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8 DE JULHO DE 1971 2423

«nós, na nossa boa-fé e na nossa sã paz de espírito, pensando que estávamos a proceder perfeitamente bem, fomos atacados por esse flagelo, a que não nos pudemos escusar e a que tivemos de responder de pronto, enquanto os barcos não chegavam, enquanto os aviões não chegavam, na determinação que V. Ex.ª significou - e muito bem...

O Sr. Casal-Ribeiro: - Honra lhe seja feita!

O Orador: - ... V. Ex.ª esclareceu perfeitamente - eu estou perfeitamente esclarecido, e ainda bem que se esclareceu esse ponto - foram os portugueses de Angola, os que lá estavam, uns militares, outros civis, que aguentaram com a força de sangue o desígnio da Nação.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Muito bem! Estou completamente de acordo.

O Orador: - A primeira preocupação que teve aquela gente, quando recuperava fosse o que fosse, antes de chegarem os navios ou os aviões, era exactamente erguer a bandeira nacional no mastro mais alto, donde de toda a parte ela se pudesse ver.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Honra lhe seja feita, Sr. Deputado. Nos lembre-se de uma coisa: é que, quando uma candeia, use o combustível que usar, não tem reabastecimento, apaga-se, Sr. Deputado.

O Orador: - Não acredito. Desculpe, Sr. Deputado, mas eu, em nome de Angola, não acredito que se apague essa candeia.

O Sr. Montanha Pinto: - A determinação existe, e provou-se.

O Orador: - E eu não acredito que essa candeia se apagasse. Nós tínhamos uma força anímica...

O Sr. Montanha Pinto: - Não se apaga nem se apagará. E, se fosse preciso, sós continuaríamos, na defesa da integridade nacional.

O Orador: - Não quero dizer com isto, de modo algum, que os homens que foram daqui, na altura precisa, perante a palavra do Chefe do Governo de então, com quem eu politicamente estava em desacordo - e perdoe-me, Sr. Deputado...

O Sr. Casal-Ribeiro: - Ora essa!

O Orador: - ... não tivessem realmente ido dar uma ajuda ideal, na altura ideal.
Mas quero dizer a V. Ex.ª que, por acaso, eu não estava em Angola na altura em que isso aconteceu. Cheguei exactamente nessa noite de Paris e dormi em Bra-zaville; no dia seguinte, em Luanda, vi uma bicha enorme formada à porta, da Polícia de Segurança Pública. E eu pensava que era gente que estava a preparar os seus documentos de embarque para fugir de Angola. Toda a gente estava apavorada com o que se tinha passado... E, então, aproximei-me dessa bicha e quis saber o que se passava ali. Eram homens e mulheres que, de lágrimas de raiva nos olhos, pediam aquilo que não tinham, para regressarem às suas terras: armas. Regressaram e mantiveram-se pela força, pela força que o decorrer dos séculos lhes transmitiu, que transmitiu a mim e que eu transmitirei aos meus filhos, se puder e se para tanto chegar o meu talento.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Honra lhe seja feita, Sr. Deputado, honra lhe seja feita, ninguém o nega...

O Orador: - Há mais uma coisa que eu pretendia dizer.
Tem-se posto, em certos círculos e em certas publicações, que para o ultramar só há duas alternativas: ou assimilação, ou independência negra. Quero dizer que é um modo demasiado agudo de ver o problema. Porque, meu Deus, não há mais alternativas? Só existem essas?
Eu desejava ler a VV. Ex.ªs este pequeno extracto de uma exposição que foi dirigida ao Sr. Presidente do Conselho pelas Associações Económicas de Angola quando, em 1969, resolveram não apresentar candidatos a Deputados à Assembleia Nacional. Talvez que se elas tivessem outra determinação, possivelmente eu não estaria aqui a falar.
Mas diziam eles:

Sr. Presidente do Conselho de Ministros: Excelência: Para os portugueses conhecedores das realidades do ultramar - e tão poucos são, infelizmente - não pode ter causado estranheza a posição assumida por Angola ao determinar-se pela não discussão quanto à escolha de quem haveria de representá-la à Assembleia Nacional na próxima legislatura.
E isto porque tal posição se situou como corolário lógico de uma linha de rumo conscientemente traçada no sentido de que as divergências porventura existentes quanto a este ou aquele sector da nossa política administrativa não poderiam, em nenhuma circunstância, ser trazidas ao lume da discussão pública num momento em que, sabíamos, pretendia pôr-se em causa o dogma fundamental da unidade e integridade da Nação Portuguesa; na pluricontinentalidade dos seus territórios e na multirracialidade das suas gentes.
Tanto justificaria, de imediato, a nossa posição face à campanha eleitoral que se avizinhava, pois que em Angola não existem partidos ou, sequer, entendimentos que permitam conduzir à divergência quanto àquele essencial aspecto da sobrevivência nacional.
Contudo, não nos pareceria honesto quedarmo-nos por esta justificação, muito embora se imponha reconhecer que ela, só por si, legitimava o nosso comportamento, avisados, como temos obrigação de o estar após uma guerra de oito anos, de que nenhum objectivo, por mais idóneo e digno, deve ser lançado irreflectidamente ao comentário dos nossos inimigos, sôfregos de interpretações de maliciosa ou pérfida deturpação, a usar como arma de imprevisíveis consequências.
É que, Sr. Presidente do Conselho, a nossa determinação se escudou, também, noutras causas que importa encarecer: a esperançosa confiança na política ultramarina preconizada e reafirmada por V. Ex.ª e o expressivo e amplo mandato que, espontaneamente, foram plebiscitados pela população de Angola aquando da deslocação de V. Ex.ª ao Portugal do ultramar.

Abro aqui um parêntesis apenas para esclarecer e para reproduzir uma conversa que tive com o Sr. Presidente do Conselho quando eu lamentei, como homem de Nova Lisboa, que S. Exa., quando ali esteve, não tivesse