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30 DE JANEIR0 DE 1987

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Conhecemos as dificuldades de algumas mudanças, mas sabemos de razões objectivas de interesse nacional que exigem o renascer da esperança dos professores, num projecto educativo que contribua decisivamente para o desenvolvimento e progresso de todos os portugueses.

Aplausos do PRD.

O Sr. António Capucho (PSD): - Sr. Presidente, peço a palavra para interpelar a Mesa.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. António Capucho (PSD): - Sr. Presidente, a conferência de líderes fixou para hoje a repetição das eleições para os cargos ainda em aberto no Conselho da Comunicação Social e ainda para uns pareceres da Comissão de Regimento e Mandatos que têm que ser votados sob voto secreto.
Não sei se a Mesa pretende organizar esse processo eleitoral já, pois, se assim não for, tenho receio de que haja problemas na afluência às umas. Portanto, convinha que a Câmara acertasse o horário da votação; adianto, desde já, que as umas poderiam ficar abertas até às 19 horas e 30 minutos.

O Sr. Presidente: - Penso que é oportuna a chamada de atenção do Sr. Deputado. Assim, vou dar indicações aos serviços para organizarem já as votações.
Quanto à votação dos relatórios e pareceres da Comissão de Regimento e Mandatos, tenho-as aqui indicadas na primeira parte da ordem do dia, pelo que podem talvez fixar para essa altura ...

O Sr. António Capucho (PSD): - Sr. Presidente, desculpe insistir, mas, tratando-se de uma votação secreta, poderia ser feita em simultâneo com as outras - penso que facilitaria os trabalhos.

O Sr. Presidente: - De acordo, Sr. Deputado. Nada tenho a objectar a que tal se processe desse modo.
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Virgílio Carneiro.

O Sr. Virgílio Carneiro (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Embora suspeito ao afirmá-lo, não haverá dúvidas de que Portugal é um país recheado de belos recortes. Desde as serranias do Norte até às planícies do Sul, por muito que se viaje, é sempre possível descobrir novidades que nos deleitem a vista, purifiquem o peito, serenem e enriqueçam o espírito e enlevem a natural vaidade de ser português. Em cada canto, uma paisagem verdejante ou uma seara loura, um monte estéril ou um vale fecundo; aldeias, vilas e cidades, umas grandes, outras minúsculas, vão salpicando essa paisagem variada e indicando ao transeunte os brasões da nossa história, gravados em múltiplos e seculares monumentos, os padrões da nossa cultura, expressos num sem-número de costumes, tradições e lendas, os vectores da nossa economia, espelhada nas específicas manifestações materiais dos três principais sectores de produção, a estrutura da nossa sociedade, que, mais ou menos, evidencia as bases económicas e culturais de que depende.
Entre essas sempre novas maravilhas, que são as terras de Portugal, encontra-se, equidistante de três progressivas cidades do Minho (Vila Nova de Famalicão, Guimarães e Santo Tirso), a não menos promissora povoação de Riba de Ave.
Se na sua história, semelhante à da maioria das aldeias do País, não ressaltam factos de extraordinário relevo, quis a providência, contudo, que nesta povoação, administrativamente integrada no concelho de Vila Nova de Famalicão e localizada na confluência dos rios Vizela e Ave, surgisse o motor poderoso e transformador da indústria têxtil portuguesa.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Com efeito, a expressão Riba de Ave (Ripa Ave) remonta já ao século IX (época visigoda), para designar uma região «acima do curso de água» que englobava não só o núcleo actual, mas vários lugares hoje pertencentes a freguesias circunvizinhas, como Serzedelo, Guardizela, etc. Mesmo quando este nome passa a identificar uma freguesia devidamente delimitada, como se depreende dos censuais de Braga dos séculos XI a XV, das inquirições do século XIII e do seu tombo do século XVI, a área que abrangia ocupava zonas que excedian, em boa medida, as suas fronteiras actuais.
Ainda hoje, também, os seus arruamentos prolongam-se em agregado contínuo por espaços de freguesias vizinhas, com particular destaque para o lugar de Sobreira, da freguesia de Serzedelo, do concelho de Guimarães.
Todavia, Sr. Presidente e Srs. Deputados, o grande salto desta terra para o progresso acontece quando, no dealbar deste século, ali decidiu fixar-se Narciso Ferreira, que ali empenhou o seu génio empreendedor, obrigando a história contemporânea a referir Riba de Ave com letras de ouro, ao mesmo tempo que, desde os primeiros anos deste século, rasgava com firmeza, pela primeira vez em Portugal, os caminhos da moderna indústria têxtil e abria perspectivas novas para o rumo da economia nacional. Por isso mesmo, após a morte deste benemérito, em 1933, alguém escreveu, com verdade, que « o nome de Riba de Ave e de Narciso Ferreira, não serão mais um anonimato topográfico ou individual, no conjunto dos mais assinalados valores humanos e económicos de Portugal» ('). E ainda, no dizer de um ilustre estudioso, filho daquela terra, «Riba de Ave é uma das primeiras freguesias de Portugal inteiro a beneficiar do sortilégio da electricidade e a possuir iluminação pública; foi a precursora da indústria têxtil mecânica; a capital nortenha do trabalho» (').
Daí para a frente, Riba de Ave e a família Ferreira tornaram-se o paradigma da nova indústria do Norte de Portugal e o seu exemplo irradiou com relevantes empreendimentos, não só em Riba de Ave, onde bom número de empresas se criaram e onde dezenas de milhares de trabalhadores de há muito ganham o seu pão, mas por outras terras do Minho, com particular incidência nos concelhos do vale do Ave (Guimarães, Vila Nova de Famalicão e Santo Tirso).
O norte industrial tem aqui o seu fulcro, daqui partiu a semente de uma economia moderna e daqui saiu o princípio de uma transformação que não se limitou apenas ao lado económico, criando condições e lançando estruturas para uma nova fisionomia sócio-cultural que hoje possuem aquelas populações.

Vozes do PSD: - Muito bem!

(1) SOUTO, Correia, in Minha Terra e Minha Musa.