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20 DE DEZEMBRO DE 1984 1227

O Orador: - Há ainda outra coisa: os comunistas com o Governo de V. Ex.ª ainda não perderam nada e já ganharam alguma coisa. Conservam o mesmo capital que sempre tiveram, e têm, inclusive, mais alguns juros. É que há aqui um fenómeno curioso que talvez ainda não se tenha explicado suficientemente.

O Sr. Costa Andrade (PSD): - Então explique-se!

O Orador: - É que o bloco central protesta contra o 11 de Março, mas encavalitou-se em cima dele, tirando os administradores do PCP para lá pôr os seus.

O Sr. Costa Andrade (PSD): - O CDS não tem nenhuns?!. ..

O Orador: - O que o bloco central quis foi ser ele a administrar o 11 de Março e as conquistas que o PCP então fez. Mais nada. O que há hoje em Portugal, por essas e por outras, é a crise da segunda esquerda portuguesa. Houve a crise do PCP em 1975, e o PCP não será mais poder político em Portugal. Não vendam esse papão, apenas para que a direita caia no vosso regaço. Não vendam esse falso papão. O que há hoje em Portugal é uma crise profunda e radical de
identidade ...

Voz do CDS: - Muito bem!

O Orador ... de liderança da segunda esquerda portuguesa, a esquerda socialista e social-democrata.
É por isso que o PS, no governo, na oposição, na candidatura presidencial, em tudo, estará sempre mais próximo do PCP do que nós estamos.
O Governo ficou-se pois nos "entretantos", embora eu tenha compreendido que o Sr. Primeiro-Ministro, no fundo, está a sentir o que já sentiu no passado: uma enorme vontade de sair daquilo a que chamou a gaiola. Até porque há outras espécies voadoras demasiado em liberdade e o Sr. Primeiro-Ministro gostaria de compensar isso.

Risos.

O Sr. Primeiro-Ministro apenas sabe uma coisa: é que não pode sair daí desta maneira. Não pode sair daí, na altura desta moção de censura do CDS. Mas o que existe já não é um primeiro-ministro, é um candidato presidencial, o que existe já não é um governo é uma comissão de candidatura,...

Voz do PS: - Não te trates não.

O Orador ... o que existe já não é uma ideia de governo mas a aspiração a um trono presidencial.
E o que é que se ganhou com este debate? Foi muito!
Estas coisas ficaram mais claras. E o CDS, até pela primeira vez, pôde ser ouvido como o bloco central não o deixava ser ouvido há muito tempo. O PSD mostrou, como primeira conclusão que tem reuniões críticas ao fim de semana, mas é para melhor apoiar o Governo quando isso é preciso, como aqui foi. E talvez até o Sr. Primeiro-Ministro tenha tido aqui uma vitória enorme sobre o Dr. Sá Carneiro, a primeira, fazendo aceitar ao PSD, pela primeira vez, publicamente, na Assembleia da República, a tese de um consenso oficial, sagrado, selado aqui com o PS.

Aplausos do CDS. Protestos do PSD.

O Orador: - Foi o segundo enterro do Dr. Sá Carneiro o que teve aqui lugar hoje.

Vozes do PSD: - É de mau gosto! Não apoiado! Não brinque com os mortos!

O Orador: - A segunda conclusão é importante para o País: é a de que há um Governo firme e uma oposição firme. Isto é importante para o País, é importante para a democracia, por uma razão: - a razão principal da moção de censura do CDS - é que a maior doença, a maior vergonha, a maior lepra da democracia portuguesa, hoje, é a ambiguidade, o jogo duplo, a hipocrisia,...

Voz do PSD: - Olha quem fala!

O Orador: - ... o vale tudo. E foi isso que acabou aqui hoje. Não vale mais tudo, e os homens do PSD que quiseram continuar a ser respeitados pelo País - e sem dúvida muitos há que o merecem - não podem mais sair daqui a dizer o contrário do que aqui disseram,...

Vozes do CDS: - Muito bem!

O Orador: - ... porque, então, a democracia portuguesa estará radicalmente em crise e não merecerá o respeito que, apesar de tudo, ainda tem merecido até hoje.

Aplausos do CDS.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não temos ilusões sobre os resultados desta votação, mas é útil conhecer as responsabilidades de todas as pessoas que estão nesta Sala. É útil conhecer todas as fronteiras e saber que há hoje não mais e não menos do que três posições em Portugal: a de uma oposição democrata-cristã e liberal, a de um Governo e de uma maioria situacionista (seja socialista ou social-democrata) e a de uma oposição comunista. É esta a lição que sai deste debate e essa é a verdadeira política do Estado.
Não confundam o Estado com liberdade de afirmação, com juventude ou com outra coisa. A verdadeira política do Estado é continuar lá fora os compromissos que se aceitam aqui dentro.
É desses estadistas que o Pais precisa, e não das pessoas que tomam posições, aqui e ali, de modo diferente.
Talvez isto permita que a próxima reunião de hotel do PSD seja mais turística e menos política, o que será, apesar de tudo, também, uma grande vantagem.
Cada um fica agora com a sua responsabilidade, o futuro será, depois, pelo menos mais claro, mas há