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23 DE ABRIL DE 1971 1881

ponderância económica e financeira dos portugueses do Brasil ter diminuído consideravelmente nos últimas décadas, apesar disto tudo, me parece possuir, paralelamente, uma reserva de incalculável valor, qual semente generosa lançada às fecundas terras de Santo Cruz pêlos portugueses de antanho para fazer frutificar cada vez mais os sentimentos de grande amizade que nos une, dando-lhes em cada instante um novo vigor.

Foi essa semente robusta, levada pêlos homens que desbravaram os sertões, que desfraldaram suas bandeiras em regiões desertas, implantando cidades e vilas, ou que tomaram conhecidos os grandes mares interiores ou, ainda, que fundaram Misericórdias, escolas e beneficência numa cruzada de amor que fez chegar abo nós as tradições heróicas da propagação da Fé e da civilização, e que, através da miscigenação e do conceito plurirracial, conseguiu manter o Brasil como nação una e indivisível.

Se os feitos das cruzadas que demandavam a Terra Santa para a libertarem dos infiéis está na origem da nossa expansão no continente europeu, podemos afirmar que, animados dessa maravilhosa ideia - força, sulcámos os mares, atravessámos os desertos e passámos tormentosos flagelos com o único fim de levar ao Mondo a civilização, estruturada na fé a Deus e no amor ao próximo.

Não foram os nossos navegadores acompanhados nas suas epopeias de ministros da Igreja e de imagens portadoras da Fé?

Pedro Alvares Cabral, o primeiro construtor da nossa comunidade, não se fez acompanhar de frei Henrique de Coimbra e da imagem de Nossa Senhora da Esperança? O seu primeiro acto ao desembarcar em Porto Seguro não foi o de evocar Deus na missa que ali mandou celebrar?

E se assim foi, não admira que a nossa comunidade, assente nos valores imutáveis do espírito, resista a todos os vendavais que políticos mal avisados pretendam desencadear por motivos que contrariam as realidades históricas.

Estamos a celebrar o dia da comunidade luso-brasileira. Foi em 22 de Abril de 1967 que os Chefes de Estado das duas pátrias, irmãs promulgaram os diplomas que instituíram este dia de glorificação.

Nato seria preciso fixar normas para exaltar a nossa comunidade, pois ela dura e perdura há mais de quatro séculos, mas este dia oferece-nos mais uma possibilidade de avivarmos as nossas raízes comuns e dissertarmos sobre a construção de uma comunidade em termos mais realistas.

Se os sentimentos, a língua e a religião comuns ajudaram Brasileiros e Portugueses a consolidar para sempre um amizade fraterna, cumpre-nos, graças a esse estado de alma, ir mais além na efectivação da nossa comunidade.

E este avanço nas relações nutre os dois países interessa sobremaneira a Portugal, mas interessa também, e muito, ao futura do Brasil.

Às amigas e tradicionais jaculatórias sobre os nossos avós comuns tenho verificado, pela receptividade do brasileiro culto ao problema, que o negócio não era de avós mas de netos. Do que se trota é de saber se, dentro de vinte anos, o Brasil cabe na América do Sul.

O exemplo de expansão norte-americana, que obriga os Estados Unidos a manter longe do seu território guerras que se destinam a abrir esse espaço de influência essencial, leva naturalmente o brasileiro a perguntar-se se, no futuro, e feita a valorização total das imensas virtualidade nacionais, o Brasil poderá continuar a ser uma nação sul- americana ou terá de se converter numa potência mundial.

Ora, a existência de um espaço português pluricontir, onde o brasileiro ouve falar a mesma língua e não é considerado estrangeiro, representa um valor decisivo para uma expansão eventual dos mercados consumidores dos seus produtos. Não é um problema que se ponha hoje, mas ele nato deixará de surgir amanhã. Mesmo que o tempo dos avós, é o dos netos o que impõe o estreitamento das relações e o esforço solidário na defesa da unidade do mundo português.

Quais as razões que levam as nações a constituírem-se em bloco? Podemos resumi-las denominando-as razões de sobrevivência. À Terra tornou-se excessivamente pequena para uma humanidade cada vez mais numerosa, que não pode mais subsistir em unidades isoladas. Os poderosos meios de comunicação e transporte provocaram o aceleramento do processo multimilenar de interpenetração de culturas e as luzes da civilização brilham em todas as ribaltas do Mundo, dos arranha-céus de Nova Iorque as cubatas africanas. Uma nova, extraordinária e absorvente mística apaixona os povos, mais forte que a das ideologias políticas - a mística do desenvolvimento económico a qualquer preço, mesmo à custa do holocausto dos mais altos conceitos da liberdade e dignidade humanas.

Quando faltam elos políticos, até os artificiais, de tradições, raça ou cultura, tecem-se complicadas bramas económicas, recorre-se mesmo a violência pura e simples, ao direito de conquista do mais fonte: o que importa é alcançar o objectivo, constituir um bloco de nações capaz de fazer-se ouvir mais alto nas decisões mundiais.

Unidos Brasil e Portugal, teremos, liminarmente, essa voz pujante de comunidade autêntica de nações.

Descobrimos que neste momento difícil da história do Mundo Portugal e Brasil constituem o único genuíno bloco de nações de formação natural e histórica.

O que tem custado sacrifícios e violências a tantas nações a nós não nos custa nada - festa feito. Estava feito quando disso tomámos consciência.

Mentalizar as massas e as elites será assim o primeiro passo para a concretização da comunidade luso-brasileira. As massas, através do princípio dos vasos comunicastes, objectivando o melhor aproveitamento de mão-de-obra, novos empregos em novos empreendimentos, novos padrões de conforto, como decorrência da dinâmica de produção. As elites, pelas novas oportunidades de negócios que se abrem com a integração económica de Portugal e Brasil, pela soma dos respectivos parques industriais e pelo considerável reforço que significa a organização de uma frente única no comércio internacional. Aos investigadores estrangeiros a comunidade luso-brasileira abrirá também novas perspectivas. Grandes empresas internacionais, já em operações nos dois países, encontrarão, por certo, múltiplas possibilidades de aplicação de capitais, numa área geográfica imensa, na qual a integração económica de Portugal e Brasil garante um clima de segurança. Será um território enorme com potencial inesgotável a ser aproveitado e desenvolvido em paz dentro de estruturas sociais estáveis.

As primeiras pedras deste monumental bloco foram já lançadas pêlos Governos do Brasil e de Portugal. Refiro - me à equiparação de direitos privados e de direitos políticos entre Brasileiros e Portugueses em coda um dos dois países, que em boa hora se pretende introduzir na lei fundamental portuguesa, depois de o ter sido já na Constituição do Brasil.

Sr. Presidente: Seja-me permitido, ao finalizar este pequeno depoimento, que, como amante de Portugal e do Brasil, deposite a minha fé na sabedoria dos homens responsáveis das duas pátrias e a minha esperança na