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2184 I SÉRIE - NÚMERO 33

em relação a uma atitude que não pode ser interpretada senão como subestimação deste órgão de soberania, mas que me parece ter um conteúdo francamente negativo para a dignificação da nossa democracia e para a reivindicação do próprio Estado Português. Actos deste género não podem passar sem uma palavra, não podem ser ignorados, e penso que a Assembleia da República tem de agir em consequência. A Assembleia da República não pode ser considerada como um órgão de soberania de segunda, pois é um orgão de soberania por excelência, que representa a vontade nacional.
Sr. Presidente, gostaria, pois, de deixar registado este protesto para que atitudes deste género não se voltem a verificar.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, quero informar V. Ex.ª de que as suas afirmações têm inteiro acolhimento da minha parte.
Srs. Deputados, vai ser lido um voto de pesar, subscrito por deputados de todos os grupos e agrupamentos parlamentares.

Foi lido. É o seguinte:

Os deputados abaixo assinados propõem um voto de pesar pelo falecimento, em 2 do corrente, de José Ferreira Monte, poeta da geração do neo-realismo, resistente antifascista e democrata.

O Sr. Presidente: - Está em discussão.
Tem a palavra o Sr. Deputado Raul e Castro.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Mendes.

O Sr. Raul e Castro (MDP/CDE): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: José Ferreira Monte, que faleceu na Figueira da Foz no passado dia 2 do corrente, fez parte da geração do neo-realismo juntamente com muitos outros nomes conhecidos da poesia portuguesa. Por isso, o seu nome ficará na história da literatura portuguesa como um dos poetas dessa geração que iniciou uma nova época na poesia e na literatura portuguesa.
José Ferreira Monte, de origem humilde, era um autodidacta e nunca esqueceu o povo, do qual ele provinha. Foi sempre um poeta inteiramente fiel aos problemas do seu povo, inteiramente fiel aos problemas dos trabalhadores e, na sua poesia, há comunicações constantes desse aspecto.
José Ferreira Monte foi também um resistente antifascista, um lutador pela liberdade, alguém que nunca aceitou o regime fascista do nosso país, que lutou contra ele e pela liberdade, e depois da queda do fascismo em 25 de Abril continuou a ser um lutador pela liberdade e pela democracia.
Em sentido de homenagem que esta Assembleia lhe está a prestar, gostaria de, por parte do MDP/CDE, recordar alguns versos de um seu poema designado «In Memoriam» do seu livro Para Que Tudo Renasça, de 1948, em que, invocando a sua futura morte dizia:
Lá longe, nem um razo mármore a lembrar a tua guerra! Lá longe, nem uma pétala rubra vincando a tua crença!
Ao transcrevermos estes versos queremos dizer que a nossa homenagem é, por assim dizer, uma pétala rubra desfolhada sobre a sepultura do poeta, do resistente antifascista e democrata José Ferreira Monte.

O Sr. José Manuel Mendes (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O ano de 1985 rompeu, de modo extremamente rude para as letras portuguesas, com a morte de personalidades tão marcantes como as que, tempestivamente, pudemos homenagear aqui, na Câmara, às quais se segue agora a de José Ferreira Monte, poeta que, pese embora a pouca divulgação e o escasso conhecimento público da obra que produziu, não pode deixar de memorar-se condignamente neste comovido momento, como noutros em que a serenidade nos exigir a eficácia e a dureza da crítica.
Ferreira Monte pertenceu à geração neo-realista, de cujos sonhos e propósitos partilhou até ao fim, de cuja estética acolheu as sugestões mais vividas no sentido da leitura da realidade, visando a transformação do homem e da história. Combatente antifascista de todas as horas, democrata por convicção e por acção, faleceu, na Figueira da Foz, com uma obra extensa por editar, o que é bem testemunho destes baços dias em que grandes, enormes dificuldades se levantam para que a voz dos escritores chegue aos seus reais destinatários: o povo, as camadas ledoras.
Por isso, importará que, neste instante, de uma forma porventura diferente, mas unanimemente sentida, todas as bancadas lembrem a figura honrada de José Ferreira Monte para projectar, em relação ao futuro, actos de política concreta que têm a ver com a difusão do livro, o alargamento da capacidade cultural, do ponto de vista da fruição e da produção, do povo português e uma real intenção de modificar, em geral, o que não está bem, assim, de certa maneira, cumprindo também os rumos que foram os da luta de uma vida inteira da personalidade cujo perfil hoje rememoramos.
Daí que a nossa bancada, não esquecendo, antes animando, os textos de Cânticos a Pablo ou os da Poesia Amordaçada, onde o poeta soube filiar um lirismo profundamente seu às coordenadas mais globais das aspirações dos portugueses, tenha a confiança de que a morte dos poetas não é senão a afirmação, ainda que paradoxal, de uma profunda vitalidade ontológica e transformacional da arte, na qual nos inserimos com a certeza de que, prolongando o estro de José Ferreira Monte, bem como, entre outras, os das figuras a que comecei por aludir, estaremos, ao cabo e ao resto, a projectar o melhor de nós nos dias que a seguir a nós virão.

Aplausos do PCP e do MDP/CDE.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, como não há mais pedidos de palavra, vamos passar à votação do voto de pesar que acabou de ser apreciado.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade. Pausa.

O Sr. Presidente: - Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Após a recente operação de recauchutagem governamental, com arranjos e rearranjos de última hora, que teve mais um ar de trocas e baldrocas entre ministros do que de uma remodelação a sério, após as declarações do Primeiro-Ministro, que arrogan-