3332 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 186
maneira que é impossível ao aluno de Medicina pensar em abarcar iodos os conhecimentos que seria possível ministrar-lhes; mas é também necessário que esse aluno não se convença que, ao terminar a sua licenciatura, se encontra apto a exercer a medicina e a comparticipar na acção de defesa da saúde do seu semelhante. Necessário se torna que se revejam os programas das cadeiras do curso médico, no sentido de transmitir ao aluno os conhecimentos básicos de que necessita para prosseguir na sua preparação. Mas nessa revisão não basta eliminar o que é supérfluo para essa educação de base, sendo necessário que os programas passem a reflectir os problemas da medicina actua . E ao dizer estas palavras, tenho no espírito o exemplo da medicina tropical, que, não reconhecendo hoje as clássicas barreiras geográficas, deve fazer parte, no que se considere essencial, do programa de ensino de Medicina de todos os alunos das Faculdades de Medicina. Muito obrigado, Sr. Presidente e Sr. Deputado.
O Orador. - Agradeço-lhe, Sr. Deputado Salazar Leite, as palavras que pronunciou em reforço das considerações que venho expondo, tanto mais provindo de um mestre a quem a ciência e o ensino tanto devem.
É necessário também convencer certos médicos jovens de que agora, ao contrário do que acontecia com o pai e o avô, o médico não sai formado da sua Faculdade de Medicina. Ele é, neste ponto, uma espécie de prematuro, com necessidade de uma assistência especial continuada, complementar do seu desenvolvimento. Que este conceito biológico não seja tomado em sentido pejorativo no que se refere ao novo médico, nem se lhe atribua a intenção de menos respeito pela Faculdade que lhe conferiu o título.
Nessa reforma do ensino não há só que atender à estrutura do curso e à preparação do futuro médico. Há que procurar evitar que continuem a manter-se durante tam-tos anos nu na carreira de docência universitária tantos dos nossos jovens doutorados sem poderem atingir a cátedra.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Seria do maior interesse saber porque é que tanto dos que se doutoraram ou fizeram os seus concursos de agregação ou de professores extraordinários continuam anos e anos sem atingir o cume. Tem-se a impressão de que se desaproveitam os melhores anos do seu labor, que se aniquilam as suas melhores qualidades nesse longo interregno e que se afugentam outros da carreira universitária.
Pensa-se que muitos dos nossos mestres que iniciaram a sua carreira universitária em plena juventude chegam à cátedra quando já mereciam entrar na reforma.
Sr. Presidente: Pelo que respeita aos hospitais, todos sabemos que a sua estrutura não corresponde às nossas actuais exigências. Já um dia aqui disse que, por mais que custe a certos técnicos, o médico há-de estar sempre na base da estrutura e do funcionamento do hospital. O hospital não é uma empresa industrial -é muito mais do que isso. Acima deste conceito contabilístico está a sua nobilíssima missão de assistir humanamente aos doentes, de preparar pessoal médico e paramédico, de ser centro de ensino e de investigação. Sei que a frase foi mal interpretada; mas, na verdade, eu só quis chamar a atenção de quem de direito para certos desvios de concepção, que, a manterem-se, continuarão a avolumar graves prejuízos para este país de tão escassos recursos e de tão grandes necessidades, que se não pode dar ao luxo de certos desperdícios ou de certos caprichos.
Todo o hospital deve ser simultaneamente centro de assistência e centro de ensino. Não se me leve a mal que eu diga que sempre assim o considerei e não se desvirtue a intenção do que vou dizer. Desde a primeira hora, em 1946, na pequena instituição cuja direcção clínica me foi confiada, orientei o trabalho nesse sentido, a despeito dos poucos recursos de que dispunha.
Pretendi desenvolver os serviços e criar-lhes condições de funcionamento de modo que pudessem merecer o reconhecimento da idoneidade para estágios de especialização pelo conselho geral da Ordem dos Médicos.
Obtido este, entendi que era nosso dever corresponder a essa distinção, procurando manter os serviços no melhor nível possível.
Ali se prepararam obstetras, ginecologistas e pediatras que mereceram aprovação nos seus exames para especialistas perante júri da Ordem dos Médicos. Ali se continua, com ritmo regular, a ajudar a preparação técnica de novas camadas, à sua educação em medicina preventiva e em medicina social e à actualização dos conhecimentos nas especialidades que ali se seguem. Nunca perdemos a oportunidade de chamar a atenção dos médicos para os problemas de saúde pública em relação com a assistência da maternidade e da infância e procuramos
convencê-los de que a solução destes e demais problemas de saúde pública não está dependente só dos especialistas, mas sim da formação a dar a todos os médicos.
Devo aqui dizer que foi com a maior satisfação que recebi a dupla autorização -do Prof. Bissaia Barreto, como director do Centro de Saúde e Assistência Materno-Infantil, e do Prof. Vaz Serra, director da Faculdade de Medicina de Coimbra para ali, naquele centro não universitário, poder ministrar parte do ensino da cadeira de Clínica Pediátrica e Puericultura e para aproveitar aquelas instalações para uma melhor preparação em puericultura dos futuros médicos.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - E, já que abordei o problema das modernas funções dos hospitais, seja-me permitido contar o que se está passando em Espanha desde há pouco mais de um ano. Em Dezembro de 1967 foram convocados para uma reunião na Clínica Puerta de Hierro, em Madrid, os directores e os mais importantes membros de um grupo de hospitais espanhóis que, por tradição, eram reconhecidos como mais qualificados para garantir uma boa formação de graduados, nas diferentes especialidades. Assim se constituiu o Seminário dos Hospitais com Programas de Pós-Graduados, e se formou também o Comité de Acreditación de Hospital es, destinado a apreciar as condições daqueles que viessem a propor a sua admissão no Seminário.
Se era certo que havia intensa formação de médicos especialistas em diversos hospitais, também era verdade haver necessidade de unificar critérios de preparação à luz da moderna medicina. O ano de 1968 foi consagrado a novas reuniões, tendentes a unificar conceitos, a rever programas e a aperfeiçoar técnicas. Assentes os programas a executar, houve que averiguar quais os hospitais que estavam em condições de os cumprir.
Não bastava que na sua frontaria estivesse escrita a palavra «Hospital», era necessário que pudessem considerar-se abrangidos pelas normas mínimas impostas pela Organização Mundial de Saúde, pela Associação Hospitalar Americana e por outras instituições especializadas internacionalmente reconhecidas como idóneas para impor tais exigências. Pois bem, a despeito dos progressos hospitalares realizados em Espanha nos últimos anos, houve que