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16 DE OUTUBRO DE 1984 19

micos e sérios não se verificou, a sabotagem económica por parte de um vasto sector empresarial tem ficado impune. Entretanto, esbatem-se os contornos da adesão à CEE e tem-se a sensação que o nosso país e o Governo são tratados pela Comunidade Europeia como coisas menores, parentes pobres à espera de uma benesse que de qualquer modo, a não se verificar uma modificação estrutural da situação interna, apenas faria de nós novos ricos transitórios ou mais pobres adiados.
Em paralelo com a degradação crescente da situação social e económica, é notória entre a população portuguesa a instalação progressiva - e também ela alarmante - de sentimentos de descrença nas instituições e naqueles que lhes dão corpo - os políticos.

Há razões para isso.

Os programas eleitorais dos partidos com responsabilidades governativas nos últimos anos têm sido sistematicamente esquecidos e nesta Assembleia, que deveria ser lugar privilegiado para a defesa dos interesses daqueles que nos elegeram, verifica-se que o papel do deputado da República tem vindo a ser adulterado em especial pela força das imposições de circunstância dos aparelhos partidários.
Cada vez é maior o número de deputados que aceita passivamente ver reduzir a sua capacidade de intervenção, transformando-se em autómatos sem identidade própria a quem se pede essencialmente que não pense muito e que apenas esteja suficientemente atento para poder levantar-se e sentar-se, cada vez que há votações.
Num país politicamente deseducado convenhamos que o exemplo é desmotivador fazendo aumentar o desejo perverso tantas vezes explicitado na rua de que «o que é preciso é alguém que meta isto tudo na ordem como antigamente».
Assim, descrente das instituições democráticas, céptico em relação aos políticos e à política, espectador forçado e mudo de práticas políticas partidárias que contrariam frontalmente a ideologia e os programas que lhes servem de base, o cidadão português refugia-se no egoísmo, isola-se, alheia-se e difícil será motivá-lo para participar na procura conjunta de solução para os problemas que a todos preocupam. Por seu lado o cidadão, também ele responsável, autoriza tantas vezes passivamente que lhe confisquem a parte do poder e da cultura que lhe pertence, chegando a aceitar a ideia, tantas vezes presente na nossa história, de se deixar dirigir por um qualquer guia providencial.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: A imagem do político, e interessa-me aqui referir particularmente a do deputado, é hoje, convenhamos, uma imagem degradada a que o cidadão não associa espontaneamente como seria de desejar, a ideia da dignidade e de eficiência.
Neste clima agitam-se soluções que, no nosso entender, só os incautos ou os voluntariamente distraídos podem considerar saídas para os problemas evocados. Senão veja-se:

As conquistas irreversíveis da revolução eram a solução. Não foram!
Os governos de iniciativa presidencial iam resolver os problemas da Nação. Não resolveram!
A maior maioria de sempre responderia às exigências e necessidades dos Portugueses. Não respondeu!
Nas presidenciais de 1985 estará enfim a solução para as nossas preocupações. Não estará!
Como recentemente escreveu o meu camarada Lopes Cardoso «as eleições presidenciais serão um momento importante na vida política nacional; só que se arriscam a não ser, como muitos parecem acreditar, um momento de clarificação dessa mesma vida política».
De facto estamos convencidos que toda a discussão à volta desse problema tem sido apenas mais um pretexto, a que não tem faltado uma permanente e indigna intoxicação da opinião pública, para fazer esquecer os reais problemas cuja solução é urgente.

O Sr. César Oliveira (UEDS): - Muito bem!

O Orador: - Mais uma vez se encobre a incapacidade política de se assumirem ideias privilegiando em vez disso interesses mais ou menos pessoais, geradores no fundo de mais frustrações, de mais desconfiança nas instituições democráticas, de maior aviltamento do que deve significar ser-se eleito. Certa imprensa, que me abstenho de clarificar, mas cuja tendência intrínseca parece ser a de cair para o lado para onde pensa que vai cair o poder, tem nisso elevadas responsabilidades.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Perguntar-se-à se resta ainda algum espaço onde a política e os políticos possam recuperar a dignidade perturbada? Cremos que sim. E cremo-lo porque esperamos sinceramente que, no afrontamento de ideias, nas rupturas políticas que nos aparecem como inevitáveis e necessárias, os protagonistas de tais batalhas não continuem a escolher as areias movediças do compradio estéril e doentio, mas saibam encontrar-se no terreno firme do acordo transparente que não viola a integridade ideológica de cada um e faça reacreditar que em política a dignidade dos políticos é a base essencial para a sua prática.
O desafio que hoje nos é feito é que afrontemos a realidade, mudemos o que há a mudar, se conserve o que está certo, se sacudam as consciências e não se sacrifiquem as ideias a quaisquer compromissos.
O desafio é saber sair deste «Portugal-nevoeiro» onde como alguém disse:

Ninguém sabe que coisa quer
Ninguém conhece que alma tem
Nem o que é o mal nem o que é o bem.

Aplausos da UEDS.

O Sr. Carlos Lage (PS): - Sr. Presidente, dá-me licença?

O Sr. Presidente: - Faça favor.

O Sr. Canos Lage (PS): - Não sei se disponho de tempo, mas gostaria de pôr uma questão ao Sr. Deputado Octávio Cunha.

O Sr. Presidente: - Dispõe de 5 minutos, porque o orador da UEDS que acabou de falar não esgotou o seu tempo cedendo ao PS o tempo que lhe resta.