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4114 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 208

estava n dizer - tem influencia realmente nas massas, o que é deveras lamentável.

Como V Ex.ª sabe, eu fui presidente de um desses tais clubes a que certamente V. Ex.ª aludiu e tive a ingenuidade de supor, quando assumi a presidência, que se podia, realmente fazer qualquer coisa no sentido de que os clubes se pudessem administrar, em certos pontos, como as empresas e, embora da defesa dos seus interesses, que são os das massas associativas, se pudesse deixar de ir tão longe como às vezes se vai. Levar os cortes de relações, por exemplo, às assembleias gerais é quase eliminar a possibilidade de voltarem a registar-se relações normais entre os clubes desavindos.

Mas eu aqui aproveitava - e também era uma das razões por que pedi a interrupção a V. Ex.ª - para fazer um apelo, mas um apelo muito veemente, à imprensa, principalmente à imprensa desportiva, que muitas vexes esta na génese de problemas que se aumentam e que parecem como um bola de neve; começam por coisas mínimas, que depois se avolumam, dando azo a especulações por parte de pessoas que não são responsáveis pelas colectividades.

Assim tudo se agrava e, por vezes, du tal forma que é muito difícil depois voltar-se atrás. Ao fazer esta interrupção às palavras de V. Ex.ª, é não só para aplaudir aquilo que V. Ex.ª está a disser, e como antigo dirigente desportivo, a nível de clube e a nível federativo, afirmar a mágoa que me causa ver determinadas atitudes e determinados problemas - e falo mesmo contra o meu próprio clube, que já tem tido algumas que realmente não são aquelas que, a meu ver, melhor o podem servir; RS pessoas estão fora de causa, simplesmente elas são muitas vexes empurradas por determinadas circunstâncias para essas atitudes. Mas, realmente, faço um apelo muito veemente à imprensa, porque estão a registar-se até na imprensa diária algumas notícias sensacionalistas, certos exageros e determinados pormenores que, depois, como a bola de neve, é muito difícil voltar a ser o torrãozinho que se desprendeu do alto da montanha e causou a avalancha.
Muito obrigado, Sr. Deputado.

O Orador: - Muito obrigado, Sr. Deputado Casal-Ribeiro, pelo apoio que veio dar a estas minhas palavras.
A posição de V. Ex.ª como antigo e prestigiado dirigente desportivo muito vem contribuir para que aquilo que estou dizendo possa ter qualquer relevo.
E, mais adiante, continua a escrever Cruz dos Santos:

Enfim, em todos os momentos e pelas mais variadas formas, apercebemo-nos de que, ao nível directivo, os clubes portugueses mantêm contactos e relações de camaradagem e de amizade . . .

Não podemos, como é evidente, deixar de apoiar atitudes como aquelas que acabámos de mencionar. Mas, se, com raríssimas excepções, a posição dos dirigentes é essa, felizmente, qual será a dos jogadores entre si? Pois é semelhante, se não com relações de amizade mais íntimas, baseadas, quantas vezes, em vizinhança de locais de nascimento e fortalecidas por permanência conjunta em estágios para a selecção nacional ou por compadrios entre as respectivas famílias, factos que os levam a ignorar completamente as quezílias extradesportivas entre os seus clubes. O mesmo poderíamos dizer no que respeita aos treinadores, especialmente se, quando estrangeiros, têm a mesma nacionalidade.

A que se resume, pois, a tão decantada ruptura de relações entre grupos desportivos, além das afirmações de "clubite" mais ou menos aguda que se proferem nas assembleias gerais, dos artigos, em regra bastante tendenciosos, que se escrevem nos jornais privativos ou das entrevistas, em geral eivadas de partidarismo, que se concedem a periódicos da especialidade?

O Sr. Casal-Ribeiro: - Até parece que conhecia o que V. Ex.ª iria dizer . . .

O Orador: - A bem pouca coisa, realmente: na não comparência em actos de posse de novos dirigentes e na recusa da realização dos chamados "jogos amigáveis", mas, mesmo neste último caso, talvez possa haver excepções, se o contrato for chorudo ou valiosa a taça em disputa!

O Sr. Casal-Ribeiro: - V. Ex.ª desculpe, eu pareço um papagaio, talvez seja dos bicos . . ., mas é que já agora, se me permitisse, era só mais uma interrupçãozinha: há uma coisa muito importante, e que, podendo parecer que é dirigida ao clube do momento, não é, já que anteriormente o mesmo aconteceu com outros e está muitas vezes na génese do mal-estar apontado: um certo "açambarcamento" de atletas, o que deveria ser um pouco mais regulamentado, de forma a não ter que se intervir um dia através da Intendência . . .

Risos.

O Orador: - Esperemos que não! Isso são políticas extradesportivas, ainda que indirectamente relacionadas com os desportos.

Eu poderia aceitar, no entanto, que, por razões de peso, graves e atentatórias da honra de qualquer deles, dois clubes cortem as relações entre si. Mas então devem interrompê-las mesmo, com todas as respectivas e possíveis consequências que de tal facto vierem a advir. Quer dizer, nessa eventualidade, o clube ofendido deverá recusar-se, terminantemente, a defrontar o seu adversário em todos os campos desportivos e em quaisquer provas oficiais, com a correspondente perda de pontuação na tabela "Ias classificações, que essa atitude - aliás, mas só assim, coerente - poderá vir a acarretar.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Desculpe. Sr. Deputado, mas nisso já não estou de acordo com V. Ex.ª

O Orador: - Tenho muita pena, neste ponto, em não estar de acordo com V. Ex.ª

Teríamos, portanto, e deste modo, um verdadeiro e honesto corte de relações. O que hoje em dia assim se chama não passa, como vimos, de um procedimento conjecturai, de uma tomada de posição absolutamente teórica e inútil, sem qualquer base prática em que se apoie.

Ora, estas desavenças, ocasionadas não pelas próprios agremiações, mas, sim, por algum ou alguns dos seus dirigentes - na minha opinião, maus dirigentes -, vão ter, pelo seu exemplo, manifesta e negativa influência sobre a educação e o proceder das dezenas de milhares de sócios ou simpatizantes dos clubes em causa, transferindo para as assembleias gerais ou para a bancada dos estádios os problemas de um pretenso ódio clubista, em lugar de advogarem que as disputas entre os seus clubes apenas se devem debater na rivalidade e no campo de pugnas francas, abertas e verdadeiramente desportivas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A época presente em que parece começar a pairar um novo espírito de paz sobre o Mundo, encontrando solução aos problemas internacionais que se pen-