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804 I SÉRIE - NÚMERO 23

Há dias um jornal diário dava-se conta de l milhão de contos por mês de letras protestadas.
Á tratar-se de uma estimativa digna de crédito, seremos nós próprios, em breve, enquanto pais, uma letra protestada. Uma letra não descontável no banco da esperança.
Entretanto o Sr. Primeiro-Ministro recusa o alarme!...
Uma revista da especialidade publica a relação e os resultados das 200 maiores empresas portuguesas. Quem se der ao desfastio de somar esses resultados, relativos ao último exercício, antes mesmo da dedução dos correspondentes impostos, concluirá, com surpresa e talvez com pasmo, que esses resultados são globalmente deficitários!
Apesar disso, o Sr. Primeiro-Ministro rejeita o pânico!...
Com o défice de 300 milhões de contos da balança de transacções correntes que o próximo Natal nos vai pôr no sapato - o maior de sempre! - cada português passará a dever ao estrangeiro mais de 110 contos, esteja com os pés para a cova o que aligeira a pena ou tenha acabado de nascer - o que a reforça.
Significa isto que, no momento em que vêm aí as dolorosas primeiras amortizações do capital recebido de empréstimos nos últimos anos, nos abeiramos do limite da nossa capacidade de endividamento externo. O que bem pode significar que, desta vez, o Fundo Monetário Internacional se não vai contentar com mais um furo no cinto e vai, implacável, lembrar-nos que as reservas de ouro, que ainda temos, é precisamente para estas situações que servem!
Felizmente temos um Primeiro-Ministro também de ouro, que se não aflige com coisas de somenos.

Risos da UEDS.

O desemprego é outro dos nossos cavaleiros do apocalipse. Fechadas as soluções salazaristas - a emigração e a guerra - e finda a relativa contenção dos primeiros anos da revolução, apesar do afluxo de retornados - ameaça passar de endémico a epidémico. Mesmo sem a ajuda desse outro fantasma, que é o eventual regresso dos nossos emigrantes, pressionado pelo desemprego dos países de acolhimento, aí o temos importante e ameaçador.
Sem investimento, com taxas de juro galopantes, sem expansão da procura e com o País reconduzido a níveis de crescimento zero, as portas de empresas que se fecham são mais do que as que se abrem e o número de postos de trabalho recua, enquanto que o de trabalhadores activos avança.
O futuro é, para a nossa juventude, uma porta fechada. E quando o mercado do trabalho repele os jovens em busca de primeiro emprego acolhe-os o crime, acolhe-os a droga, acolhe-os a prostituição, acolhe-os a destruição se os não acolher a revolta. Como última esperança, acolhe-os a guerra.
É bom que não esqueçamos que a Alemanha se lançou nos braços de Hitler depois de este ter feito alistar nas forças armadas nazis 6 milhões de desempregados.
A guerra os povos sabem-no resolve o desemprego: primeiro alista os desempregados e de seguida mata-os. E precisa tanto de trabalhadores que a Inglaterra, como todos sabemos, teve de fazer uma lei tão ávida de mão-de-obra que ficou conhecida como a «lei de mobilização das avós».
Apesar de tudo, quero crer que o nosso Primeiro-Ministro não estará preparado para aceitar soluções tão radicais.
Só que, de momento, não está preocupado!
Bem sei que o fenómeno não é apenas nosso, como sei que a inflação e o desemprego, tradicionais inimigos, por toda a parte se desposam.
A Inglaterra, com os seus 4 milhões sem emprego, a República Democrática Alemã com os seus dois milhões e meio e a França já a cavalo dos 2 milhões - sem falar na América de Reagan, ela também para lá de todos os limites da tranquilidade neste domínio -, são exemplos, de entre os mais significativos, de que o mal não é apenas nosso, o que, em vez de nos dar conforto, torna o nosso desemprego seguramente mais alarmante e mais grave!
Bem recentemente Helmut Schmidt disse encarar esta evolução com pessimismo, afirmando que «vê claramente que poderão acontecer factos dramáticos».
Nessa linha de preocupações o meu partido elegeu o combate ao desemprego como uma das suas prioridades.
Temos de honestamente reconhecer que ainda não foi feito tudo quanto, com alguma imaginação e alguma solicitude, pode ser feito pelos sem trabalho.
Mas a AD tem outras prioridades. E se Helmut Schmidt soubesse a economia que sabe o nosso Primeiro-Ministro teria, ele também, outra ordem de preocupações!
De resto, ainda bem que a AD não definiu essa prioridade. Até hoje a AD condenou ao fracasso as prioridades que elegeu!...

Risos da UEDS.

Pese à satisfação consigo mesmo do nosso Primeiro-Ministro, o mais grave de tudo é que o País parou.

Mas cuidado!

Sabendo, como sabe, que o capital inactivo não rende e que a inflação torna negativos os rendimentos dos detentores' de moeda, ou de títulos nela expressos, era natural que investisse. Mas não! Prefere especular a investir, consumir a especular, colocar o dinheiro lá fora a especular e consumir.
O neoliberalismo da AD facilita esse desideratum.
A este respeito, não resisto a contar uma história significativa do neopermissivismo grassante.
Há dias um dos nossos gestores bancários deslocou-se à Suíça em missão do seu banco. Calhou-lhe por vizinha, no avião, uma senhora loquaz. E ainda o aparelho não tinha levantado voo já ela lhe confidenciava que ia à Suíça, onde tinha uma continha em dólares, depositar mais alguns.
Contrariado, o gestor tentou pôr termo à conversa. Mas não era, aquela, uma conta «calada».
É que continuou a tagarela disseram-me que o Sr. Ministro das Finanças acha que aos dólares se devem preferir os francos suíços e, francamente, não sei o que fazer!...
O gestor, embatucado, reservou opinião. E como quer não desse o conveniente seguimento à parlenda, foi-lhe colocada a pergunta directa:
O senhor... também vai aos bancos?

Risos do PS, do PCP, da ASDI e da UEDS.

Honradamente, o pobre teve de reconhecer que sim. E