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21 DE FEVEREIRO DE 1973 4605

homenagem ao espírito brilhante de Vitorino Nemésio.
Continuando.
São vivências muito fortes e poderosas na obra e na vida de Nemésio. Pois é em nome dessa ilha, que ele traz sempre no coração, em nome dos Açorianos e, de uma maneira especial, dos Terceirenses, que eu, traduzindo o seu sentir e admiração, daqui saúdo e felicito Vitorino Nemésio, figura das mais eminentes das letras portuguesas e filho dilecto e honra dos Açores.
Muito obrigado.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Alberto de Alarcão: - Referiu-se recentemente o Sr. Deputado Fausto Montenegro, com a autoridade que advém de quem bem considerou o problema antes de o trazer a esta Assembleia, à questão da defesa do património artístico nacional.
Será a um outro aspecto do património, não já do seu círculo, mas do meu distrito e de quantos mais vêm sendo atingidos por um processo de urbanização acelerada, que ora nos queremos referir: o da salvaguarda de exemplares botânicos e de maciços vegetais em áreas não já rurais, mas urbanas, a adensarem-se.
Vão desaparecendo quintas e jardins particulares, sacrificados às necessidades de espaço para novas construções e à sede de lucro das imobilizações fundiárias. O interesse particular a imperar desalmadamente sobre o bem comum...
Com o desabar dessas rururbanizações e o erguer de novas construções urbanas que à Natureza pouco mais concedem que o espreitar os astros por entre florestas de cimento armado, vai-se muito desse espaço vital: as zonas verdes, que bem serviam a definir um quadro de vida e ajudavam a humanizar, a "naturalizar", um pouco as cidades-jardins de antanho.
Não admira, assim, que mais e mais se reconheça nessas metrópoles, ou megalópoles da actualidade, uma degradação da "qualidade de vida", que anda pariedes meias com a falta dessoutro espaço vital para as pessoas viverem e contactarem com essoutra Natureza, que não apenas a humana, e as suas virtudes, defeitos, instintos ou paixões.
Degradada a paisagem, a cidade torna-se, por vezes, a selva da própria humanidade. "Andam feras à solta na cidade", terá dito alguém em certa longitude.
Sob o camartelo demolidor volvesse em pó e detritos não apenas o já referido património monumental e artístico, mas essoutro natural, vegetal, botânico, que alegrava a vista e ajudava a apaziguar os corações. E disso se ressentem quantos habitam a cidade nos dias de hoje.
Indubitavelmente, as novas vias die comunicação e meios de transporte podem, nos tempos livres de outras actividades familiares ou profissionais, conceder ao cidadão das grandes urbes o contacto com a Natureza não poluída e desequilibrada dos grandes espaços agrários ou rurais, o próprio desfrutar de residências secundárias, quando primárias se não encontram disponíveis em quantidade, qualidade e preço devidos Para muitos dos seus "irmãos" concidadãos. E até sucede que, na cidade, os escritos se eternizem ou Perpetuem em casas para alugar, sem contribuírem para os cofres do Estado, que se deseja social, com uma parcela de rendimentos possíveis de angariar se as rendas descessem um pouco, às tantas, e as habitações - em vez de vagas - viessem em breve a ser alugadas. Quem dispensa esses rendimentos por tanto tempo bem podia ceder uma parcela dos rendimentos dispensados em benefício da habitação social.
Mas voltemos ao ambiente de vida e património vegetal.
Para a preservação de outros bens dispõem as câmaras municipais, teoricamente ao menos, de comissões municipais de arte e arqueologia, ou de turismo, como já aqui foi recordado na referida intervenção. Mas quantas disporão para a defesa ou promoção do meio ambiente e conservação ou fomento dos maciços vegetais e espécimes botânicos de particular grandeza, beleza ou expressão de comissões equivalentes e serviços afins capazes de prestarem o contributo de uma orientação, fiscalização e acção eficazes?
Poderá alegar-se que "a seara é grande e os servidores são poucos", mas interessaria inquirir também se se terá feito todo o possível por promover a sua formação e preparação profissional.
Quando será reconhecido à arquitectura paisagística nos planos do ensino superior agrário o lugar que lhe é devido no contexto da refoma da educação?
E que dizer dos demais graus de escolaridade? Quando teremos verdadeiras escolas de floricultores que preparem para a vida agrária e arranjo ou tratamento dos jardins nesta hora em que a flor e a folhagem, os maciços vegetais, os relvados, começam a ganhar lugar de eleição no quadro de vida das sociedades de "consumo de massa" ou "de abundância"?
Lacunas do nosso sistema escolar que teremos de preencher um dia.
É exigência de quase todas as câmaras a existência de um médico veterinário municipal. Mas quantos concelhos terão aí, ou no grémio da lavoura, um técnico agrário, de cultura geral e grau intermédio que seja, ao seu dispor e do das populações? E, no entanto, a generalidade dos concelhos são rurais, agrários.
Como fazer florir as estradas e caminhos de Portugal mais profusamente, nesta hora de tempos livres e turismo nacional e internacional, se temos tão poucos "hortos" florícolas municipais e menos ainda distritais? Como cuidar dos seus jardins?
A quem, a que serviços e estruturas virá a caber a preservação e o fomento dessa riqueza botânica, florícola ou arborícola, que se estadeia ou podia desenvolver ainda mais por terras e vias de comunicação de Portugal?
A quem cabe o inventário, a preservação e fomento desse património nacional?
Não seria possível promover, aquando das demolições por via de urbanização, a transferência de muitos desses especímenes botânicos que levaram anos e anos, gerações por vezes, a criar e desenvolver, transferir para praças, largos, jardins e outros espaços verdes municipais existentes ou a criar, evitando a morte inglória, como vem a suceder a tantas palmeiras nos arrabaldes desta grande Lisboa?
E, no entanto, são árvores por vezes centenárias, que bem poderiam encontrar melhor, mais condigno