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29 DE MARÇO DE 1973 4839

O Orador: - A sua cultura vasta e poliforme, o seu espírito de trabalho, a eficiência de que constantemente deu provas, a sua capacidade de decisão, a sua coragem e gosto das responsabilidades, conjugados com aquelas qualidades humanas, fizeram de Joaquim Trigo de Negreiros um dos mais hábeis políticos dos últimos quase cinquenta anos e uma das figuras mais destacadas da vida nacional neste meio século.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Com a sua morte perde o País alguém que pela sua experiência, conhecimentos, prestígio e simpatia se muito lhe deu, muito poderia ainda ficar-lhe a dever se a morte impiedosa o não tivesse roubado tão cedo ao convívio de todos.
Colaborador dedicado, leal e amigo de Salazar, Joaquim Trigo de Negreiros fez parte de uma plêiade de homens que definiram uma época que ficará indelevelmente marcada na vida do País. Infelizmente poucos, muito poucos, desses homens pertencem ainda ao nosso convívio, porque mais rico seria o País e mais simples nos seria vencer as tremendas dificuldades que o destino nos reservou. Deus seja louvado!
Sr. Presidente: Poucas palavras mais, já que pelo menos Bragança deve a Joaquim Trigo de Negreiros a homenagem a que tem jus, que nunca lhe tributou em vida na justa medida que devia,...

O Sr. Veiga de Macedo: - Bragança e o País!

O Orador: - ... e será este o momento para traçar o perfil deste homem que distribuiu por tanta gente tanto amor, amparo e protecção, como dificilmente poderá igualar-se, e em que o esforço no sentido de promoção económica e social, como dos auxílios materiais, completam um quadro impressionante de dádiva e sinceridade.
Há, porém, três traços da sua personalidade que não devo deixar de lembrar aqui, e neste momento, por outros tantos episódios justificativos.
Em 1950 era Joaquim Trigo de Negreiros Ministro do Interior, e nessa qualidade foi, em representação do Governo, receber os restos mortais do Presidente Teixeira Gomes. Houve manifestações públicas que levaram à intervenção das forças de segurança.
Chocado com o facto, perturbado pela circunstância de alguns homens terem ficado presos, Joaquim Trigo de Negreiros passou algumas noites sem dormir, sensibilizado pelo facto da privação da liberdade imposta a outros.
Ao chegar em 1940 à Subsecretária das Corporações foi, pelo seu espírito liberal, recebido com reservas e suspeitas.

O Sr. Alberto Meireles: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Alberto Meireles: - Se V. Exa. me permite, eu, com muita emoção, acrescentaria o meu testemunho. Penso que nesta sala só o Sr. Deputado Henrique Veiga de Macedo e eu o recebemos no Ministério das Corporações em 1940, ambos jovens delegados no Instituto Nacional do Trabalho.
É verdade. Não o negamos. É título de glória de Trigo de Negreiros. Terá sido recebido com hesitações
e com reserva, porque não era dos nossos, daqueles que connosco tinham feito a arrancada.
Recebemo-lo, e lembrarei um traço que era da sua personalidade: o primeiro acto de reunião entre nós foi discutir a lei da renovação das Casas do Povo, em que ele não tinha colaborado. Era da autoria de Manuel Rebelo de Andrade. Assunto que ele não conhecia sequer.
A humildade, a receptividade com que ele aceitou de nós, rapazes, jovens entusiastas, e talvez com alguma suspicácia, com que recebeu as nossas sugestões, a receptividade com que recriou essa lei e com que quis que lhe déssemos execução, tendo-o ele à frente, foi notável.
Logo a seguir outra obra notável: foi a criação do abono de família em Portugal.

O Sr. Veiga de Macedo: - Muito bem!

O Sr. Alberto Meireles: - Arrancou com a simplicidade de um provinciano, de um homem de pequenos recursos, porque se gastou muito pouco e se fez imenso.
Tenho gosto, e em especial porque as circunstâncias nos terão separado, render esta homenagem muito sentida àquele que foi um dos grandes chefes do Instituto Nacional do Trabalho.
Muito obrigado.

O interruptor não reviu.

O Orador: - Eu continuo: combatido por muitos, criticado duramente por outros. Indiferente a todo o ambiente, aferrou-se ao trabalho, respondendo com afabilidade a todos, correspondendo a todas as solicitações, parecendo na sua humildade a todos pedir desculpa de ali se encontrar. E rapidamente tudo mudou, cessaram as revoltas, acabaram-se as dúvidas, cimentaram-se amizades sólidas, procedeu-se a uma estruturação válida, profunda e coerente do sector que lhe fora confiado.
Em dado momento da sua vida política ia homenagear-se alguém que não mantinha relações com Joaquim Trigo de Negreiros, alguém que sem disfarces lhe manifestava hostilidade. Pois Joaquim Trigo de Negreiros, com a sua habituai descrição, tudo fez para favorecer o brilho da homenagem, a grandeza da manifestação.
Três casos que posso testemunhar, três atitudes de uma tal grandeza de alma e de um tão grande espírito cristão que por si definem uma personalidade e caracterizam um homem bom, modesto, generoso, batalhador, amigo do seu amigo, amigo da sua terra e das suas gentes.
Pois que Deus derrame sobre a sua alma quanto de bem semeou nesta terra.

Vozes: - Muito bem! Muito bem!

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados: Se V. Exas. mo consentem, também eu gostaria, a título puramente pessoal, de dizer que me associo às manifestações de saudade, de apreço e de respeito que V. Exas. quiserem tributar à memória do Dr. Joaquim Trigo de Negreiros.

O Sr. Max Fernandes: - A escassez de carne de vaca é, na actualidade, um fenómeno que assume