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2422 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 119

Não. V. Ex.ª, Sr. Deputado, não está só. Nas angústias pelos destinos da Pátria V. Ex.ª não está só. Está com todos nós. Pelo menos, comigo está de certeza absoluta.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Que diverjamos de pontos de vista, pois com certeza. É assim que se formam os desígnios das nações, quando os homens conversam, articulam, se expressam livremente, chegam a uma determinada conclusão e acatam a decisão da maioria representativa da Nação...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Como é o meu caso, como liberal, quando acato, disciplinadamente, a maioria dos votos de qualquer colégio eleitoral ou qualquer colégio a que eu pertença.

O Sr. Casal-Ribeiro: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Primeiro quero agradecer as suas amáveis palavras e, depois, dizer o seguinte:
Eu não sou liberal, mas acato a decisão da maioria, sem que saia da sala e sem que pense, por um instante sequer, em não continuar os meus trabalhos, expressando as minhas opiniões e dando a minha colaboração, dentro da minha modéstia e da minha humildade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Como vê, V. Ex.ª engana-se. V. Ex.ª é tão liberal, ou mais liberal, como eu.

Risos.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Isso é uma afirmação...

O Orador: - Mas ficaram duas perguntas por responder num diálogo que V. Ex.ª quis fazer o favor, liberalmente, de me consentir.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Por isso sou Deputado...

O Orador: - Não é por isso. Eu penso que por espírito também.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Dentro de certos limites...

O Orador: - V. Ex.ª perguntou-me se eu me considerava português de primeira, segunda ou de terceira, e deixou para segundas núpcias essa resposta.
Pois essa resposta vem hoje: «simplesmente português». Nunca me preocupou, nem a mim, nem a todos os homens do ultramar, qualificações jurídicas que nos tivessem dado, divergentes daquelas que eu sentia no meu coração, porque o meu coração de português é intocável e estou perfeitamente despreocupado da classificação que me queiram dar ou me tenham dado.
Serei português, e quando não puder ser português a viver em Angola, só me resta, como alternativa, vir para o berço de nacionalidade dos meus antepassados.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Casal-Ribeiro: - Apraz-me as novas núpcias... de V. Ex.ª

Risos.

O Orador: - Aí é que está o engano de V. Ex.ª Novas núpcias é que é o engano.

O Sr. Casal-Ribeiro: - V. Ex.ª é que disse..., perdão.

O Orador: - V. Ex.ª está a considerar-me bígamo, eu não o sou.

Risos.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Não. A frase é de V. Ex.ª Deus me livre ...

Risos.

O Orador: - V. Ex.ª permite sempre um diálogo bastante agradável, bastante irónico e com muita graça, o que lhe agradeço.
V. Ex.ª perguntou-me também, outro dia: «Onde estaríamos nós, se não fosse o portuguesismo destas gentes?».
Pois eu respondo. Hoje, estávamos exactamente no mesmo sítio. A defender intransigentemente a nacionalidade portuguesa.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Desculpe-me. Mas eu, naquela altura, perguntei o que seria de nós; de V. Ex.ª e de nós todos, portugueses - daqui ou do ultramar -, se não fosse o portuguesismo da metrópole. Foi o que eu disse, nessa altura. «Com rapidez e em força para salvar Angola. Recordo a V. Ex.ª as palavras do Dr. Oliveira Salazar!

O Orador: - Ai é que estamos em desacordo. Portuguesismo dos portugueses da metrópole é uma dicotomia que eu não compreendo, nem entendo. Portuguesismo dos portugueses, está certo. Agora, estabelecer V. Ex.ª alternativa da metrópole ou do ultramar é que eu não concordo.

O Sr. Casal-Ribeiro: - V. Ex.ª esquece - bem sei que não temos nada com isso, nós estamos em Portugal, interessam-nos os nossos casos -, mas V. Ex.ª esquece que foi na falta de compreensão pelos problemas pátrios de outras orações que outros territórios do ultramar se penderam. Não no que diz respeito a Portugal, mas no que diz respeito a outros países.
E foi a determinação de ir para Angola, repito, com rapidez e em força que fez com que VV. Ex.ªs, que ali viveram os piores momentos, que ali resistiram à mais atroz das calamidades que caíram sobre a nossa Pátria, ali permanecessem, e, portanto, era preciso que houvesse qualquer coisa que os acompanhasse, e foi esse o sentimento que não faltou.
Era apenas isto que eu queria dizer.

O Orador: - Sim, senhor, eu compreendo perfeitamente, mas essa luz vinha do passado. Pode ter sido reacendida nessa altura... Porque os Franceses também estiveram na Argélia e também foram rapidamente e em força. Mas essa luz que nos alumiou foi a do passado. E eu posso dar um exemplo a V. Ex.ª, muito pequeno, mas que talvez seja elucidativo das minhas palavras. É que, quando deflagrou o terrorismo em Angola e quando