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29 DE MARÇO DE 1973 4837

cargo este que desempenhou com elevação e soube dignificar como outras figuras de juristas, tais como o Dr. Pedro de Castro, que anteriormente o haviam ocupado.
Jurista de fina sensibilidade, era, no entanto, por formação e tendência natural, um político por vocação. Esta sua aptidão e o conhecimento que tinha do Porto - dos seus homens e das suas coisas - levaram-no ao desempenho do cargo de governador civil desse distrito. A partir daqui, a sua carreira política caminha em marcha ascendente, sem cessar, e, assim, mercê dos cargos que lhe são confiados, vai-se desenrolando e multiplicando no exercício de diversas funções da maior responsabilidade, deixando bem vincada em todas elas a marca inconfundível da sua forte personalidade, ao produzir trabalho de fundo na organização e aperfeiçoamento das estruturas do regime político que tão devotadamente serviu.
Assim, em 1940 é chamado a exercer responsabilidades governativas como Subsecretário de Estado das Corporações e Previdência Social, onde deixou assinalada a sua passagem pela elaboração de diversos projectos que vieram a ser convertidos em diplomas legais.
Em 1944 assume as funções de Subsecretário de Estado da Assistência Social, onde a sua acção se fez sentir, e concretizou por forma acentuada no domínio da assistência psiquiátrica, da assistência aos menores, aos inválidos e à família, no campo da luta contra a lepra e no combate à tuberculose, doença esta que ao tempo atingia como verdadeiro flagelo parte apreciável da população e cujo tratamento eficiente com vista à sua erradicação se revestia de sérias dificuldades. Mas é em 1950 que Joaquim Trigo de Negreiros atinge o zénite da sua brilhante carreira política, quando o Doutor Salazar lhe confia a gerência da pasta do Interior, cargo este em que permaneceu até 1958. E, se como Ministro do Interior soube imprimir um rumo ordenado e coerente à política interna do País, a sua acção continuou também a fazer-se sentir por forma saliente, pelas decisões que tomou no campo da saúde e da assistência, através do Subsecretariado da Assistência Social, que ao tempo se encontrava na dependência directa da pasta do Interior.
Foi assim que, possuindo clara visão dos problemas e perfeito conhecimento das necessidades do País, contribuiu decididamente para a revitalização das Misericórdias, carecidas de meios materiais, muitas das quais não dispondo de serviços e com funcionamento meramente simbólico.

O Sr. Pinho Brandão: - Muito bem!

O Orador: - Foi com o seu entusiasmo e tenacidade ao serviço de uma causa justa revestida de utilidade e marcada por um cunho de espírito altruísta que no prosseguimento de uma campanha previamente concebida e convenientemente estruturada em estreita colaboração com o Ministério das Obras Públicas que os hospitais sub-regionais - hoje denominados "concelhios" - nasceram, cresceram e entraram em funcionamento de norte a sul do País.
O seu espírito e sensibilidade soube estimular e fomentar a benemerência particular dirigida no sentido do auxílio a prestar às Misericórdias, suprindo as carências do Estado, para que estas melhor pudessem realizar os seus objectivos dentro do espírito que presidiu à sua criação.
Foi assim que apareceram os cortejos de oferendas a favor da construção dos hospitais e para aquisição dos respectivos equipamentos... Foi assim que surgiu a ideia da Jeira de Deus. Recordo neste momento o Ministro Trigo de Negreiros, oriundo da terra - e com os pés assentes na terra -, enquadrado na paisagem do Romeu, em tarde de Primavera, sem casaco, chapéu de aba derrubada, uma das mãos segurando a rabiça do arado e a outra empunhando a aguilhada com a qual conduzia uma possante junta de bois, lavrando a terra para lançamento da semente destinada à leira de Deus a favor do Hospital de Mirandela, em acto cheio de simbolismo que se estenderia pelo País fora...
Mas a personalidade multiforme de Joaquim Trigo de Negreiros fez ainda com que tivesse sido Deputado à Assembleia Nacional em diversas legislaturas, como foi também Procurador à Câmara Corporativa, de cuja Secção Permanente fazia parte e onde ocupou as funções de vice-presidente.
Cessara as funções de Ministro do Interior para assumir as de presidente do Supremo Tribunal Administrativo, as quais desempenhou com superioridade, acerto e isenção, sem comprometer a responsabilidade que incumbe a esse alto órgão na defesa dos interesses que lhe são afectos.

O Sr. Duarte do Amaral: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Com muito gosto.

O Sr. Duarte do Amaral: - O meu testemunho é perfeitamente insignificante perante as considerações que V. Exa. está a fazer, mas acompanhei o Sr. Dr. Trigo de Negreiros durante uma grande parte da sua vida e, por isso, gostava de me associar à homenagem que V. Exa. lhe presta, sobretudo, em dois aspectos: sobre o da sua inteligência e o das suas qualidades de extraordinária humanidade.

O interruptor não reviu.

O Orador: - Eu registo com muito gosto esta homenagem que V. Exa. acaba de prestar ao Sr. Dr. Trigo de Negreiros.
Joaquim Trigo de Negreiros foi grande, visto ao nível do País - e não se diminuía, antes se agigantava, quando apreciado como bragançano, no quadro limitado da sua região, amando a sua terra e lutando pelo seu engrandecimento. Conhecia os seus problemas como poucos e assim os sentia no seu íntimo; procurava ser útil à sua terra removendo ou ajudando a remover dificuldades que surgissem; o seu conselho prudente refreava ânimos exaltados ou contribuía para abrir novos caminhos ou indicar outros menos conhecidos. Estava sempre presente - tanto nas horas boas como nas horas más.
Há poucos dias ainda a cidade de Bragança, acompanhada pela sua Câmara Municipal, prestou justa e merecida homenagem ao Ministro Prof. Veiga Simão. Quem assistiu a ela e desconhecia o desfecho que a todo o instante se aguardava deve ter notado a ausência do Dr. Trigo de Negreiros e certamente concluiu ser essa a primeira vez que a sua falta se verificava. A sua vida encontrava-se a breves momentos do fim.