O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

278 - I SÉRIE - NÚMERO 9

sicários, para quem a luta política se processa e traduz por estes actos de terrorismo que nada respeitam, nem mesmo a própria vida humana.
Não pode esta Assembleia - expressão viva do poder democrático - deixar de, indignadamente, verberar um acto tão repulsivo como este, que fez cair pela morte uma figura de tal prestígio que, por vontade expressa do povo do seu país, ascendera à chefia do Governo da União Indiana.
Por isso, manifestando a sua repulsa por este inqualificável acto de violência, a Assembleia da República exprime o seu pesar e lavra o seu verdadeiro protesto contra o repulsivo acto que fez cair Indira Gandhi.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, acabámos de ouvir o voto em relação ao inqualificável assassínio de Indira Gandhi.
Vamos proceder à votação deste voto.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

O Sr. Presidente: - Para uma interpelação à Mesa, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Lage.

O Sr. Carlos Lage (PS): - Queria sugerir ao Sr. Presidente que seja enviado à Embaixada da União Indiana e também às autoridades indianas o texto da moção que acaba de ser aprovada.

O Sr. Presidente: - Assim se fará, Sr. Deputado. Para uma interpelação à Mesa, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Lemos.

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Sr. Presidente, é no sentido de saber o entendimento da Mesa quanto ao voto que acabámos de votar.
Da nossa parte não fizemos menção de produzir qualquer intervenção, mas gostaríamos de, em nome da nossa bancada, poder produzir uma curta declaração de voto relativa a este doloroso momento que foi manifestado no voto que acabámos de votar.
Gostaríamos de ouvir a opinião de V. Ex.a sobre se essa hipótese foi encarada e manifestar, desde já, o nosso interesse para que a pudéssemos realizar.

O Sr. Presidente: - Devo dizer-lhe, Sr. Deputado, que essa hipótese não foi efectivamente encarada, mas, dada a situação em que nos encontramos, sobretudo por causa das relações que temos com o povo indiano, e tomando em consideração que se tratava de uma figura de nível internacional por todos nós conhecida, não vejo qualquer inconveniente - antes pelo contrário, até aplaudo - que os Srs. Deputados de cada bancada possam dispor de 3 minutos para fazer as declarações que julgarem pertinentes.
Por outro lado, quero ainda dizer aos Srs. Deputados que «encostamos» no processo da ordem do dia este voto e, porventura, as declarações que virão a ser produzidas, interrompendo a sequência dos trabalhos que estávamos a ter. Por certo se compreenderá e não haverá objecção a que se tenha procedido deste modo.
Tem então a palavra o Sr. Deputado Jorge Lemos para esse efeito.

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Sr. Presidente, não serei eu a usar da palavra em representação da minha bancada, será a minha camarada Margarida Tengarrinha.

O Sr. Presidente: - Muito obrigado, Sr. Deputado. Tem a palavra a Sr.a Deputada Margarida Tengarrinha.

A Sr.a Margarida Tengarrinha (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O nosso voto de pesar significa toda a nossa condenação ao violento assassínio de Indira Gandhi.
Profundamente chocados pelo hediondo crime que vitimou esta insigne estadista, primeiro-ministro da índia e presidente do Movimento dos não Alinhados, sublinhamos o seu empenhamento em defesa da paz mundial e do progresso dos povos, tanto na luta contra o colonialismo britânico como na luta pelo desenvolvimento da índia e, muito particularmente, pela paz.
Indira Gandhi, pela sua vida, defrontou corajosamente o imperialismo. Condenamos, pois, energicamente, o violento crime de que foi vítima.

Aplausos do PCP e do MDP/CDE.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Lage.

O Sr. Carlos Lage (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Nós não estávamos inclinados a fazer uma declaração de voto, na medida em que julgávamos que o voto exprimia totalmente a posição desta Câmara. No entanto, como foi feita uma declaração de voto pela Sr.ª Deputada Margarida Tengarrinha, sentimo-nos também, de alguma maneira, obrigados a fazer uma.
A nossa declaração de voto é muito simples: Indira Gandhi era uma grande personalidade; era primeiro-ministro de um grande povo, com uma cultura admirável; dirigia uma comunidade política de 600 milhões - se não estou em erro - de pessoas e, além disso, ligava-se espiritualmente a algo que sempre me impressionou e que sempre cativou a humanidade: à espiritualidade e à luta pela independência da índia, dirigidas pelo Mahatma Gandhi.
Indira Gandhi faz parte dessa grande dinastia espiritual, ligada às lutas pela independência na União Indiana, às teorias do não alinhamento e a uma certa concepção espiritual da humanidade.
Evidentemente que nem sempre os actos políticos de Indira Gandhi se pautaram por esta atitude espiritual e foram controversos. As lutas políticas na índia têm assumido, por vezes, formas muito virulentas, muito violentas e não podemos, naturalmente, resolver todos os actos do Governo Indiano e, em particular, de Indira Gandhi. Mas não é por esse terreno que queremos entrar.
No momento em que ela é assassinada, não podemos deixar de nos curvar respeitosamente perante a sua memória e perante uma grande corrente política e espiritual que ela representou na índia.
De entre todas as formas de fanatismo, provavelmente, o fanatismo religioso é o mais repugnante.
Reprovamos todo o fanatismo: o fanatismo político, o fanatismo moral, o fanatismo filosófico e o fanatismo religioso. Mas sempre o fanatismo religioso tem proporcionado crimes intermináveis e intoleráveis.