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460 I SÉRIE - NÚMERO 16

a protagonização política do seu partido, do qual o senhor é dirigente, do descontentamento, da indiferença, da descrença nacional entre os objectivos políticos do Governo e o cumprimento das suas promessas?

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Em segundo lugar, o Sr. Deputado João Cravinho, apesar de tudo, diz (e aqui reside uma contradição básica): «não, o calcanhar de Aquiles do Governo não é doutrina, não são os objectivos, é apenas a execução». Por outras palavras, «estamos de acordo com o modelo, com os princípios e com os objectivos, o que está mal é só a execução por parte do Governo do PSD».
Então, Sr. Deputado, eu pergunto: afinal, se é só a execução que está mal, como é que o Sr. Deputado antes critica a ausência de modelo, a ausência de objectivos e a ausência de doutrina? E por isso o Sr. Deputado diz que o Governo não governa, que os assessores não assessoram e que os chefes não chefiam. E a pergunta que lhe faço é esta: e os deputados do PS protagonizam alguma coisa?

Vozes do PSD: - Nada!

O Orador: - Os deputados do PS fazem política? Os deputados do PS assumem o real ou assumem um discurso de frontispício?
Sr. Deputado João Cravinho, a questão básica não é o «estado-laranja» que V. Ex.ª denuncia. O Estado português não é tutelar, não é restritivo das liberdades nem da alternância. Só que a oposição, a partir da sua incapacidade de posicionamento, cria uma ficção em Portugal.
O Sr. Deputado diz ainda que o «estado-laranja» é redutor. Só que o «estado-laranja» é redutor não porque o seja mas, apenas porque alguma oposição não é capaz sequer de protagonizar-se como alternativa. E como não é, cria um artifício, um fantasma, uma ficção - o «estado-laranja».
Mas mais curioso e mais contraditório é o exemplo espanhol. O Sr. Deputado João Cravinho dá como exemplo capaz, em contraponto ao Estado português, ao Governo do PSD, uma imagem de capacidade do Governo espanhol.
E a minha pergunta a um socialista como o senhor é esta: será modelo para si, que é socialista, a criação de uma taxa de desemprego tripla da portuguesa? Será exemplo para um socialista português a pré-figuração de um modelo que talvez tenha racionalizado melhor a sua economia, talvez tenha reestruturado melhor alguns sectores industriais mas à custa de um sacrifício social fortíssimo? Será esse o modelo? Essa é uma dúvida que lhe coloco, porque transpareceu do seu discurso a força do modelo dessa natureza.
Sr. Deputado João Cravinho, compreendo que a sua intervenção deve ter sido das mais dolorosas de fazer, porque é a intervenção de alguém que critica um rol de circunstâncias, não de hoje mas já de há alguns anos, e que curiosamente são verdadeiras... Afinal, o País não encontrou em si e no seu próprio partido uma capacidade de catapultar e de fazer um contraponto àquilo que eram as debilidades do próprio PSD.
Esta sua intervenção é uma clara autoflagelação política da sua parte, ou a si ou ao seu partido, mas acima de tudo é um discurso de auto-expiação. Só o é, celebro-o e saúdo-o.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado João Cravinho deseja responder já ou no final dos pedidos de esclarecimento?

O Sr. João Cravinho (PS): - Responderei no final, Sr. Presidente. Mas quero agora dizer ao Sr. Deputado Ângelo Correia que não falei do Estado espanhol ou do Governo espanhol. O Sr. Deputado está, de facto, perturbado.

Protestos do PSD.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Vieira de Castro.

O Sr. Vieira de Castro (PSD): - Sr. Deputado João Cravinho, V. Ex.ª começou por aludir à duração do mandato deste Governo. Se a questão se põe em termos de que precisam de muito tempo para resolver as vossas questões internas, podem quanto a isso estar tranquilos, podem dedicar-se durante longos e bons anos às tarefas domésticas que o Partido Social Democrata vai dedicar-se às tarefas nacionais.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - O Sr. Deputado João Cravinho referiu depois um pretenso crescendo dos conflitos sociais. Certamente que está mal informado porque, tanto quanto se verifica, o Partido Comunista Português está bem preocupado quanto à evolução do seu índice de capacidade para a mobilização das massas.

A Sr.ª Ilda Figueiredo (PCP): - Deixe isso connosco, Sr. Deputado! Não se preocupe!

O Orador: - O Sr. Deputado João Cravinho falou ainda acerca da indiferença. Tenho dificuldade em situar onde poderá estar a indiferença, e por isso pergunto-lhe: estará, porventura, nos trabalhadores portugueses, que têm visto nos últimos anos os seus salários reais a aumentarem e os seus postos de trabalho assegurados? Será a indiferença dos investidores nacionais e estrangeiros que colhem bons benefícios dos capitais que cada vez mais investem? Será a indiferença da juventude que tem hoje provas de que se está a construir um país que lhes vai dar um futuro que não será pesado? Estará a indiferença, porventura, nos reformados e pensionistas que sabem, com provas, que a sua qualidade de vida é uma das grandes preocupações do Governo?
V. Ex.ª falou também em modernização e creio ter dito que o Governo não seria capaz de modernizar o País. Quanto a isto eu também tranquilizaria o Sr. Deputado.
Veja a dificuldade que as ideias novas têm sentido para perpassar os partidos que precisam de ser renovados. Modernize-se a oposição, que o Governo vai modernizar o País.
Finalmente, uma questão muito cara ao Sr. Deputado João Cravinho, que tem uma especial animosidade em relação à reforma fiscal.