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16 DE JANEIRO DE 1973 4197

aos portugueses tementes a Deus e defensores da paz, da verdadeira paz, da ordem, do progresso e da sua liberdade - da sua verdadeira liberdade! Por que esperamos para aceitar o desafio que afrontosamente nos é feito?
Eu sei que a ironia fácil de certos fundibulários vai cair mais uma vez sobre mim; tal facto é-me completamente indiferente e apenas me faz sorrir. Mas que não fosse; antes isso do que ser conivente com o meu silêncio, ocupando o cargo que ainda ocupo, em tudo quanto se poderá passar se, a tempo, não se despertar a consciência nacional. Ouçamos e meditemos nos avisos de quem tem a responsabilidade de nos governar, mas façamo-lo de forma a podermos actuar mais uma vez como um só bloco e em qualquer momento, com «rapidez e em força».

O Sr. Almeida Cotta: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Almeida Cotta: - Tenho estado a ouvir com a máxima atenção as suas palavras e vejo que pôs várias interrogações que se podem sintetizar numa: «Para onde vamos?» Ora, eu tenho a impressão, Sr. Deputado, de que V. Ex.ª sabe muito bem quais são as metas que pretendemos atingir.

O Orador: - As que nós pretendemos atingir, claro que sei.

O Sr. Almeida Cotta: - V. Ex.ª sabe muito bem os esforços desenvolvidos pelo Governo, pelas autoridades, no sentido de se atingirem essas metas.

O Orador: - Exprimi-os aqui, Sr. Deputado.

O Sr. Almeida Cotta: - V. Ex.ª sabe muito bem que em todas as circunstâncias, até para a eleição desta Assembleia, foram postos os pontos principais que V. Ex.ª foca. Sabe muito bem que entre a concepção, entre as finalidades e as possibilidades de conseguir os objectivos, nem sempre se vencem com facilidade os escolhos que vão surgindo. Mas sabe muito bem que o Governo não esquece essas metas. E gostaria que V. Ex.ª deixasse de ter tantas dúvidas e se firmasse mais na certeza de que os fins serão conseguidos.

O Orador: - Se o deixarem, Sr. Deputado. Eu sei muito bem o que nós queremos, eu sei muito bem o que o Governo quer, mas talvez nem todos os Deputados que aqui se sentam o saibam ou queiram saber, que é o pior.
Mais de oito séculos de história nos contemplam e a nossa responsabilidade perante a juventude generosa e boa do País é enorme. Saibamos corresponder à nossa missão, orientando-a e explicando-lhe clara e inequìvocamente todos os sacrifícios vividos, todas as desilusões sofridas, todas as esperanças perdidas por uma geração martirizada tantas vezes por falsos conceitos de liberdade e de paz!

O Sr. Almeida e Sousa: - Está nas tradições do nosso bom povo agradecer tudo quanto se lhe faz, ainda quando de justiça, porventura bem tardia, se trate.
Não posso dizer nesta hora que não perfilhe a doutrina ùltimamente bem expressa por alguns dos nossos governantes de que justiça se não agradece e de que se a obra foi ou será feita, o foi ou será porque se reconheceu ser justo que se fizesse.
Parecer-me-ia assim melhor, mas não serei eu que negarei, pelo menos, a boa convivência, hoje ímpar no Mundo, que certas tradições que mantemos forjam.
Aqui ficará, por isso, a palavra de júbilo de um homem do Norte, a quem duas notícias divulgadas durante as férias parlamentares dão a sensação de ser agora mais do seu tempo, mais europeu e -porque não? - mais rico.
Porém, a sinceridade que quero manter até ao fim obriga-me a distinguir muito forte perante VV. Ex.ªs os sentimentos que essas duas notícias me trouxeram.
Quanto à primeira - uma pista de 3600 m no Aeroporto de Pedras Rubras, a seu tempo devidamente equipada e podendo alimentar com folga o turismo, que é a primeira indústria de Portugal e de que só a partir de agora se deixa o Norte plenamente compartilhar -, pois, quanto a essa notícia, o meu sentimento não pode ser senão de júbilo inteiro, e nada empana a alegria, e como disse, e porque disse, o tradicional muito obrigado dos povos que aqui, como tantos VV. Ex.ªs, tenho a honra de representar.
Já a segunda notícia, sempre em termos de sinceridade, que não sei usar de outros, tenho de dizer que a não compreendo até ao fim. E, pensando bem, será ate, talvez, melhor que a não compreenda. Os factos, estou certo, nos farão compreender a todos, a menos que, como em tantos outros casos, os não queiramos compreender.
Meus senhores: Em reunião havida pouco antes do Natal, no Porto, reunião a que não assisti, mas baseando-me nas notícias dos jornais e de quem lá esteve, foram-nos prometidas, a partir de Abril, duas carreiras aéreas semanais do Porto para Paris. Algum dia haveria de ser, mas não quero de forma nenhuma negar que, apesar do pouco que é, a notícia nos deu muita satisfação. Necessàriamente, por pouco sabíamos que tínhamos de começar.
A minha incompreensão refere-se apenas à segunda promessa que na mesma reunião nos fizeram. Foi ela: «da rentabilidade da linha de Paris depende o estabelecimento de outras linhas à partida do Porto».
Confesso que não compreendo. Apesar de tudo, apesar das populações que por este e por outros motivos já nos fugiram, é ou não verdade que a metade Norte do País, centrada em Pedras Rubras, tem tantos ou mais habitantes que a metade Sul, centrada na Portela ou, pior, em Rio Frio?
Quantas carreiras aéreas Lisboa-Paris há? Só posso dizer que no horário TAP do último Verão, onde só vêm marcadas as carreiras da TAP e da Air France, com exclusão, portanto, de todos os voos das outras companhias, entre Lisboa e Paris contam-se vinte carreiras directas por semana. Do Porto, pelos vistos, vai haver duas. Porque é então que se põe em dúvida que as duas carreiras que vão sair do Porto possam não ser rentáveis, quando nunca se duvidou que alguma das vinte que saem de Lisboa o não seja?
Confesso que não compreendo. A população, repito, e igual ou maior. Não seremos nós homens iguais? Ou cada homem, só porque vive em Lisboa, vale, merece e necessita, pelo menos, dez vezes mais do que