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20 DE DEZEMBRO DE 1984 1159

numa aparente demarcação em que, por um lado, se aumenta a parada (esperando-se daí dividendos eleitorais e, por outro, se favorece um semblante de reforço da coligação, ajudando-se, na verdade, a prolongar uma situação de que se espera vir a colher os frutos.
Recusamos uma tal estratégia.
E porque a recusamos não daremos o nosso voto à moção de censura do CDS.

Aplausos da UEDS e de alguns deputados do PS.

O Sr. Presidente: - Teria agora a palavra o Sr. Deputado José Luís Nunes. Duvido, porém, que lhe bastem os 10 minutos que temos até ao intervalo. Assim, V. Ex.ª ficará com a palavra reservada para as 15 horas.
Por agora, vamos suspender os nossos trabalhos que recomeçarão às 15 horas.

Eram 12 horas e 50 minutos.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, está reaberta a sessão.

Eram 15 horas e 25 minutos.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Nunes.

O Sr. José Luís Nunes (PS): - Sr. Presidente, nesta minha intervenção, vou referir-me directamente ao discurso do Sr. Deputado Lucas Pires, que ainda não está presente. Penso que seria desprimoroso da minha parte fazê-lo na sua ausência. Nesse sentido, pedia a V. Ex.ª que interrompesse a sessão pelo tempo necessário à sua chegada.

O Sr. Presidente: - Agradecia que algum dos Srs. Deputados do CDS fizesse o favor de informar o Sr. Deputado Lucas Pires que o Sr. Deputado José Luís Nunes vai proferir a sua intervenção e desejava que aquele Sr. Deputado estivesse presente.
Tem a palavra o Sr. Deputado Soares Cruz.

O Sr. Soares Cruz (CDS): - Sr. Presidente e Sr. Deputado José Luís Nunes: Já pedi ao meu grupo parlamentar que avisasse o Sr. Deputado Lucas Pires da necessidade de vir para a Sala. Informaram-me que vem a caminho, pelo que estará aqui dentro de alguns minutos.

O Sr. Presidente: - Vamos, então, aguardar a sua chegada.

Pausa.

Sr. Deputado José Luís Nunes, penso estarem reunidas as condições que V. Ex.ª pretendia. Assim, tem V. Ex.ª a palavra para proferir a sua intervenção.

O Sr. José Luís Nunes (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Quis o CDS - como partido de oposição que é - apresentar uma "moção de censura ao Governo sobre a execução do seu programa".
Poderia ter-se limitado, nos termos do n.º 1 do artigo 197.º da Constituição da República Portuguesa, a propor a censura do Governo sobre um "assunto relevante de interesse nacional", mas preferiu os grandes espaços de um voto global.
A própria escolha do tema bem revela pretender o CDS concretizar a palavra de ordem que vem, há um certo tempo, a ser propagandeada em várias instâncias: o CDS como alternativa global ao presente Governo e à coligação que o apoia.
Tal pretensão é, pelo menos, irrealista!
Teve o CDS nas últimas eleições legislativas cerca de 12,5 % da percentagem dos votos expressos, e não cerca de 14 % como disse o Sr. Primeiro-Ministro, dentro daquele princípio de que, quando se derrota o inimigo, é bom valorizá-lo previamente para que a vitória tenha mais sabor.

Risos do PS.

Já nessa altura submetendo ao eleitorado a sua intenção de vir a constituir uma alternativa global à coligação que se desenhava.
Esta perspectiva política correspondeu então a 12,5 % do eleitorado. Hoje, e em novas eleições, não teria um sensível aumento.
O CDS sabe que, sozinho, não é alternativa a coisa nenhuma. O CDS sabe que, neste Parlamento ou fora dele, não encontra quaisquer forças partidárias com quem se possa coligar.
O seu discurso, nesta matéria, só pode ser um discurso ideológico que, pese embora a qualidade, o espírito criador e imaginativo do seu líder, Sr. Deputado Lucas Pires, tem evoluído, grosso modo, desde uma democracia cristã "rigorosamente ao centro" até a um liberalismo mais ou menos nacional.
Por mais aliciante que possa ser a sua forma escrita, não deixa este discurso ideológico de ser confuso e heterogéneo.
A sua linguagem é uma linguagem de denúncia de injustiça, mas não é uma denúncia gratuita ...
Denunciam-se os milhares de desempregados em Portugal, mas tão-só e porque tal denúncia é útil à nova cosmética ideológica do CDS.
Noutros países onde os partidos afins - ou que o CDS considera afins - estão no poder, não deixa o CDS de elogiar a forma como a crise económica está a ser vencida, não obstante o desemprego em massa que está a provocar ...
A forma como o CDS trata os graves problemas da miséria e do desemprego é uma forma ideológica e, dentro destas, a pior das formas.
Trata-se menos de dar um contributo para a superação dessas chagas e mais de as utilizar como forma de justificação para lançar um projecto ideológico que a prática vem desacreditando.
As causas do desemprego são, para o CDS, uma forma de promoção de um liberalismo de rosto novo. Mas não só!
Na esteira de um veterismo moral, longe dos tempos modernos, faz o CDS um discurso de pendor "moralizante" que privilegia a lei do aborto e a lei da educação sexual, mistura com a citada "imoralidade sexual" a imoralidade da corrupção e a este cocktail, que julga explosivo, junta a política do Governo sobre o ensino privado e sobre a "liberdade de informação".
Comecemos por uma reflexão sobre os perigos desta desorientação ideológica que, de resto, estão à vista.
Vindo dos fundos da história, a mistura da "moral sexual" com a corrupção no Estado leva directamente ao regime do Ayatollah Khomeiny.

Risos do PS.