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5310 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 257

nossos investigadores ainda se não libertaram do equívoco que essas referências documentais lhes provocaram, levando-os a admitir a existência de verdadeiros castelos medievais nos locais referenciados como Anóbrega, Faria, Boivão, Neiva, Vouzela, etc. E, como pela inspecção local não encontraram ruínas desses castelos, concluíram que o povo há muito se apoderou das pedras para lhes dar outro destino. E, no entanto, as pedras, quando as houve, lá estão ainda. Lá estão os fossos e as muralhas envolventes que tanto pode ser uma só, como seis ou sete, ou mais.
O que afirmo pode ser observado no Castelo de Faria ou no Castelo do Neiva, para só me referir aos mais conhecidos. Em alguns casos - naqueles em que a pequena comunidade dispunha de penedias adequadas à defesa - nem havia muralhas, mas o nome de "castelo" lá ficou, como no caso de Boivão, a atestar a função desempenhada.
Respeitadas pelos Romanos, como prudentes administradores que eram, essas primitivas comunidades voltaram a viver exclusivamente sobre si quando a organização imperial se desarticulou.
A sua identidade, como tive ocasião de verificar por dados que não vem para aqui expor, sobreviveu nas conhecidas terras medievais. É a essas primitivas comunidades que se tem de recuar para compreender as raízes do nosso miinicipalismo e, seguramente, para compreender também muitas das diferenciações regionais. Os nossos historiadores e investigadores têm vivido deslumbrados com o que veio de fora - Romanos, Germanos e Árabes -, silenciando a permanente realidade do nosso povo e atribuindo até muitas vezes à actuação das minorias invasoras o que foi obra exclusiva dos nossos antepassados.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Achei indispensável esta introdução para salientar a necessidade de proteger urgentemente os monumentos mais significativos das comunidades primitivas. É preciso atribuir sem demora a categoria de monumento nacional aos que estão por classificar; é urgente pôr cobro à situação de abandono e consequente destruição em que muitos se encontram.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Passo a concretizar.

A citânia do Mosinho, em Penafiel, conhecida entre o povo por "cidade morta", que foi provavelmente a capital dos Calaicos, a tribo que deu o nome à Galiza, está votada a completo abandono.
O recinto fortificado de Vandoma-Baltar no concelho de Paredes, provável centro defensivo da mesma tribo, está por estudar e classificar, apesar de a sua muralha principal ter cerca de 4m de largura e 4300 m de perímetro. O complexo das suas defesas, em que se integram diversos cubelos e construções de invulgares dimensões dispersas ao longo dos seus 4 km, abandonado e desconhecido como está a tão poucos quilómetros do Porto, mostra bem que não somos dignos do rico património que temos.
O recinto de 1700 m de perímetro que deu o nome à serra do Montemuro, situado a cerca die 1300 m de altitude, foi há pouco cortado sem necessidade pela estrada em construção entre Cinfães e Castro Daire. Um pequeno desvio teria bastado para evitar que a estrada - que tanto facilita o acesso - o devassasse.
O recinto fortificado da região de Basto, também com mais de 4 km de perímetro, situado no alto do monte Farinha e cabeços adjacentes, a cerca de 1000 m de altitude, numa das mais belas e repousantes regiões do País, também está por estudar, classificar e proteger. O mesmo se diga da citânia da terra de Basto, com 1376 m de perímetro, situada no monte Ladárío, cujo nome provável, a julgar pelo das freguesias que a circundam., terá sido o de Basto que a região herdou.
Outra importante citânia-recinto, com cerca de 2 km de perímetro, onde a arte ornamental geométrica castreja atingiu requintes não ultrapassados em Briteiros, vem sendo desmantelada há dezenas de anos no monte do Senhor dos Perdidos, em Felgueiras, com a destruição das penedias em que assentavam os seus bastiões. E a destruição continua.
O recinto fortificado da Penha, cabeça defensiva da primitiva comunidade de Guimarães, foi destruído há muito em proveito do parque lá existente.
A antiga cidade de Colipo, cabeça da região de Leiria, a cerca de 6 km desta cidade, que abundava em inscrições, estátuas, palácios e moedas, foi destruída com plantações de vinha há cerca de vinte anos.
O muito nomeado acampamento romano de Antanhol, que de romano, na minha opinião, só tinha a catalogação desvirtuadora e que devia ser também um centro defensivo da comunidade local, foi praticamente destruído pelas obras de abertura do campo de aviação de Coimbra. Oxalá que não toquem no que resta das duas grandiosas vaias defensivas situadas no extremo da antiga pista.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O Castelo do Neiva, cabeça da terra do Neiva, cujas extensas defesas, de cerca de 2 km de perímetro, se apoiam no rio Neiva, em fossos e em numerosas muralhas, está a ser ocupado com prédios cuja construção nunca devia ter sido autorizada.
A citânia de Santa Luzia, em Viana do Castelo, situada em local de inexcedível beleza, numa via de densa penetração turística, está votada a triste abandono. Os notáveis restos de muros e casas circulares de aparelho helicoidal, documentando uma arquitectura de excelente originalidade estética, estão a cobrir-se de mato e de imundície e a oferecer a curiosos inconscientes a oportunidade de alagar paredes milenárias.
Na própria citânia de Briteiros, que tem guarda, mas que parece guardar melhor as cabras que as ruínas, encontra-se juncado de pedras e sem o devido resguardo o singular monumento funerário que deu sentido à conhecida Pedra Formosa.

A Sra. D. Raquel Ribeiro: - O Sr. Deputado dá-me licença?

O Orador: - Faça o favor.

A Sra. D. Raquel Ribeiro: - Eu posso acrescentar que na cidade de Lisboa, nos terrenos da C. P. junto à Santa Casa da Misericórdia fica a muralha Fer-