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22 DE FEVEREIRO DE 1960 3247

mais activa, entre os 20 e os 60 anos, reside no fenómeno social a que já me tenho referido noutras oportunidades, a par das implicações positivas e negativas que acarreta: o da emigração.
Não me atrevo a dizer que se deva procurar orientar e corrigir as tendências referidas, no sentido que se julgue mais conveniente para a humanidade, pois qualquer tentativa nesse sentido teria de ser tomada em comum, o que se apresenta impossível num mundo em que as chamas da dúvida e da incompreensão ateiam as fogueiras de ódios nas quais a humanidade se lança cegamente. Somos forçados a cingir-nos ao nosso mundo e procurar nele e para ele as metas que nos indiquem o sentido do nosso esforço.
O aumento progressivo do número de pessoas idosas é um facto incontroverso, quer analisando esse aumento em número absoluto, dependendo do aumento apreciável da esperança média de vida, que em trinta anos, graças aos progressos médicos, subiu de 57 anos para 70, quer analisando-o em valor relativo, na dependência dos factores já referidos.
Quais os reflexos sociais desse aumento? É um ponto sobre o qual algo gostaria de dizer.
O velho, hoje, já não é considerado o patriarca, o fulcro do movimento familiar, a pessoa que se escutava e a qual não se faziam sentir os possíveis efeitos fisiológicos de uma idade avançada; cercam-no gerações de inconformistas, a juventude na sua ânsia de gozo e de independência, que, não só não o escuta, como se torna agressiva e, por vezes, o amesquinha se realça aspectos de uma parcial ou total incapacidade, analisando-a cruamente. Esta atitude é, em relação aos diferentes países, tanto mais marcada quanto neles mais impera o materialismo sobre o poder das tradições.
Este estado de coisas é agravado pela reforma, que, para o velho, conduz a uma inactividade, à noção mais exacta da aproximação do final e, quantas vezes, à sensação de que se está a mais no Mundo, o que leva, por vezes, a atitudes desesperadas. Este conjunto desencadeia no indivíduo perturbações psicológicas, que se vão acentuando à medida que sente uma regressiva decadência física, à medida que se vai deformando, pela força das realidades, a imagem que fez de si próprio; isto leva-o, irresistìvelmente, ao isolamento, atitude que Freud interpretou como uma volta ao narcisismo da juventude, mas que me parece mais lógico, como o quer Furtado, ser o resultado de uma atitude defensiva do eu que pretende egoìsticamente manter, levando-o geralmente à exacerbação de atitudes por vezes ridículas aos olhos de outros.
A quebra dos seus atributos físicos, a incapacidade de raciocínio perante um mundo que se modificou e ao qual não se adaptou, a falta de memória, sobretudo dos factos recentes, levam-no a atitudes que cada vez mais o afastam dos que o cercam. É então que no seu espírito nasce uma ansiedade latente perante o problema da morte, que pode, mais tarde, e se o rodar do tempo o permite, transformar-se em serenidade perante a força do destino.
Num terceiro e último aspecto daquilo que estou tentando transmitir-lhes, gostava de dizer umas palavras sobre a maneira de combater e atenuar o inexorável.
O aumento progressivo do número de pessoas idosas e o incremento das suas crescentes dificuldades sociais num mundo como o actual, que não as minimiza, antes as realça, foram os pontos até agora focados e justificados deste, último, pelas alterações psicológicas que se desencadeiam nos indivíduos da terceira idade.
De entre os traumas psíquicos que podem, directa ou indirectamente, afectar a velhice, como o desaparecimento daqueles que com ele se movimentam em determinado ambiente, a crescente dificuldade da vida em comum nas grandes cidades, o que, em parte, condiciona o seu afastamento e isolamento, há a realçar, como dos mais importantes, a reforma. A reforma, não só porque acarreta com ela o fenómeno da inutilidade, mas também porque, na maioria dos casos, lhe soma uma preocupação financeira; são palavras de um relatório da Organização Mundial de Saúde as que transcrevo:

As pensões de reforma são insuficientes e a pobreza é uma das características mais salientes e mais constantes da sorte das pessoas idosas de todos os países.

Para tentar combater os males que advêm da reforma, uma possibilidade desde logo se impõe: o trabalho dos velhos. Isto não significa a alteração de um limite de idade, pois somos dos que defendem como moral e socialmente justificável a existência de um limite, mas sim a aceitação da possibilidade de um trabalho para aqueles de mais de 05 ou 70 anos, que fosse benéfico para os que o produziam e para os que dele beneficiassem.
Sabe-se que o rendimento do trabalho diminui a partir dos 60 anos, em média, sobretudo aquele que exige reacções e reflexos rápidos; executado por indivíduos de idade mais elevada, traz diminuição de produtividade, embora quase sempre se possa admitir uma maior precisão. Isto leva a pensar na adaptação do velho a novas tarefas, tarefas que não exijam grande desgaste por esforço físico.
Não foco, intencionalmente, o crucial problema do abrigo para os velhos isolados, em cuja dependência se. podem apontar tantos factores de ordem social já aqui referidos e estudados; não me refiro também ao problema dos velhos incapacitados por uma doença aguda ou crónica, pois esse aspecto levaria ao estudo das estruturas hospitalares, que não poderão deixar de prever sectores próprios para os incapacitados, nos quais a assistência adquire características inteiramente diferenciadas, que impõem a sua separação.
Para que o indivíduo só tenha de recorrer a este tipo de assistência o mais tardiamente possível, é preciso mante-lo nas melhores condições físicas e mentais; cresce assim, e parcialmente se individualiza, um novo ramo da ciência médica, enquadrado na patologia, que se designa por «geriatria».
É, em minha opinião, absolutamente necessário que esta especialidade passe a ser considerada nos programas das cadeiras de Patologia, Clínica e Psiquiatria, principalmente; talvez não se justifique a existência de um ensino separado, não só porque as noções que todo o clínico deve ter se distribuem por diversos ramos do ensino médico, como também porque, sendo a geriatria uma ciência em que os aspectos dominantes são mais preventivos do que curativos, a eficiência da sua acção deve basear-se numa previsão das possíveis alterações senis, de que se pretender e tardar o aparecimento.
É um ponto discutível, admito, e porque este, como tantos outros, necessitam de estudo e ponderação, subscrevo qualquer moção que recomende a constituição de uma comissão de estudo, conforme sugerido pelo Sr. Deputado avisante.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: O que transmiti foi pouco, fraca contribuição para a finalidade em vista, como que apelo à consciência dos jovens e dos responsáveis perante o angustiante problema da maioria dos velhos. Que algo seja possível fazer no sentido de levar os que chegaram à terceira idade a encarar a aproximação