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29 DE MARÇO DE 1973 4841

Outro aspecto a considerar é que são preciosos milhões de contos que, em vez de serem de algum modo encaminhados para a solução do problema adentro das nossas fronteiras e em vez de beneficiarem as pecuárias do ultramar e de contribuírem para atenuar a sua falta de divisas, têm ido parar sistematicamente aos cofres de países estrangeiros.
É deste modo que o panorama de carência mundial, conjugado com o potencial que temos em mão, oferece ao ultramar excelentes oportunidades de se criar e distribuir riqueza pelo desenvolvimento vultoso da sua pecuária - não um andar circunscrito ao acréscimo rotineiro a que temos assistido e que para nada chega, mas sim um passo gigantesco que lhe permitisse corresponder à chamada feita não só pelos seus próprios mercados e pela metrópole, como, mais tarde, pelas inúmeras nações que não têm possibilidades ecológicas de se auto-abastecerem.
O preço internacional de carne de vaca, em escassos meses, subiu de 30% e continua a subir, fazendo retinir um sinal de alarme nos países que a importam, mas também oferecendo maiores perspectivas aos territórios que exportam.
Muito recentemente, S. Exa. o Secretário da Agricultura, engenheiro Mendes Ferrão, afirmou que "as necessidades de produtos de origem animal nos dias de hoje são grandes, quer em Portugal, quer em todo o mundo: as disponibilidades no mercado internacional cada vez são menores e os preços têm traduzido uma marcha ascensional. Olhando a longo prazo, há que preparar todo o sector produtivo quanto às perspectivas futuras, que são boas, na colocação destes produtos no mercado".
Neste encarar do futuro, se grandioso é o problema, só na grandiosidade das nossas potencialidades ultramarinas e só na grandiosidade de medidas poderemos procurar uma solução capaz e encontrar uma solução nacional.
É preciso ter-se presente o simples facto de que uma vaca apenas produz uma cria por ano e que decorrerão alguns anos até que esta atinja o ponto óptimo de abate. Por natureza, portanto, a criação de gado bovino é um processo moroso que só atrairá capitais na medida em que, dentro do seu carácter aleatório, ela apresente mostras de ser uma actividade francamente lucrativa para quem pretenda empatar dinheiros.
Por enquanto e porque lhe falta esse pré-requisito essencial e a possibilidade de se obter concessões por aforamento mesmo para explorações em regime extensivo aconselhadas para as áreas de que dispomos, não temos presenciado os grandes capitais metropolitanos ou até estrangeiros - que procuram oportunidades melhores do que as que têm onde estão - a afluir a Moçambique para aquele efeito, nem cremos que as enormes extensões propícias à pecuária, nomeadamente extensiva, que recente publicação oficial delineou e avaliou em 5 milhões de hectares, tenham muita probabilidade de nesse sentido virem a ser aproveitadas enquanto não for racionalizada e melhorada a estrutura de economia em que essa actividade ali assenta e enquanto não houver acesso àquele tipo de ocupação.
Tenha-se em mente ainda que a tecnologia moderna visando mais carne e melhor carne em menos tempo, além de vultosos investimentos, além de dispendiosas infra-estruturas e além de técnicos suficientes e competentes, exige o estudo técnico e económico, o apoio creditício e o suporte de organismos estatais bem dotados e apetrechados.
Ninguém nutre dúvidas sobre as importantes realizações dos Serviços de Veterinária de Moçambique, actualmente dirigidos por um dinâmico director cujo nome - Dr. Fernando Paisana - é digno de menção pela obra já levada a efeito, mas, dada a imensidão daquele Estado e frente à enormidade do que há por fazer, bem merece este departamento oficial ser ampliado e multiplicado em todos os seus sectores.
Se observarmos o que tem acontecido com alguns países conhecidos como produtores de carne, poderemos colher valiosos ensinamentos sobre a importância da criação animal na vida das nações e sobre os factores-chave da pecuária moderna, que são: uma apurada técnica, a indispensabilidade de largos investimentos e o preço ao produtor como elemento incentivante, por excelência, de toda esta indústria.
Nos Estados Unidos da América, nos vinte anos que findaram em 1971, em que a população só cresceu de um terço, a produção de carne - graças ao seu avanço científico, a monumentais investimentos e a preços compensadores - aumentou duas vezes e meia, alcançando um magnífico coeficiente anual de expansão de 12,5%. Mesmo assim, no mês passado foi ali anunciado o provável racionamento da carne, pela suspensão de consumo uma vez por semana. Aconselhando o povo a trocar a carne pelo peixe, o próprio Presidente Nixon disse "ser patriótico comer mais pescado".
Na Austrália, onde vigoram altos preços, o Governo anima a exportação de carne isentando-a de taxas e outros desincentivos. O seu armentio registou, de 1966 a 1971, um aumento de 30%.
No Uruguai, cujo consumo anual por habitante atingia 100 kg, a inflação obrigou o Governo a instituir um racionamento que equivaleu a uma suspensão de consumo de quatro meses, a fim de ajudar o país a alcançar exportações de mais de um milhão e meio de contos, com que restaurar o equilíbrio da sua balança económica.
Na Argentina, o armentio subiu apenas 14 % nos últimos vinte anos. Houve falta de investimentos em virtude de o preço ao produtor ter sido considerado insuficiente. De 1966 a 1971 a média foi de 9$ por quilograma vivo e nesse período o número de bovinos permaneceu estático, e o país retraiu-se do mercado mundial.
No caso dos nossos territórios ultramarinos, em vias de desenvolvimento e cuja ocupação animal se pode considerar de recente data, embora haja acesso fácil a grandes extensões de viabilidade agrícola, a pecuária está longe de ter atingido o progresso que a sua economia reclama. Tal conquista depende, em primeiro lugar, do esforço do homem em superar as dificuldades inerentes ao terreno que é preciso desbravar e o desconhecido de uma climatologia zootécnica ainda por descobrir. O esforço necessário só será possível e só poderá ter continuidade e intensidade se e quando processado em condições atraentes sob o ponto de vista lucrativo.
No entanto, esse avanço geral transcende meras razões materiais: na opinião abalizada do nosso prestigioso antropólogo que é A. Rita Ferreira, "a elevação dos rendimentos da população rural contribuirá para a manutenção da estabilidade social. Entre a