O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

4604 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 227

O Sr. Valadão dos Santos: - Sr. Presidente: Há dias os órgãos de informação trouxeram-nos a notícia da atribuição do Prémio Montaigne ao Prof. Vitorino Nemésio. Foi mais um galardão a juntar a tantos outros com que aquele brilhante homem de letras tem sido distinguido. Mas esta distinção, todavia, pelo carácter internacional de que se reveste e pela categoria do júri que a concedeu, merece um lugar à parte e uma citação especial nesta Câmara.
Eu não vou, Sr. Presidente, nem fazer o elogio do Prof. Vitorino Nemésio, nem tão-pouco uma análise à sua vastíssima actividade literária, pois que não se coaduna com as atribuições desta Assembleia. Quero apenas, deste lugar e nesta curta intervenção, saudar o romancista de Mau Tempo no Canal, o estudioso e biógrafo da Mocidade de Herculano, o professor ilustre de tantas gerações, o poeta de "Festa Redonda" das Cantigas de Terreiro da Minha Ilha, o etnólogo, o conferencista, o filólogo e o crítico literário. Em toda esta intensa e múltipla actividade aparece-nos sempre Nemésio, com o talento do seu espírito alicerçado numa profunda e vastíssima cultura, como um humanista, que o é em toda a acepção da palavra e que o coloca, sem dúvida, entre os grandes homens de letras portugueses deste século.
Ele é já uma figura nacional e o prestígo do seu nome e da sua obra projectam-se além-fronteiras e tem, sobretudo, no Brasil, a sua maior expressão.

O Sr. Ávila de Azevedo: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Ávila de Azevedo: - Desejo apenas, Sr. Deputado, associar-me calorosamente à homenagem prestada ao nosso patrício Doutor Vitorino Nemésio.
O Prof. Vitorino Nemésio consegue, ao mesmo tempo, ser um escritor, um romancista, um ensaísta, que consagra a sua actividade não só a uma elite de leitores, mas tornou-se igualmente uma figura popular em Portugal, através da sua comunicabilidade humana na televisão.
Além disso, ninguém melhor exprime do que ele o sentimento da açorianeidade. A terra, o homem, as paisagens açorianas, têm uma expressão invulgar na sua obra e tomam dimensão universal apesar de se poderem considerar literatura regional.
É por isso que me quero associar com todo o calor às palavras justas do Sr. Deputado Valadão dos Santos.

O interruptor não reviu.

O Sr. Linhares de Andrade: - Se V. Exa. me dá licença, eu, como açoriano e em representação do meu círculo, faço minhas as palavras do ilustre orador que me antecedeu, Sr. Deputado Ávila de Azevedo, apoiando V. Exa. com todo o gosto.

O Orador: - Muito obrigado, Sr. Deputado Ávila de Azevedo e Sr. Deputado Linhares de Andrade. As palavras pronunciadas por VV. Exas. vêm dar mais brilho a estas descoloridas palavras, aquele brilho que o Prof. Vitorino Nemésio tanto merece.
Mas, Sr. Presidente, a minha razão de ser aqui, neste momento, é não apenas pela enorme e sincera admiração que tributo a Vitorino Nemésio, mas principalmente porque, como Deputado dos Açores, como representante do distrito de Angra do Heroísmo, da sua e minha ilha Terceira, não podia ficar calado, pois sei da grande estima, da profunda consideração que as gentes da minha terra nutrem e sentem por Vitorino Nemésio. Ali nasceu, ali cresceu, ali passou toda a sua adolescência, ali se iniciou nas letras pela mão de um livreiro, espécie de Mecenas - Manuel Joaquim de Andrade, o Fazendinha, como saborosamente lhe chamava Nemésio.
Reminiscências dessa meninice e dessa juventude estão sempre presentes no pensamento e na actividade do escritor. Em muita da sua obra ela bem se espelha e se verifica. E é vê-lo, sempre que à ilha se desloca, calcorrear aqueles montes e campos verdejantes, conversar amenamente com pescadores, antigos baleeiros e pastores, deambular nos arraiais das touradas à corda, vibrando com a festa brava e interrogando os "Mazantinis" da nossa Terceira, sempre com aquela simplicidade que é apanágio dos grandes.
E é vê-lo e ouvi-lo ainda, todos os sábados, ali na TV, naquele "Se bem me lembro..." (não será até, este título, um apelo a tantas dessas evocações?), é ouvi-lo - dizia -, sempre que a ocasião se proporciona, a falar nessas ilhas de bruma, nas suas gentes, na sua Praia da Vitória, nos seus cantadores ao desafio, nas suas estradas e canadas.

O Sr. Oliveira Ramos: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Oliveira Ramos: - Também eu gostaria de juntar a minha palavra à de V. Exa. para sublinhar quanto é oportuna a homenagem que está a prestar ao Prof. Doutor Vitorino Nemésio.
Ele merecera como açoriano e merece-a, sobretudo, como um dos mais altos valores da cultura portuguesa.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Oliveira Ramos: - Cultura portuguesa que, como poucos, sabe estudar.
E digo isto com todo o à-vontade, pois durante dois anos tive a honra de ser seu assistente na Faculdade de Letras de Lisboa, precisamente na cadeira de História da Cultura Portuguesa.
As suas aulas marcaram quantos a elas assistiram, pela penetração de análise, pela largueza da interpretação, pela capacidade de sugerir novos problemas e abrir novos caminhos à investigação, num domicílio que tão largas perspectivas oferece a quem o queira explorar em termos objectivos.
De facto, além de ser Vitorino Nemésio um escritor die expressão original da nossa literatura, é também um intérprete original da nossa cultura.

O interruptor não reviu.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Muito obrigado, Sr. Deputado Oliveira Ramos, pelas palavras pronunciadas e que vieram dar ainda maior brilho a esta pequena intervenção em