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27 DE NOVEMBRO DE 1970 1017

deamento dos factos políticos e sociais, a dedicação desinteressada, essa entrega completa, esse sacrifício ao bem comum», foram dons que carismàtimente recebeu e que os acidentes da sua vida robusteceram. Por isso, a Nação adoptou-o como seu guia espiritual. Era um chefe natural.

E quando assim é, a adesão é total, espontânea e sem constrangimentos.

Assistimos também a isso, desde há dois anos, em relação ao eminente homem público que lhe sucedeu.

Mas, a par da sua vigorosa personalidade de governante, encontramos, para além do pensador fecundo, do prosador inconfundível, o homem, sensível às coisas simples, absolutamente desprendido das coisas materiais, sempre igual a si mesmo, incapaz de uma deselegância ou de maldade, e o cidadão que ensina a obediência aos poderes constituídos e que assume o Poder apenas para realização de um imperativo da sua consciência de português.

«Pobre, filho de pobres», saiu tão pobre como entrou. As especiais circunstâncias em que me encontro permitem-me afirmá-lo aqui e à Nação.

Humilde, quis regressar à humildade donde proveio e à paz do cemitério da sua terra.

Não deixou aos seus património material, mas legou-nos a todos um excelso património moral e, valiosamente acrescentado, o património comum.

Partamos dele, para fazer mais e melhor.

Foi esta decerto a sua última vontade.

Cumprindo-a, honraremos a sua memória.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Sr. Presidente: Quando em 1928, ao assumir o cargo de Ministro dos Finanças, o Doutor Oliveira Salazar anunciou os quatro pontos base em que deveria assentar uma acção, que havia dê redimir a Pátria de tantos erros acumulados através dos tempos, poucos seriam aqueles que pensavam que só quarenta anos volvidos, e abatido pela doença, esse estadista genial, esse homem honrado e bom que ao País consagrou em dádiva total a sua própria vida, interromperia uma acção governativa constante, servida por indómita e lúcida determinação de continuar, inflexivelmente, a obra de ressurgimento nacional a que se dedicara.

Salazar escreveu, em carta dirigida ao então Chefe do Governo, que «aceitar o encargo representava tão grande sacrifício que por favor ou amabilidade o não faria a ninguém». E, acrescentava: «Faço-o ao meu país como dever de consciência, friamente, serenamente cumprido.»

E cumpriu! Durante quarenta anos, Salazar foi sempre igual a si próprio; silenciosamente, amas com uma vontade férrea, com um sentido de previsão insuperável; com aparente frieza, mas com uma sensibilidade enorme, suportou quatro décadas de governo, dizia eu, primeiro como Ministro dais Finanças, a cujas mãos iam ter todos os problemas vitais paia o País, e sempre dentro de total seriedade de princípios que orientaram, aliás, o trabalho de uma verdadeira equipa governativa, pôde revelar à Nação a vontade decidida de regularizar, por uma vez, a vida financeira e, consequentemente, a vida económica portuguesa. E não houve milagres no que se fez; se alguma coisa de milagroso aconteceu, teria sido talvez o do próprio aparecimento de Salazar, que, com a sua generalidade doutrinou e deu forma política ao movimento militar que redimiu a Pátria no doa 28 de Maio de 1926, consolidando as punias intenções que haviam levado os seus promotores a pôr cobro ao caos que ameaçava submergir o Bafe. Apenas houve, como disse o Doutor Marcelo Caetano «quando da monte do Presidente Salazar, «a aplicação como Ministro dos mesmos princípios que ensinava na cátedra».

Segundo ainda afirmou aquele estadista, em síntese lapidar: «... as finanças sanearam-se, e a vida regrada do Estado foi o alicerce onde firmou a solidez da moeda, a disciplina da Administração, o ressurgimento da economia.» E, continuando: «abriram-se escolas, rasgaram-se estradas, construíram-se portos, lançaram-se pontes, ergueram-se edifícios para que os Portugueses pudessem tirar maior partido do seu trabalho e aspirar a uma vida melhor.» Referindo-se depois à indisciplina dos partidos e a crise de autoridade, males que estiveram na raiz da Evolução Nacional, o Presidente Marcelo Caetano disse que Salazar, «inspirando-se na experiência política portuguesa e no carácter do povo, foi o autor da Constituição plebiscitada em 1988 e que ainda hoje nos rege. Nesse diploma fundamental - prossegue - se consagrou o sistema corporativo que introduziu em Portugal uma sã, constante e progressiva política social. Não havia nada feito em benefício dos trabalhadores: toda a legislação que hoje protege o mundo do trabalho nasceu daí», concluiu.

Quando um estadista da envergadura do actual Chefe do Governo - um dos grandes colaboradores do Doutor Oliveira Salazar na obra levada a cabo - fala desta forma à Nação, perante os restos mortais de quem o antecedeu no alto cargo para que fora chamado, que mais poderá dizer-se e pensar-se senão que o País perdeu de facto, com a morte do Presidente Salazar, um Homem? Um daqueles homens raros que de séculos em séculos aparecem na vida dos povos!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Como podem, com efeito, os demasiadamente impacientes ou os excessivamente jovens e inexperientes negar aquilo que afirmou Marcelo Caetano, que tantos pretendem seguir apressadamente; alguns a quererem dar a impressão de que nunca confiaram em mais ninguém! Para quê e com que fim, se, serenamente, o seu guia também «sabe o que quer e para onde vai», e, sobretudo, com quem pode e deve contar?

Marcelo Caetano, com a sua personalidade, superior inteligência e tacto político, não se vinculou nunca, rigidamente, à forma de governar que Salazar personificava; excluo, claro está, ao fazer esta afirmação, o ultramar português, a cuja defesa intransigente o actual Chefe do Governo tantas vezes se tem referido e em termos tais que constituem, só por si, a mais formal garantia de que o rumo seguido pelo Presidente Salazar será mantido sem desvios, pois é o único aconselhável a unidade da Pátria na sua verdadeira expressão e grandeza.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas, prosseguindo, ao proclamar «evolução na continuidade», alguma coisa de novo previu que sucederia: evolução de métodos, readaptação de estruturas, mas nunca o repúdio daquilo que, segundo ele próprio, estava na base de uma etapa decisiva do progresso do País; progresso que mil vicissitudes de origem externa e interna prejudicaram, mas que foi real e indiscutível; não é preciso ser-se velho, nem gasto, nem ultrapassado, nem, tão-pouco, estar imobilizado, para poder reconhecê-lo! Basta, para tanto, apenas ter-se objectividade, consciência e analisar os factos registados num passado recente, demasiado recente para poderem ser ignorados ou sequer esquecidos! Salvo, claro está, para aqueles que