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8 DE FEVEREIRO DE 1969 3133

A Oradora: - Embora de começo o nativo não deixe de sentir certas dificuldades inerentes à aprendizagem de uma língua nova, que possui uma estrutura completamente diferente, da materna, e pouco e pouco, pelo ouvido e pela prática se vai habituando nos novos sons e às novas turmas da linguagem nacional.

Não sejamos, pois, nós a contrariar esta evolução gradual e positiva e a contribuir, com a nossa negligência a indiferença, para que o nativo aprenda um português deturpado. Antes, com paciência, sem a ridicularizarão que inferioriza e inibe, quem aprende, façamos quanto esteja ao nosso alcance para que se difunda a língua portuguesa íntegra e correcta.

Será mais uma campanha a fazer-se para a difusão e defesa da língua no ultramar.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Vem a propósito lembrar, mais uma vez, a necessidade de se estudar um português fundamental, tão debatido e apoiado nos vários simpósios e congressos luso-brasileiros de língua portuguesa, com fim de do facilitar ensino do português, não só aos estrangeiros, mas, também aos portugueses que não têm a língua portuguesa como língua materna o aos que vivendo no estrangeiro, a esqueceram ou a falam com grande dificuldade.

Parece-me que dentro da política da língua portuguesa, que se impõe fazer este será um dos primeiros caminhos a seguir.

Na defesa da língua há a considerar os esforços que devem ser feitos em ensino propriamente dito através das escolas e professores, e os que igualmente são necessários nos ambientes extra-escolares e nos diversos aspectos da vida quotidiana da sociedade, em que vivemos nu em que vivem comunidades de língua portuguesa.

No que diz respeito à linguagem, poderemos dizer que o papel da escola, ou melhor, do professor de Língua Portuguesa, é hoje menos acentuado, pois que com os modernos e poderosos recursos, diremos mesmo aliciantes meios, de difusão da língua, quer falada, quer escrita, como a rádio, a televisão, as legendas do cinema, os jornais e as variadíssimas publicações de todo o género, ela é ensinada um pouco por toda a parte. E este facto, que poderia vir em auxílio do professor de Língua Portuguesa, torna-se-lhe, quantas vezes. adverso, precisamente porque a expansão da língua se fax de uma maneira desordenada e plena de incorrecções.

Como já aqui foi sugerido, há a necessidade da criação de um organismo oficial que zele pela língua nacional, coordenando os esforços, das instituições já criadas que se dedicam ao estudo da língua portuguesa, vigiando a sua difusão de uma maneira frequente c precisa, orientando não só os professores que a ensinam, mas também todos os que a propagam publicamente, tais como os jornalistas, os locutores da rádio e da televisão, e até mesmo o público interessado, por meio de revistas e boletins instrutivos condindo regras e padrões a seguir no uso da língua.

É de apoiar a ideia, sugerida pelo ilustre Deputado Leonardo Coimbra na sua intervenção, de se criarem lugares de consultores de língua portuguesa junto da. televisão e de todas as emissoras de rádio, à semelhança do que já se faz na Emissora Nacional, e eu acrescentaria, mesmo peritos da língua junto das repartições administrativas.

E se algum dia se vier a criar a tão desejada escola de jornalismo, não se deixará decerto, de atender às necessidade de se introduzirem nos programas cursos de língua portuguesa.

Torna-se também necessária a publicação de dicionários de pronúncia, de livros práticos sobre o vernáculo, ou seja expressões correctas, glossários e prontuários com nomenclaturas científicas, médicas, técnicas e administrativas, dicionários de estrangeirismos, onde se possa facilmente inquirir se tal ou tal expressão e estrangeira, evitando-se assim o emprego de galicismos e anglicismos inadmissíveis, dicionários sobre nomes próprios, manuais simples e bem exemplificativos da sintaxe portuguesa e outros livros de natureza prática sobre os vários aspectos do idioma e que muito contribuiriam para a sua defesa. Neste campo de livros práticos são pródigas as línguas estrangeiras, e a nossa, confrangedoramente pobre.

É certo que de vez em quando surgem pequenas obras auxiliares do estudo da língua, mas além do poucas, ao geralmente incompletas e imperfeitas.
Importa também que livros desta natureza sejam de preço acessível, para que possam ser mais largamente adquiridos e vulgarizados.

Como acima disse os modernos recursos áudio-visuais poderão, quando bem utilizados, ajudar o professor no ensino e defesa da língua portuguesa.

Temos disso já uma experiência feliz no País com a rádio educativa e escolar e a telescola. Sabemos que um plano expressamente, feito pelo Instituto de Meios Audios - Visuais de Ensino está a ser aplicado no ensino do português ,aos soldados do Norte de Moçambique. Seria de desejar que se pudesse, estender essa acção a toda a província através da rádio, enquanto não surge a televisão, que esperamos não tarde, para bem da difusão e defesa da língua no ultramar, particularmente, em Moçambique.

O ensino da língua portuguesa deverá ser feito de uma maneira actualizada, com os métodos modernamente adoptados no ensino das línguas vivas.

Tem-se estudado o português mais como uma língua morta, preocupando-nos, sobretudo, com os aspectos gramaticais, filológicos e linguísticos e ainda histórico - literários o que sem dúvida, é importante, mas não basta para se atingirem os múltiplos objectivos do ensino do idioma.

O professor de Língua Portuguesa deverá ter em conta as várias finalidades do ensino da língua, ou seja o aspecto formativo e informativo da língua portuguesa, despertando no aluno, por meio dela, a capacidade de interpretação o reflexão, o espírito crítico, o poder da síntese, a elocução, o diálogo, a expressão oral e escrita correctas, ao mesmo tempo que lhe desenvolve o gosto estético através da leitura de bons escritores clássicos o contemporâneos.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Mas para que este ensino se possa realizar eficientemente, há necessidade de uma reforma de métodos, programas e meios de acção.
Como pensar em novos métodos de ensino, na aplicação da reforma da nomenclatura gramatical e no uso de modernas técnicas no ensino da língua portuguesa sem que os professores estejam mentalizados e preparados para tal?

Se na metrópole alguma coisa se vem fazendo neste sentido, enviando-se ao estrangeiro professores de línguas para contactarem com os modernos centros do ensino de línguas, no ultramar, pelo menos em Moçambique, continuamos, rotineiramente, a ensinar a língua portuguesa como sabemos e podemos, não raras vezes por professores que não são da especialidade, através de livros de textos nem sempre perfeitos e das velhas gramáticas de nomenclatura discutível e desigual.