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4 DE ABRIL DE 1987 2579

A principal coroa de glória deste Governo é ter a inflação baixado para 11,7%, mas não diz que tal resultado é mera continuação da tendência iniciada em 1985 e fruto de factores externos para os quais o Governo pouco ou nada contribuiu.
O crescimento do produto é apontado pelo Governo como sucesso da sua política económica. O professor Cavaco Silva afirmou mesmo que foi o país onde o produto mais cresceu, decerto por se ter esquecido de mencionar países fora da CEE, como a Noruega, a Islândia e a Turquia, em que o crescimento de PIB foi superior ao verificado em Portugal.
O Governo apresenta os factos económicos da forma mais conveniente para a sua acção de propaganda e desacredita as fontes estatísticas quando não correspondem aos seus interesses.
O Ministro Miguel Cadilhe procurou desacreditar o inquérito ao emprego quando o mesmo apontava para o aumento da taxa de desemprego. É com base no mesmo inquérito que hoje o Governo afirma que a sua política conduziu ao aumento do emprego e à redução do desemprego. De Outubro de 85 a Outubro de 86 o inquérito ao emprego contabiliza um acréscimo de 0,5 $ no emprego, um decréscimo de 0,97 % na população activa e uma diminuição de 13% no desemprego. Mas o Governo não se interroga sobre a natureza dos novos empregos e não atende a que a redução do desemprego se fica a dever principalmente à saída de trabalhadores do mercado de trabalho.
O Governo diz que a taxa de desemprego, 9,6%, é inferior à média europeia, mas não refere os países, como a Áustria, Dinamarca, Grécia e Noruega, em que a taxa de desemprego é inferior à portuguesa.
O Governo utiliza indicadores que nem ele nem ninguém pode contestar ou confirmar. É o caso do crescimento do investimento em 1986, que se diz ter sido de 9% ou 10%, e é o caso dos salários em atraso, em que tudo indica que se aceitou inflacionar o número referente a Dezembro de 85 para que se pudesse apresentar uma evolução mais positiva. Evolução mais positiva, que também é contraditória: o Ministro do Trabalho afirmou na semana passada que havia ainda cerca de 32 000 trabalhadores nessa situação e ontem o Primeiro-Ministro referiu 50 000. É só uma questão de mais 20 000 menos 20 000. Assim ninguém se entende, embora os trabalhadores continuem a sentir na pele enormes dificuldades.
Enfim, o negócio do Governo é números, pois perante a opinião pública está como peixe na água, manipulando-os como quer.
A não criação de estímulos ou incentivos ao funcionamento dos institutos estatísticos permite ao Governo manipular estatísticas e indicadores: é o adiamento da reestruturação do INE; é a não actualização de estatísticas, como, por exemplo, as industriais, que datam de 1983; é a extinção do IACEP; é o retardamento deliberado da saída dos relatórios do Banco de Portugal.
O Governo permite-se referir os indicadores de que pensa tirar louros políticos, como é o caso da inflação, e aí é pronto a apresentar números, mas, por outro lado, quando confrontado com situações que lhe são desfavoráveis, limita-se a criar expectativas, a apontar perspectivas e a fazer promessas que sabe serem impossíveis de concretizar - o que é patente nas promessas de substancial diminuição do desemprego até 1990 e na afirmação do Primeiro-Ministro de que, a continuar no caminho iniciado em 1986, Portugal deixará dentro de três anos a cauda da Europa - promessas vagas e demagógicas, que só seriam possíveis se os outros países estagnassem e Portugal crescesse a ritmos espectaculares.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: A manipulação da informação pelo governo do Prof. Cavaco Silva não se fica por aí.
A utilização de sondagens de opinião promovidas pelo Governo é outra forma privilegiada para enganar a opinião pública. Sondagens que, sendo pagas por todos os portugueses, são só do conhecimento de alguns, normalmente do Governo e do partido que o apoia, por forma a facilitar a sua acção política. Quando convém, por lhes serem favoráveis, aí então o Governo dá-se ao trabalho de dar ampla divulgação dessas sondagens.
Às inúmeras perguntas e requerimentos dirigidos ao Governo por deputados da minha bancada, indagando quais os custos e resultados das ditas sondagens, o Governo diz nada.
Mas a manipulação da informação pelo executivo também não se fica ainda por aqui.
Montou o Governo uma máquina de propaganda altamente estruturada, necessariamente dispendiosa e suportada, em última análise, por todos nós.
Ao invés de informar, correcta e seriamente, sobre as medidas que toma, o Governo prefere publicitá-las. Nem que para tal tenha de recorrer à publicidade paga, tipo «mais segurança social» ou «é tão bom viver em Portugal», cujos gastos ainda desconhecemos, apesar dos requerimentos feitos por vários deputados. Não raras são as vezes em que o Governo anuncia medidas como se estivessem a ser aplicadas quando não têm ainda existência legal ou anuncia medidas que não correspondem na execução àquilo que foi divulgado.
Propaganda sem quantificação, sem seriedade, sem verdadeira informação.
Propaganda que tem por objectivo, nada mais nada menos, convencer o povo português de que «nove em cada dez estrelas preferem Cavaco Silva».

Risos do PRD e do PS.

Tudo isto só é possível porque o Governo conta com a ajuda imprescindível de alguma comunicação social.
O Governo serve-se de indicadores e de técnicas de marketing para atingir directamente a opinião pública através dos órgãos de informação, indo mesmo ao ponto de seleccionar a publicidade que lhe convém com o à-vontade de quem confia que os órgãos de comunicação social não deixarão de fazer eco de tal publicidade.
O Governo desfila todos os dias, e mais de uma vez, nos pequenos écrans e, não satisfeito com tal tratamento, ainda canaliza responsáveis do Governo, ministros e secretários de Estado, para programas infantis e de juventude.
Criando uma aparência de distanciamento e de não interferência nos órgãos de comunicação social, o Governo estabeleceu mecanismos através dos quais utiliza comissários políticos, sobretudo ao nível dos órgãos de maior impacte, os audiovisuais.
Para quem duvidasse, ainda ontem tivemos mais uma prova: o equipamento televisivo que ontem não havia para os partidos houve, afinal, para o Primeiro-Ministro.

Vozes do PRD: - Muito bem!