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30 DE ABRIL DE 1973 5311

nandina da cidade e a Torre do Conde de Estabre. Ora sucede que devia estar reservada por uma área de 50 m e, não se sabe como nem com que autorização, a C. P. construiu instalações em cima da dita muralha e da Torre; inclusivamente, a janela histórica que aí existia desapareceu, e não se sabe a que se destinam as ditas instalações ali construídas. É só o exemplo que eu queria acrescentar.

O Orador: - O recinto defensivo de Gaia, que encerra o centro administrativo que provavelmente deu o nome à região encontra-se no monte da Senhora da Saúde, nos Carvalhos. Com mais de 3 km de perímetro, um importante fosso e numerosas muralhas que fizeram conhecer Nem o Porto tem escapado ao signo da destruição. O alto da Cividade, que, com o da Pena Ventosa, formou o núcleo de excepcional aptidão defensiva que garantiu a sobrevivência histórica da primitiva cidade, foi cortado para se abrir uma centena de metros de uma avenida que talvez não fosse indispensável. E, assim, se desfigurou para sempre o coração da velha cidade, desequilibrando irremediavelmente tudo o que nele se encontra.
Mas há mais e pior. A uns 12 km do Porto, no coração da velha e importante tenra da Maia, encontra-se um monumento de descomunais dimensões, com cerca de 7 km de perímetro, ocupando terreno de quatro freguesias - Alvarelhos, Guilhabreu, S. Pedro ide Avioso e Muro - e de três concelhos - Maia, Santo Tirso e Vila do Conde. Centro defensivo de uma importante comunidade primitiva acantonada entre o Leça e o Ave, apresenta um impressionante conjunto de fossos e muralhas de diversos tipos e larguras, tudo ajustado às condições do terreno e integrado num esquema de defesa em profundidade que, em alguns sectores, conta com mais de dez linhas de obstáculos.
Um pequeno sector desse conjunto, onde aparecem os restos de uma casa circular e de outras construções, foi declarado monumento nacional em 1910, na categoria de um castro vulgar, que não era. Tudo o mais ficou por identificar.
Creio, no entanto, não ser ousado pressupor que a pequena povoação que lá existiu teria muito provavelmente o nome que a região herdou - Maia.
Um importante tesouro numismático de cerca de duas mil moedas romanas de prata da República e do Império apareceu em 1971 na exploração de uma pedreira que fazia parte do recinto. Conseguiu-se então que a Câmara Municipal de Santo Tirso embargasse a obra, mas, pouco depois, a Junta Nacional de Educação levantou o embargo. E a obra da pedreira prossegue, apesar de a poucos metros do local do tesouro ter aparecido há meses uma pedra com inscrição latina e apesar de ser manifesto que a pedreira está a destruir o monumento mais extenso até agora localizado em Portugal.
Peço perdão à Assembleia de me alongar em pormenores talvez escusados e de insistir numa tese que muitos adiarão discutível. Só quero salvar os monumentos, não quero impor opiniões. Bem sei que alguns arqueólogos, considerando que o pequeno número de moradores das citânias seria insuficiente para defender as suas tão extensas muralhas, têm defendido como mais provável a hipótese de tais muros -que em alguns casos atingem 5m de espessura- servirem sobretudo para guardar o gado do assalto das feras.
Salvo o respeito que sempre me mereceram as opiniões contrárias, assentei para mim que não se podem interpretar os monumentos dos nossos antepassados partindo do pressuposto de que estes eram imbecis. E, por isso, procurei outras interpretações.
Hoje suponho que estou no bom caminho, porque sempre que disponho dos limites da terra medieval, a conjugação da área com a aptidão agrícola dos terrenos têm-me permitido, antes da descoberta do respectivo recinto, prever o seu perímetro aproximado.
A comparação desses recintos entre si permitirá organizar um mapa com a graduação das densidades demográficas do nosso território na última fase da cultura castreja.
Para os que possam ter particular interesse por este aspecto, posso adiantar que já então se manifestavam os profundos desequilíbrios regionais que hoje observamos existir entre o interior e o litoral.
Poderia multiplicar os exemplos de monumentos já destruídos ou expostos à destruição. Foi, porém, minha intenção confinar-me aos que teriam a categoria de centros urbanos ou defensivos de comunidades primitivas.
Dos outros, só vou abrir três excepções, para me referir, num caso, a um monumento já conhecido que não foi poupado e, nos outros, a dois monumentos desconhecidos que ainda estão intactos e à espera de quem os salve para o futuro. O primeiro, foi o importante castro de Guifões, em Matosinhos, cuja exploração, por se tratar de porto fluvial na foz do Leça, muita luz poderia projectar sobre as actividades comerciais de outrora. A construção de um campo de tiro desfigurou-o há poucos anos.
Os outros dois são o Castelo de Santa Cruz, em Vila Caís, Amarante, e o Castelo dos Mouros de Quinchães, Fafe. Trata-se de recintos sagrados de excepcional importância, onde há analogias com os santuários de Panóias e Baldoeiro e onde avultam escadas e carreiros, e, até uma piscina, abertos na rocha.
Por este estado de coisas somos todos responsáveis, porque é quase inadmissível que, após um século de investigação arqueológica em Portugal, o panorama seja tão sombrio.
Voltados para uma erudição alimentada com o que vem do estrangeiro, conhecemos melhor a Grécia que o nosso país; e, depois, quando nos surge uma nesga da nossa realidade primitiva, somos capazes de ir à Grécia ou ao mar Egeu importar numa colónia para a explicar.

Vozes: - Muito bem!