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26 DE JANEIRO DE 1973 4309

pode prever o futuro? Os destroços do naufragado Varna, independentemente das culpas próprias que possa ter havido, lá continuam a assinalar aos ventos e aos céus a tragédia que, sem helicópteros, teria sido anos atrás.
Terá de facto, meus senhores, de ser necessária uma tragédia, como a do navio Porto em 1852 -sem ela quando se leria feito Leixões? -, para pensarmos, programarmos e aproveitarmos o que podia ser uma grande riqueza e não é?
Estamos em 1973, não em 1852, e dispondo, como pensamos poder sempre dispor, de helicópteros, a possibilidade de reptição de uma tal tragédia é felizmente muito remota. Terá de ser outra e muito mais positiva a força que nos há-de mover.
Só pergunto: será tão difícil dragar aquela barra com os meios de que hoje dispomos, mesmo em Portugal? A última vez que foi dragada foi em 1961, há doze anos, portanto. Quando tantos portos, que nem de longe têm a importância actual e potencial que o Douro tem, têm vindo a ser frequentemente, para não dizer permanentemente, dragados...
Porquê? Pois não sei dizer. Só sei dizer que, com uma barra assim, me não admiro de que a navegação não queira correr o risco de entrar no Douro, deixando vazios os cais de Gaia, enquanto espera, ao largo, lugar em Leixões.
Mercê das albufeiras construídas em Espanha, e a construir em Portugal, as cheias do Douro já não serão, e menos e menos serão, o que um dia foram. Não virá longe a hora em que o rio será navegável. Mas que nos aproveitará tudo isso se não tivermos uma barra sempre operacional e não tivermos também, em Sampaio, a doca que se impõe construir, ligada por estrada e caminho de ferro à auto-estrada e à linha Lisboa-Porto, que ambas lhe passam bem perto?
Se quisermos ser da Europa, temos que raciocinar nos mesmos termos em que as outras nações raciocinam, e eu não acredito que, fosse em que país fosse, uma fonte de riqueza como o Douro ainda não tivesse sido aproveitada.

O Sr. Ricardo Horta: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Ricardo Horta: - Eu estou a ouvir V. Ex.ª com o máximo interesse, tendo em vista o conteúdo da vossa exposição e a riqueza de ideias de que ela enforma.
Sobre o que diz respeito aos transportes fluviais ou marítimos, é indiscutível o reflexo quê esses transportes trazem na tarifa e no encargo dos produtos transportados. V. Ex.ª sabe melhor do que eu que esses produtos se calculam em um terço do encargo desses produtos relativamente ao transporte rodoviário. V. Ex.ª sabe que as nações que são detentoras de cursos de água, como nós somos - temos dois cursos: eu falo no Tejo, porque sou de Lisboa, e V. Ex.ª referiu-se ao Douro, por ser do Porto- eu digo que V. Ex.ª pode verificar as altíssimas dificuldades dos movimentos, não só das pessoas, como também das mercadorias. V. Ex.ª vê em Lisboa descarregarem-se barcos com mercadorias para fornecerem as fábricas ou quaisquer centros industriais, quase à margem do Tejo, e V. Ex.ª vê encaminhá-los por via rodoviária, encarecendo o transporte e dificultando extraordinariamente o tráfego. V. Ex.ª, por comparação, deve saber melhor do que eu também, em virtude da sua especialidade, que o terceiro porto da França hoje é Paris.

O interruptor não reviu.

O Orador: - Muito obrigado, Sr. Deputado, pelo apoio que me traz.
Com certeza, tudo quanto digo do Douro em parte pode ser aplicado ao Tejo.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Almeida e Sousa: V. Ex.ª tem três minutos de tempo regimental.

O Orador: - Muito obrigado, Sr. Presidente, acabarei imediatamente.
O que pedimos afinal? Pois que se olhe para os portos de Leixões e do Douro como em qualquer outro país da Europa se olharia, que se apliquem os mesmos métodos e as mesmas técnicas, que se lhes dê o empurrão que a situação presente exige, sempre na ideia de que os portos têm de corresponder pontualmente ao ansiado desenvolvimento do comércio e da indústria que está na base dos acordos que aqui ratificámos.
Que se construa já o modelo reduzido deste complexo portuário, incluindo evidentemente o novo molhe sul de Leixões, e que se entregue, quanto mais cedo melhor, o seu estudo à experiência e ao saber que, em Portugal e neste campo, felizmente já não faltam.
Que se o autofinanciamento que tem vigorado não chegar para a arrancada que se tem como vital, pois que se financiem de outra forma as obras de que necessitamos.
Finalmente, que, como em tantos outros casos que já nos habituámos a considerar como normais, se arranque em força com as obras que urgem e se recupere todo o tempo que ainda for possível recuperar.
Entretanto, e enquanto durarem as actuais pontas, que se aproveite ao máximo a capacidade dos cais e das máquinas, trabalhando em três turnos se e quando for necessário na estiva e também nas dragagens que for preciso fazer.
É um esforço hercúleo e prolongado o que o saneamento da situação actual exige, mas será a única maneira de os nossos portos poderem corresponder à missão que é a sua na aventura do nosso desenvolvimento. Estou certo de que, se todos quisermos, corresponderão.
E já que falo das necessidades portuárias do Norte, não terminarei sem uma palavra de rendido louvor para a decisão de executar, no mais curto prazo, os trabalhos de desassoreamento, quebramento de rochas e construção das obras interiores do porto de pesca da Póvoa de Varzim.
Vai sendo tempo, de facto, de dar aos nossos pescadores as infra-estruturas, os navios e os apetrechos de que eles necessitam para levar a cabo, vitoriosamente, a brava tarefa por que tanto lhes devemos. Vai sendo tempo de deixarmos cair o pitoresco da nossa velha arte de pescar para fazermos da pesca a indústria nobre, científica, pujante, atractiva e rendosa que, em vez de repelir, há-de chamar mais homens, a quem não exigirá porventura tanto heroísmo, mas dará mais proventos.