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14 DE ABRIL DE 1973 5075

A Escola Militar seria uma riqueza e um pólo de desenvolvimento situado fosse em que cidade fosse deste país. Em Lisboa quase nada é.
Não será de pôr o problema, tanto mais que instalações e edifícios bem pouco funcionais já serão?
Pior a Escola de Aeronáutica, ainda anexa à Escola Militar. Será romantismo de leitor inveterado de St. Exupery quando criança, mas só concebo uma escola de aeronáutica situada próximo de intermináveis pistas de descolagem..: No meio da cidade, rodeada por tudo quanto é cidade, pois ao meu sentir parece-me deslocada.
Será de facto romantismo meu, tanto mais que dessa Escola no meio da cidade saíram sempre e estão saindo grandes aviadores. Será de facto romantismo meu, mas, pergunto, se essa Escola, em vez de no coração de Lisboa, estivesse de facto situada à beira de infindas pistas, junto de alguma portuguesíssima cidade que não esta, algum mal viria ao Mundo ou à Escola? Até nem dinheiro custaria, porque a cerca dos Paços da Bemposta, vendida ao preço por que em Lisboa se vende terreno, daria para construir, fosse onde fosse, a mais bela das escolas.
Será Lisboa, volto a perguntar, a localização mais conveniente das escolas militares, para as forças armadas e para a Nação?
Vindo meninos e moços para Lisboa, é natural e humano que as delícias desta cidade maravilhosa atraiam e segurem os futuros oficiais de tal forma que nunca mais queiram voltar às terras ingratas donde um dia saíram. É natural e é humano.
Para as forças armadas não sei se haverá qualquer vantagem. Para a Nação, cada vez mais desequilibrada e mais macrocéfala, não haverá com certeza. Havê-la-á, porventura, para os rapazes, certos de que, se um dia quiserem aumentar os seus proventos, ou, por qualquer motivo, abandonarem as fileiras, encontrarão sempre à mão abundantes e bem remunerados lugares, que, pelo menos facilmente (e aqui estou a ser optimista!), não encontrariam em qualquer outro ponto do País. O que não sei se, em si, constituirá vantagem para os exércitos.
Deixo aqui, no melhor espírito, estas poucas reflexões, que, se forem impertinentes, ninguém poderá dizer com justiça que não são sugeridas senão por amor da Pátria e das forças armadas.
Mas nem só as escolas militares são escolas independentes do Ministério da Educação Nacional, cuja descentralização nos pareceria altamente benéfica para a Nação. Quero fazer uma referência, que suponho mais do que justa, a uma - pelo menos em minha opinião - grande injustiça que há pouco se cometeu.
Em bem velhas instalações e com bem fracos meios funcionou até há pouco a Escola Náutica. Mesmo assim, que incomensuráveis serviços prestou ao País! Necessário era agora dar-lhe dignidade e eficiência que correspondessem à altíssima missão que lhe compete desempenhar pela e para a Grei.
Mais do que de louvar foi a ideia de se construir uma nova escola, escola que todos esperamos venha a ser nova sob todos os pontos de vista. Só o não deve ser na tradição que herdou e nos pergaminhos que a obrigam.
Não se regateiam os maiores louvores, repito, à ideia de construir uma nova, grande e eficiente Escola Náutica em Portugal.
Mas, deixem-me ser sincero, não posso concordar que, ao fazer de novo uma grande Escola Náutica, tenha sido em Paço de Arcos que se tenha entendido ser a sua melhor localização.
Do Estado ou sem ser do Estado, quanto vale o terreno que se empatou nesta Escola Náutica? Não haveria outro local para a construir? Supremíssima razão: se são de Ílhavo grande parte dos oficiais da nossa marinha mercante, como certamente, e por respeitabilíssima e honrosíssima tradição, hão-de vir a ser de Ílhavo grande parte dos futuros alunos da nova Escola Náutica, por que é que se não escolheu, não digo já Ílhavo, mas pelo menos Aveiro para a sua sede?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Aveiro é um porto que só ganharia em ter maiores necessidades, onde não faltam terrenos planos à beira-ria, verdadeiro paraíso dos desportos náuticos, que devem praticar futuros oficiais de marinha, última pátria dos veleiros que sempre os ensinaram...

O Sr. Veiga de Macedo: - Muito bem!

O Orador: - ... com todas as condições, tradições e direitos para ser a incontestável e inesgotável fonte de quantos virão a comandar os barcos com que havemos de comerciar ou pescar.
Que me desculpem os ilustres Deputados de Aveiro a intromissão que também no seu campo agora faço.

O Sr. Veiga de Macedo: - Os Deputados por Aveiro e Aveiro só têm de agradecer a V. Exa. - agradecer e louvar!

O Orador: - Não precisam eles, certamente, nem da minha voz, nem do meu sentir, como também Aveiro não necessitará de ninguém para vincar as suas quase infinitas, mas desprezadas, potencialidades. Muito menos ainda precisarão os indómitos lobos do mar de Ílhavo, que quem menos direito tem lhes venha gabar o valor.
Só por isso me calo. E que tudo isto não represente senão a tristeza que alguém sentiu, quando há anos soube que, como a falta de imaginação deste País sempre obriga, a nova Escola Náutica seria construída na zona de Lisboa, e não em Aveiro, como deveria ser. Não era do meu foro e nada podia fazer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Hoje posso, pelo menos, levantar aqui a minha voz, lamentando apenas que seja tão tarde e tão mal, quando o que não tem remédio remediado está.
Que, pelo menos, estas palavras, por atrasadas e ultrapassadas que possam ser, deixem uma ténue esperança de que ainda um dia vejamos nas margens da ria de Aveiro uma escola náutica, que seja símbolo da gratidão que a Pátria tem de ter por tantos dos seus filhos que por ela lutaram e morreram em todos os mares do Mundo.

O Sr. Veiga de Macedo: - Muito bem!