generalidade dos oradores que sobre o problema se vêm pronunciando, o douto avisantes segue a segunda das formuladas orientações, e é dentro do respectivo critério que reclama se processe a defesa da língua, de uma língua que, aliás, não permaneço estática nem no tempo nem no espaço, segundo a epígrafe de O Século ao interpretar o seu pensamento.

Muito bem: inteiramente de acordo.

Podia recear-se que ao caso se quisesse aplicar aquela critica que Eça fazia aos tributários de Camilo - que não a este - na carta que lhe dirigiu e só acha publicada nas suas últimas páginas. Nela. Eça. depois de realçar que os mesmos admiravam sobremaneira nele "o homem que em Portugal conhece mais termos do dicionário , o louvaminhavam "como o grande homem do vocábulo esteio forte de prosódia, restaurador da ordem gramatical, supremo arquitecto das frades arcaicas, acima de tudo castiço e imaculadamente purista.

Não é segundo esta linha que a defesa se propugna, e ainda bem porque seria pretender defendê-la pela munificação.

E já que falamos de Camilo e Eça. lembremos quanto, na sequência de Garrett, estes três, acompanhados de Ramalho. Oliveira Martins do próprio Fialho, mesmo com as suas dissonâncias, contribuíram para o arejamento do nosso idioma, aproximando-a, quando escrito, da realidade falada.

Ora é este idioma, com as suas estruturas de raiz e caule sólidas e sadias e a amplitude crescente e aberta da sua copa evidente que reclama uma elaborada e eficiente defesa.

Sem deixar de apregoar as devidas boas á beleza da nossa língua, gente prática que nos cumpre ser nesta época de mecanodinamismo despótico, temos de encarar os meios que mais conduzam a uma defesa permanente da língua, pois constantes são as infiltrações e tensões que ameaçam deteriorá-la. Já que embora culminante, se trata de valor terreno, urge mais do que acompanhar o êxtase de Maria, acicatar o zelo de Marta.

Neste sentido, já desta tribuna furam apontadas múltiplas formas de intervenção pública ou empresarial junto dos órgãos de informação c culturais. Hoje já não se limita a correspondente difusão à imprensa, sobretudo jornalística, embora ela continue à cabeça na respectiva hierarquia. Lembremos sempre e teatro, o cinema, a radiodifusão, a televisão.

No campo destes meios, para o efeito da defesa da língua portuguesa, duas coisas se impõem: primeiro, o policiamento da língua, que, sobretudo, se deve, obter pela segurança na preparação dos jornalistas e locutores; segundo, promover frequentemente emissões ou espectáculos de valor literário e de cultura portuguesa.

Em todo o caso parece-me haver processos aparentemente menos directos de que me proponho enumerar dois mas que devem encarar-se como indispensáveis para suporte, um e outro para a defesa e promoção de lídimo falar português.
Já se lê destes o primeiro terá de ser na dita companhia do ilustre Deputado Sr. Cónego Monta, a reposição do latim como matéria a estudar no ciclo geral do liceu. É a quarta vez pelo menos, que nesta tribuna nos ocupamos do caso. Sessões de 3l de Janeiro de 1964. de 24 do mesmo mês de Abril e de 13 de Fevereiro do ano passado.

As deficiências que no ensino superior se notam quanto á preparação em língua portuguesa quando os alunos ali chegam deve-se sobremaneira, à ignorância basilar do latim, língua integradora e permanente tutora, quer se queira, quer não, do nosso falar. Isto decerto, longe de pretender aproximar-nos hoje do almejado propósito camoniano do reajustamento das duas línguas que exprimiu nos sabidos versos:

E na língua na qual quando imagina com pouca corrupção crê que é bonita.

A substituição de algumas horas de português pelo latim quero crer que imprimiria espectacular desenvolvimento e segurança na utilização do pátrio idioma. Isto sem falar na achega ao estudo das línguas irmãs, neolatinas lá se vê que para a possibilidade deste regresso ao latim. haverá que simplificar noutras matérias também o pelo dos programas. No que só me parece haver a lucrar. Nem se contradiga com o argumento de que esse latim de três anos em classe fosse suficiente para se traduzir os grandes clássicos; e assim, para quê tanto esforço sem finalidade à vista. Decerto que normalmente isto se dá. Mas o benefício informativamente vivo daquela língua morta traduz-se sobretudo, não em fazer latinistas. mas impor coordenadas seguras no uso do português, Os elementares de latim serviriam como um corrimão seguro, que mesmo não se usando pela sua presença permitiriam conscientemente seguir com maior segurança na declivosa pendente da deterioração do idioma que nos ameaça.

Já se vê que o estudo do latim deverá metodizar-se de outra sorte que não aquela por que o aprendemos numa tradição multissecular, particularmente desde a Renascença, e que já Verney criticava construtivamente. Porque em vez de pretender traduzir os trechos dos grandes clássicos, não passar a utilizar o latim do fim do Império em particular o da Bíblia Vulgata, que sem ser incorrecto, não visava o sublime ou elíptico da locução, mas antes se queria mais popular, para ser entendido geralmente por todos.

Isto além de outras óbvias vantagens espirituais!

Encaremos agora o segundo meio supra - aludido. Seria esse o estudo do português em prejuízo de uma gramática excessiva, até porque compartilhada em tantos aspectos, concordantes ou divergentes com o de latim, a de uma impregnação de textos dos grandes escritores portugueses. já por leitura das suas obras na íntegra ou em parte já em múltiplas antologias, E não só a dos escritores consagrados de alto coturno, mas os mais directos e populares como Mendes Pinto. Gaspar Correia. Chiado e o Judeu, a par de Gil Vicente.

Esta impregnarão de textos desde Fernão Lopes, gradualmente instilada aos alunos desde a instrução primária até ao final do 3.º ciclo do liceu, servir-lhe-iam. Por.