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2128 I SÉRIE - NÚMERO 51

dos nós conhecida, de enfeudamento à União Soviética, também podem ser patriotas.

Vozes do PCP: - Não seja parvo!

O Orador: - Não excluí ninguém da comunidade nacional. Pelo contrário, procurei ser o mais amplo possível na visão que tinha de Portugal. Por isso falei de Portugal uno, de «Portugal-Infinito», que, aliás, é uma expressão de Fernando Pessoa, pois a infinidade é o que há de mais abrangente, se me permite.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - A infinidade é a potencialidade de ser sempre outro, mantendo-se o mesmo.
Falei do princípio da identidade nacional como não sendo contraditório com a diversidade. Citei um princípio lógico, da lógica aristotélica, analisado por Heidegger, que diz que mesmo o próprio princípio A igual a A ou A é A, implica já o outro!
Sr. Deputado, desculpe que lho diga - não gosto de o fazer em público -, mas dou-lhe uma má nota como intérprete das minhas palavras. E digo-o com pesar, pois julgo que me referi também ao seu partido e aos homens e mulheres que se sentam nas bancadas do PS, que muito respeito e que, ao nosso lado, defenderam a independência, a unidade, a liberdade e a democracia antes e depois do 25 de Abril.
Gostaria que se tivesse em conta o que Sartre dizia...

O Sr. José Magalhães (PCP): - Olha o saloio!

O Orador: - ... «um gato é um gato»...

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - E um cão é um cão!

O Orador: - ... e, portanto, não podemos interpretar o que os outros dizem de outra maneira.
Peco-lhes o favor, Sr. Deputado, de ler no Diário da Assembleia da República o que eu disse e verá que não encontra nenhuma interpretação maniqueísta de Garrett, que defendia a unidade nacional, antes de mais na educação, pois foi ele, entre nós, dos primeiros que se bateu pelo conceito de educação nacional, de uma educação que fosse a de todo o povo português e não a de qualquer sector.
Peco-lhe imensa desculpa, Sr. Deputado, continuarei a considerá-lo na sua inteligência, nas suas qualidades de professor, de deputado, de democrata e de cidadão, mas creio que a interpretação que fez nada tem a ver com a que decorre das minhas palavras.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Para um protesto, tem a palavra o Sr. Deputado Agostinho Domingues.

O Sr. Agostinho Domingues (PS): - O Sr. Deputado José Augusto Seabra diz que não falou de maniqueísmo. De facto, não falou, quem o fez fui eu, mas quem o praticou foi V. Ex.ª e foi a isso que me referi.

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Muito bem!

O Orador: - Em segundo lugar, disse e repito-o, tenho muita consideração intelectual por si mas nunca fui seu aluno e, portanto, rejeito-lhe integralmente essa capacidade de me dar má nota.
Quanto à possibilidade de confronto a partir do texto, veremos o que consta do Diário da Assembleia da República. Não retiro nem uma palavra daquilo que disse pois tenho razão na interpretação que fiz.
Voltando a Almeida Garrett - e termino aqui o meu protesto -, de facto, a citação que dele fez das Viagens na Minha Terra era exactamente para sobrevalorizar o Norte em detrimento do Sul, mais uma vez praticando uma atitude maniqueísta e o Diário da Assembleia da República o comprovará. O Sr. Deputado não tem razão e, portanto, não me dará má nota nem lhe darei essa possibilidade. O Sr. Deputado deu uma intenção dominante ao seu discurso e também sei interpretar textos, mesmo morais!
As intenções estão perfeitamente reveladas perante a Câmara e o País. O Diário da Assembleia da República comprovará que tenho razão quanto à interpretação que o Sr. Deputado pretendeu dar.
No entanto, o Sr. Deputado procura agora corrigi-la dizendo que realmente salvaguardou a unidade do País. Ainda bem que faz essa correcção; o País agradecer-lhe-á e o mesmo faremos todos nós, portugueses.

O Sr. Presidente: - Para um contraprotesto, tem a palavra o Sr. Deputado José Augusto Seabra.

O Sr. José Augusto Seabra (PSD): - Não gostaria de alimentar polémica, embora pense que ela é, por vezes, saudável, pois faz com que as contradições venham à superfície.
Sr. Deputado, li na íntegra Almeida Garrett e o que lá está escrito é isto: «Os campinos ficaram cabisbaixos. O público imparcial aplaudiu por esta vez a oposição» - repare que se diz «por esta vez», como tinha aplaudido antes os contrários - «e o Vouga triunfou do Tejo». Numa réplica precedente do texto de Garrett, foram os ílhavos que ficaram em má situação e Garrett identificou-os com a esquerda de um parlamento.
Garrett, que na altura era da esquerda do liberalismo, contrariamente a Herculano, que era da direita, tinha a noção de que o liberalismo em Portugal só era possível com esquerda e com direita e é isso que temos de defender no nosso país. Portugal não é o «povo de esquerda», Portugal é o povo português!

Aplausos do PSD.

O Sr. João Corregedor da Fonseca (MDP/CDE): - É um povo cego!

O Sr. Presidente: - Para um pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Lopes Cardoso.

O Sr. Lopes Cardoso (UEDS): - Sr. Deputado José Augusto Seabra, permitir-me-á que comece por afirmar a satisfação que tenho por podermos reatar um debate parlamentar interrompido já há muito tempo pelos incidentes da vida política.

O Sr. Deputado referiu-se frequentemente a norte, sul, centro e no fim da sua intervenção, devo dizer-lhe, já perguntava a mim mesmo quem é que teria, de facto, perdido o norte no meio disto tudo - eu ou o Sr. Deputado -, mas como não quero ser presunçoso admito que tenha sido eu. Por isso mesmo lhe