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1880 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 96

Dir-se-ia até que certo tipo de emigrante foi, por vezes, a única imagem, nem sempre completa ou justa, que o brasileiro possuía da vida portuguesa.

Hoje, graças a um intercâmbio que se tem vindo a acentuar nos aspectos sócias e culturais, a vários níveis, o conhecimento mútuo dos dois povos é bem mais profundo.

Mas à nossa frente apresenta-se ainda um longo caminho a percorrer. Basta pensar que a vida e os problemas do ultramar português são quase ignorados em certos meios brasileiros.

Só muito recentemente, e, sobretudo, a partir dos acordos de cooperação, firmados em 1966, começaram os Brasileiros a interessar-se mais pelas terras ultramarinas portuguesas e a tomar contacto directo com as suas múltiplas possibilidades. Fará isso se deslocaram, já em 1968, a Moçambique, província de que tenho honroso mandato nesta Assembleia, numerosos e qualificados representantes de organizações económicas e de outras, que constituíram a primeira missão comercial brasileira n visitar esse maravilhoso território português do Indico.

Foi um passo para uma aproximação mais efectiva e real no campo económico, tão necessário para o progresso e desenvolvimento de territórios que pelas suas características tropicais- em muito se assemelham. E certo que, por esta mesma razão, muitos dos produtos do Brasil existem também nos províncias ultramarinas portuguesas, o que os toma, de certo modo, concorrenciais. Contudo, caminhando o Brasil, a passos largos, para uma ampla industrialização e encontrando-se as nossas províncias ultramarinas em fase de pleno crescimento, carecidas, portanto, dos mais variados maquinismos e instrumentos, parece-nos que as trocas comerciais em muito beneficiariam amibas as portes. Angola, por exemplo, poderia fornecer ao Brasil petróleo e metais que possui em abundância.

Nesta mesma linha de pensamento, não deixarei de chamar a atenção para a necessidade! premente de se elaborar e executar um plano nacional e eficaz mo domínio da informação, o qual deveria incidir de modo muito particular sobre aã provindas ultramarinas portuguesas, tão desconhecidas, repito, de muitos brasileiros. Trata-se de uma lacuna bem séria, que está na base de muitas opiniões e afirmações que Dão correspondem à verdade dos factos.

E isto é particularmente grave, sabido que se vem desenvolvendo, nós últimos anos, uma campanha internacional contrai Portugal, a qual não tem hesitado em recorrer a todos os processos para denegrir o nosso esforço construtivo e paira criar no imundo uma falsa ideia sobre as intenções, os princípios e os métodos da nossa acção política e social.

Seria, pois, da maior vantagem que entidades brasileiras, a começar pelas mais ligadas às actividade da cultura e da informação, viessem, com frequência, observar os vários aspectos da vida das nossas províncias ultramarinas, a fim de poderem transmitir, depois, a imagem verdadeira e segura que se sobreponha as ideias erróneas e deturpadas divulgadas por unta propaganda tendenciosa que, infelizmente, não tem poupado alguns sectores brasileiros.

E não é só neste domínio que se abrem perspectivas n uma cooperação calda vez mais aberta e fecunda.

Pense-se ainda no muito que é mister fazer para assegurar transportes directos entre o Brasil e as províncias portuguesas de África.

Apraz-me referir, a propósito, que, recentemente, passaram as províncias de Angola e Moçambique a ter garantidas comunicações aéreas e marítimas regulares directas com o Brasil. Com efeito, a Unha aérea brasileira que serve a África do Sul tem agora escala em Luanda, ao mesmo tempo que a canseira marítima do Brasil para o Oriente passou a tocar o porto de Lourenço Marques.

Imagine-se o que poderá conseguir-se para a consolidação da nossa comunidade se, prosseguindo, corajosamente, nesta Unha de rumo, se estabelecer um plano integral de desenvolvimento turístico entre o Brasil e Portugal, em que se dê o devido relevo às inúmeras e magníficas possibilidades que também neste campo as províncias ultramarinas oferecem.

Estes minhas palavras assentam numa grande esperança, pois, assiste-se, felizmente, à intensificação crescente da colaboração nos mais diversos domínios entre as entidades públicas e privadas de Portugal e do Brasil.

Ainda hoje mesmo, segundo o que li na imprensa, será entregue, em Brasil, à Comissão de Educação e .Cultura da Câmara dos Deputados, o parecer conjunto da Academia Brasileira de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa sobre a reforma ortográfica, o que irá conferir ainda maior uniformidade a linguagem escrita dos dois países.

Não é de mais encarecer o que a língua representa como factor de unidade cultural e espiritual dos povos.

Como diz o poeta, ela é «laço de povos e harmonia».

Na verdade, a língua portuguesa foi, e é, dos mais actuantes e - decisivos elementos na formação da extensa comunidade de povos que hoje celebramos.

E idêntico o culto que ao idioma pátrio dedicam Portugueses e Brasileiros. Podemos dizer, mesmo, que ao Brasil, pela sua vastidão territorial e populacional e ainda pela sua pujança literária, muito se deve na propagação da língua portuguesa no Mundo.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Defendé - la e prestigiá-la em tudo é, pois, dever indeclinável e necessidade primacial de quantos se orgulham de pertencer à comunidade luso-brasileira.

Sr. Presidente: Depois do muito que ilustres colegas já aqui disseram, de modo tão eloquente, sinto que não devo acrescentar mais as breves e modestas palavras que acabo de proferir.

Este o Dia da Comunidade luso-brasileira, ou melhor, o dia instituído para se salientar publicamente a força, a determinação e o sentido de dois povos cônscios tio seu destino e da sua vocação.

Tudo está agora, porém, em que todos os dias e não apenas este, sejam de real e autêntica comunidade - comunidade nos sentimentos e nos propósitos, mas também nos actos e na vida.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A oradora foi muito cumprimentada.

O Sr. Martins da Cruz: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: Vou ser breve. Antes, porém, quero felicitar os colegas que me antecederam pelas suas brilhantes orações.

Mais uma vez peço a palavra nesta Câmara para me ocupar das relações luso-brasileira.

O facto de ser Deputado por Coimbra, em cuja Universidade se formaram grandes vultos que no Brasil deram toda a sua inteligência e saber, leva-me, entre outros e muito fortes motivos, a exaltar essa fraternal união, que, apesar de todas as vicissitudes por que a têm feito passar, apesar de na emigração para o país irmão ter quase cessado, apesar de a influência de emigrantes de outras origens ser já há muito em larga escala, apesar de a pré-