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2126 I SÉRIE - NÚMERO 51

posso aceitar que se diga que «de um lado se encontra a cidade e do outro aquilo que Oliveira Martins chamou o Portugal profundo, o Portugal de antes quebrar que torcer, que criou no seu ventre os adversários da revolução de 1820, os apoiantes de El-Rei D. Miguel, os trauliteiros do Norte e os caceteiros de Rio Maior», como o faz um desses comentadores.

Vozes do: - Muito bem!

O Orador: - Não posso aceitá-lo porque isso vai contra a nossa consciência Nacional!

Aplausos do PSD.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Não, quando se quiser falar do Norte, há que respeitar o Norte, que foi o berço do liberalismo, o Norte de Fernandes Tomás, tal como o Norte de Almeida Garrett.

Vozes do PSD: - Muito bem!

Aplausos do PSD.

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Nós estamos guardados para cada uma!...

O Orador: - Não, o Norte não é miguelista, o Norte é a região a que pertence a cidade que deu o nome ao nosso país e que, ao longo de várias vicissitudes, sempre assumiu o valor fundamental da liberdade!

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - O Norte foi também o norte da República! A República do Norte, de Sampaio Bruno, a República do Norte, de Basílio Teles, a República do Norte, de Jaime Cortesão e dos homens da Renascença Portuguesa! E eu honro-me de ser filho de um republicano do Norte de Portugal!

Aplausos do PSD.

E mais! Quando as trevas da ditadura salazarista eram maiores, foi no Norte, no Porto, que o Povo Português se reuniu à volta do General Humberto Delgado!

Aplausos do PS e do PSD.

Vozes do PSD: - Muito bem!

Vozes do PCP: - Mas para que é isto? É só para as palmas?!

O Orador: - Como, aliás, durante o gonçalvismo, quando um novo totalitarismo ameaçava o nosso país, foi no Norte que tivemos a grande resistência, que começou em Rio Maior!

Vozes do PSD: - Muito bem! Aplausos do PSD.

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - isto são as palmas que não teve quando era ministro?

Vozes do PSD: - Custa a ouvir, não é?

O Orador: - É isto que não agrada àqueles que preferem os perfumes de uma pseudo pequena política, que nem é política nem é pequena, porque, simplesmente, é um zero! Já agora, seja-me permitido, perante esta Câmara, relembrar Almeida Garrett nas suas Viagens na Minha Terra, quando fala das disputas entre os campinos, os forcados e os varinos, os ílhavos, com a ironia própria de um liberal que sabe assumir o dualismo na unidade!
Ora, os homens do Norte estavam disputando com os homens do Sul, quando diz um ílhavo: «Vejam os senhores. Eles, por agarrar um toiro, cuidam que são mais que ninguém, que não há quem lhes chegue. E os senhores, a serem cá de Lisboa, hão-de dizer que sim! Mas nós...» Responde um campino: «A força é que se fala.» E o ílhavo retorque: «Pois nós, que brigamos com o mar, oito a dez dias a fio numa tormenta, de Aveiro a Lisboa, e estes, que brigam toda a tarde com um toiro, qual é que tem mais força?»
E o comentário de Garrett é este:
Os campinos ficaram cabisbaixos, o público imparcial aplaudiu por esta vez a oposição, e o Vouga triunfou do Tejo.
Não se diga que os ílhavos eram, para Garrett, a direita, porque eles eram, exactamente, a «esquerda»! É que quando se refere a uma reacção destes ílhavos, ele diz:
Parecia a esquerda de um parlamento, quando vê sumir-se, no burburinho acintoso das turbas ministeriais, as melhores frases e as mais fortes razões dos seus oradores.
Pois são estas melhores frases e estas mais fortes razões que eu penso que nós aqui - nós de todo o Portugal - devemos fazer ouvir, quer estejamos no Governo, quer estejamos na oposição, porque a unidade do País, a unidade patriótica e democrática, é feita tanto do poder, como das oposições, quais quer que elas sejam!

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Quero crer que mesmo aqueles que estão ligados a ideologias internacionalistas não deixarão, nos momentos críticos, de pôr a Pátria acima de tudo, se são autênticos cidadãos!
Esta tese da dualidade de Portugal foi combatida, nomeadamente por António Sérgio, no seu célebre texto sobre as duas políticas nacionais: a política de fixação e a política do transporte.
António Sérgio mostrou que, de facto, não era o Norte que encarnava exclusivamente a política de fixação e o Sul a política do transporte, repartidas pelo território. Isto, apesar de, evidentemente, as predominâncias económicas e sociais de certas classes levassem a que o Sul fosse mais inclinado para o transporte, e o Norte e o interior para a fixação.
Hoje, neste último quartel do século XX, temos de lutar pela unidade nacional, temos de lutar pela unidade da Pátria Portuguesa! Temos de lutar para que, tanto o Portugal do campo como o Portugal das cida-