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28 DE JANEIRO DE 1987

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a vida e o habitat natural de populações inteiras, ainda que em nome das necessidades energéticas do País e da manutenção dos postos de trabalho, quer seja dos funcionários da EDP ou das minas do Pejão, porque essa é uma falsa questão.
Muito se poderia e devia fazer para minorar os prejuízos e evitar tanta poluição.
Em requerimento, que hoje mesmo irei apresentar, quero saber do Governo o que foi feito dos estudos elaborados por técnicos estrangeiros, que durante algum tempo equacionaram o problema provocado pelas cinzas e gases exalados pelas chaminés da Tapada do Outeiro e a possibilidade de as mesmas chaminés serem aumentadas.
Que este meu apelo não caia no esquecimento, é o que espera e deseja toda a população atingida pelos malefícios da poluição provinda das chaminés da Central acima citada.
Por se encontrarem a escassos quilómetros do Porto, junto ao rio Douro e perto da barragem de Lever-Crestuma, têm estas populações possibilidades turísticas em potencialidade, têm recursos de prazer e lazer que podem e devem ser explorados turisticamente, têm já em funcionamento um dos melhores parques de campismo nacional, senão mesmo europeu. Mas se tudo continuar como até aqui tudo se perderá irremediavelmente.
Será isto que desejamos para os nossos filhos? Um pais poluído, sem vida, simplesmente morto?
O meu apelo e a vontade de tudo fazer para acabar com este verdadeiro flagelo aqui ficam, na esperança de receber de todos vós, e em especial do Sr. Secretário de Estado do Ambiente, a ajuda necessária.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Frederico de Moura.

O Sr. Frederico de Moura (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Decorreu há pouco em Coimbra uma homenagem à Prof. º Doutora Andrée Crabbé Rocha, organizada pelas Faculdades de Letras de Coimbra e de Lisboa, a pretexto da última lição daquela catedrática.
Na sessão comemorativa, a que presidiu o reitor da Universidade de Coimbra, em representação do Sr. Presidente da República, a Prof. º Andrée Crabbé Rocha deu a sua última lição, elegendo para núcleo dela a personalidade e a obra de Cesário Verde, tema que foi tratado com uma penetração e uma subtileza dignas de nota sublinhada e a que o seu magistério universitário -e extra-universitário- já tinha habituado os portugueses atentos.
Seria uma omissão culturalmente condenável que nesta Casa se não erguesse ao menos uma voz, embora modesta, a colocar uma baliza na retentiva dos Srs. Deputados a quem, por motivos vários, tivesse passado despercebida aquela homenagem.
Realmente, a personalidade da doutora Andrée Crabbé Rocha não merece que, a nível desta Câmara, uma bruma espessa de silêncio omita, ao menos, uma palavra a realçá-la.
A obra que deixou no seu percurso, a quase certeza de que essa obra não terá cessado com a última lição e que testemunha uma profícua actividade em favor da língua e da cultura portuguesas, impõem, na minha opinião, que, imperativamente, se deixe nesta Câmara uma nota de reconhecimento.

A doutora Andrée Crabbé Rocha, nascida em Nantes e licenciada em Filologia Românica na Universidade de Bruxelas, desde muito jovem que patenteou, expressivamente, a sua lusofonia. E assim, logo na sua dissertação inaugural, mostrou esse pendor, escolhendo para tema da tese a obra e a personalidade de Fialho de Almeida, tendo sido aprovada com Grande distinction e obtendo, logo a seguir, a mesma classificação na conquista do grau de Agrégé de l'enseignement au degré superieur.
Suponho que não será de omitir que alguma coisa terá influído no seu pendor o magistério de Vitorino Nemésio, ao tempo leitor de Português e professor de Cultura Portuguesa na universidade onde a doutora Andrée fez a sua licenciatura.
Posteriormente, e após a sua fixação em Portugal, onde adquire a nacionalidade portuguesa pelo seu casamento com Miguel Torga, doutora-se na Faculdade de Letras de Lisboa com uma notável tese sobre o teatro de Garrett e ali exerce a sua actividade docente até 1947, ano em que o pendor inquisitorial que impregnava então a política portuguesa lhe rescinde o contrato, num Conselho de Ministros afadigado na pesquisa minuciosa de heresias políticas e que, no caso, nem existiam sequer a céu aberto.
Como outros professores, igualmente vitimas do zelo policial farejante, a doutora Andrée Rocha dedica-se ao ensino particular e rege cursos na Alliance Française, faz investigação minuciosa, exerce uma actividade intensiva de tradutora, realiza conferências e debruça-se afanosamente sobre problemas de literatura portuguesa.
Posteriormente, a partir de 1970, volta à Faculdade de Letras de Lisboa, após concurso, e aí se mantém até 1974, altura em que se transfere para Coimbra.
A sua profícua actividade como estudiosa da nossa literatura exprime-se por um intenso trabalho de pesquisa e interpretação de escritores nossos, que é testemunhada pelo seu número e pelo seu polimorfismo e que, iniciada com trabalhos sobre Fialho, se estende pelo teatro de Garrett, pelo estudo do Cancioneiro Geral, pela epistolografia de autores portugueses, por estudos de teatro -como, por exemplo, no seu valioso volume, a que deu o titulo de Aventuras de Anfitrião, importado do primeiro ensaio do volume, a par da colaboração, profusa e variada, no Dicionário da Literatura de Jacinto do Prado Coelho, e na Enciclopédia italiana dello Spectacollo, etc.
A par de tudo isto realiza conferências sobre literatura e cultura portuguesas em Lisboa, Coimbra, Aveiro, Porto, Rio de Janeiro, Viena de Áustria, Hamburgo, Gottingen, Kiel, Roma, Florença, Bolonha, Veneza e Paris.
Isto tudo sem falar na sua actividade de tradutora, que lhe permitiu, para além de verter para francês poemas de seu marido, investir com as grandes dificuldades que o empreendimento comportava, com a tradução da Trilogia das Barcas, de mestre Gil Vicente, e da Carta do Achamento do Brasil, de Pêro Vaz de Caminha.
Mas, e para além deste trabalho operoso, sumariamente inventariado, a doutora Andrée Crabbé Rocha ultrapassou o bafio dos arquivos e o clima livresco das bibliotecas e, percorrendo o Pais de lés a lés, aspirou o perfume dos matos e o cheiro da terra portuguesa, contactou atentamente com o povo, debruçou-se sobre os seus costumes e sobre as suas tradições e amou este Portugal nuclear no que tem de mais expressivo e de mais individualizante.