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20 DE JANEIRO DE 1971 1383

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sonhar de um Douro replantado pelo preço que acha possível para uma reconversão em termos de mecanização, que não concebo nem acho viável.

Mas quanto ao aspecto atrás focado, ocorre-nos perguntar:

Não serão hoje, no Douro, pequenos lavradores, mais infelizes lavradores, os de 60, 70, 80 e mais pipas que não podem fazer por si os granjeios necessários nem têm possibilidades de pagar uma mão-de-obra exigente no preço e minguada no produzir? Que nem sequer, por obrigações para com uma tradição que os comanda e prende à terra, a podem vender ou abandonar?

Não será caso para perguntar quem são hoje os mais pobres lavradores do Douro? Se os que fazem os seus trabalhos e auferem a jeira nas terras dos outros, ou se estes que têm de pegar noutras enxadas para lhes poder pagar?!

E também qual o destino daquela ilusória promoção social, feita à custa apenas dos que a não podem suportar?

Prefiro não continuar nesta ordem de ideias, embora arrisque o não traduzir completamente a toada mais inquietante do primeiro colóquio para o desenvolvimento económico do distrito de Vila Beal.

Talvez que outros Srs. Deputados pelo meu círculo se sintam tentados a trazer ao plenário desta Assembleia mais alguma das problemáticas tratadas em relação aos meios que mais directamente servem. Talvez, em relação a elas, possam até expor uma panorâmica mais optimista, porém, de qualquer modo, no que respeita ao sentimento geral resultante dos trabalhos do nosso colóquio, considerada a participação com que nos honrou o Governo através de representantes qualificados, ficou-nos a impressão de um clima de insatisfação quanto às ópticas reveladas, de nenhuma maneira apaziguadoras dos espíritos quanto às preocupações dominantes, "sôfregos", como todos se encontravam, de uma coragem, e de uma objectividade que se não mostrou em termos de esperança, quanto mais de resgate.

É que, por lá, já não nos contentamos cora boas intenções nem soluções a longo prazo; não nos conformamos com o ouvir dizer, como quem "sacode a água do capote", que somos rotineiros e que, como quem aceita o inevitável de um fatalismo, não estamos sós na crise geral da agricultura.

Nem já podemos ouvir falar, aconselhado a esmo, de reconversão sem dizer-se o que se come enquanto se espera e significa abandono de um solo fadado para produzir um vinho qualificado entre os melhores do Mundo.

Nem de uma mecanização sem máquinas, impossível pela natureza de terrenos de acentuado declive em que se não devem a simples acaso ou mero luxo os muros de suporte ali erguidos para fixação do húmus na mais gigantesca das lutas contra a erosão, e que muitos, negligentemente, não sabem olhar como lição do passado que, de tantos, garantiu o futuro em pão.

Queremos, isso sim, o estabelecimento de uma política francamente proteccionista que directa e imediatamente nos vise, permita uma justa e compensadora valorização dos nossos produtos com que concorrem similares provenientes de terras susceptíveis de outros cultivos - até a cerveja, um dos mais portentosos negócios do nosso século, que no ultramar nos está tolhendo o passo de braço dado com os "mixordeiros" do vinho, a ocupar um lugar que de direito nos pertencia. Valorização que permita a fixação dos homens na terra, compense no duro trabalho que exige e permita a possibilidade de ser pago o pretendido salário justo (?), com vista a uma real promoção aos trabalhadoras de que as nossas terras carecem., sem curar de saber quanto, como emigrantes, rendem por cabeça para o erário comum, a custa de um indevido locupletamento com um capital que nem ao menos vemos reinvestido nos regiões que deles ficam desfalcadas as maiores vítimas que nem o seu "produto humano" podem usufruir justamente repartido como valor!

Queremos, em suma, sobreviver, lutar pela revalorização de um solo em termos de utilização imediata, pois não estamos dispostos a sucumbir em holocausto dos que podem ter outro destino, plantando cártamo ou tomate em terras onde só o vinho pode e deve medrar. À tanto, no reconhecimento da impossibilidade de "aguentar" bruscas reformas de fundo, que o Governo, ali, julgo não dever empreender, sacrificaremos sonhos que os circunstâncias não nos permitem sonhar, pois, ciosos embora de uma autonomia regional com a Casa do Douro integrada nos objectivos que presidiram a sua criação, aceitamos e achamos conveniente a presença do Estado orientador e paternal de que já não vejo possibilidades de nos libertarmos. Mas á margem de conúbios de conveniência ...

Se partirmos desta convicção que as realidades aconselham, cedo a Administração se aperceberá da inutilidade de um propagandear, que poderá aquietar o espírito dos "políticos da técnica", mas que não serve o mais directo interesse da lavoura, em que os eucaliptos e os tomates hão-de acabar por sobrar e assim se comprometer o essencial da técnica de uma política que é preciso salvaguardar.

Esta é a voz do Douro através da de um seu representante autêntico. Entretanto ... entretanto, apesar de tudo, continuamos a ser uma das mais ubérrimas fontes de receitas do Estado - nas contribuições que pagamos, nas transmissões de que é objecto a terra que detemos, nos impostos que recaem sobre os seus produtos, mas divisas que a sua exportação proporciona, na organização corporativa que sustentamos, nos encargos sociais que suportamos, e em tudo o mais que a sua explanação permite, sujeita ao vampirismo dos que ao seu lado medram, vendendo-lhes as alfaias, os adubos, os fungicidas, os máquinas, as sementes etc., enquanto o povo, sem nenhum lucro do produtor, paga mais caro o vinho, o pão, a carne, o azeite, a fruta, as hortaliças e tudo com que só os intermediários podem especular na mais doninha das actividades que traz apavorados os que vão tendo cada dia menos dinheiro para comer. Pobre terra!...

Quousque tandem?... '

Tenho dito.

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Camilo de Mendonça: - Sr. Presidente: No passado dia 14 anunciei que me iria ocupar do problema de electricidade em Trás-os-Montes após as "cortes gerais" a realizar naquela região no último domingo.

Infelizmente, uma nevada, mais uma nevada, que impossibilitou o trânsito rodoviário por grande parte daquele dia, impediu a realização daquela reunião dos corpos sociais. Ganhou-se, porém, em beleza, que só os naturais contemplam, pois assunta pela alvura, pela temperatura ou pela distância os citadinos.

Ficaram, pois, adiadas para uma semana mais tarde ...

Entretanto, e não obstante, não desisto do meu intento, até porque um despacho recente chegou a inspirar as mais graves preocupações e a criar justificada revolta